A partir desta semana, respeitando a ordem alfabética, os candidatos à presidência do Fluminense, Carlos Eduardo Cardoso – Cacá – (Flu 2050), Pedro Abad (Flusócio) e Pedro Trangrouse (Verdade Tricolor) terão publicadas a segunda parte de suas entrevistas para o NETFLU. A bola da vez é o mandatário do Conselho Fiscal do Flu, Pedro Abad. Por fim, quarta-feira, Trengrouse fecha a lista de entrevistas, lembrando que Cacá Cardoso já teve suas falas publicadas. Todos tiveram tempo livre para as respostas. Celso Barros e Mário Bittencourt ainda participarão, pois só lançam candidatura nesta e na próxima semana, respectivamente.

Diferente da primeira lista de questões, iguais para todo mundo, agora os candidatos respondem a indagações específicas sobre suas campanhas, relação com o Flu e algumas especulações não totalmente esclarecidas para o grande público. Para acessar a primeira parte da entrevista do candidato da Flusócio, clique aqui.

 
 
 

1 – Você fez uma consulta na corregedoria da Receita Federal, para saber sobre o fato de continuar no serviço público e ser presidente do Fluminense. E te deram uma resposta cheia de condições. Poderia falar quais seriam?

– A primeira é não assinar e não representar o clube diretamente, pessoalmente, perante o poder público. Isso é facilmente contornável quando o clube passa procuração para um advogado fazer essa ação em nome do clube, que já é uma praxe. Nenhum presidente assina efetivamente a petição. Segundo é a questão da carga horária. A resposta foi muito em função do funcionalismo público em geral, mas na verdade minha atuação é desprovida da necessidade de assinatura de ponto. Tenho que cumprir minhas metas, que são produtividade, não assino ponto. Posso trabalhar em qualquer horário do dia, caso queira trabalhar, por exemplo, de meia noite até às 4h da manhã, é permitido, é legal. Isso foi dado por escrito. Tenho uma autorização para exercer a presidência junto com o meu trabalho, desde que eu acate essas restrições. Estou muito motivado. Quem vai sofrer é minha família, mas é uma opção nossa. Tenho certeza que a minha função na Receita e no Flu não serão prejudicados. O torcedor tricolor e sócio pode ficar tranquilo, porque não existe nenhuma incompatibilidade.

2 – Então não há conflito nem no código de ética da Receita Federal?

– Minha consulta foi exatamente nesse sentido, perguntando sobre conflito de interesses e autorização para participar. A autorização foi por escrito, não só pela Corregedoria da Receita como da antiga Controladoria Geral da União, que hoje é o Ministério da Transparência. São duas comissões que me deram autorização por escrito, num processo administrativo que já está arquivo.

3 – No início de sua campanha, você havia dito que iria pedir licença da Receita Federal. Entretanto, agora quer conciliar as funções, tanto no Fluminense como no serviço público. Por que mudou de ideia?

– Porque antes de fazer a consulta, eu tinha dúvidas se existia alguma situação que não me permitisse ocupar os dois cargos juntos. Então, era uma possibilidade, porque se eu tirasse a licença, qualquer conflito que eventualmente existisse, iria desaparecer. Quando a resposta veio no sentido de que eu posso fazer duas, não vi sentido em perder a minha remuneração, porque o presidente do clube não é remunerado e eu dependo do salário para viver. E é normal em presidência do clube: o Peter é advogado, o Horcades era médico. Se eu achar alguma coisa que possa atrapalhar as minhas atividades, eu não vou exitar em tirar licença.

4 – Um dos grandes problemas do futebol brasileiro, para muitos especialistas de gestão, é justamente o fato de não ter um presidente dedicado exclusivamente ao clube. O que você pensa a respeito disso. Acharia interessante mudança de lei ou estatuto que desse a um presidente de clube as mesmas responsabilidades e benefícios, como remuneração, que um presidente de qualquer empresa?

– Primeiro, os clubes de futebol são entidades civis sem fins lucrativos. Isso garante a ele uma série de benefícios fiscais. Mas para ter esses benefícios, você precisa atender uma série de requisitos da lei. Um deles é não remunerar os dirigentes. Então, à priori, é uma questão ligada a uma legislação fiscal. Com a lei do Profut, hoje em dia é permitido que o presidente do clube seja remunerado. Existe um limite e acima disso volta a infringir a legislação. Então, a questão seria mudar a lei, não um estatuto. A legislação precisaria mudar, para fazer com que os clubes não perdessem a isenção ao remunerar seu dirigente. Ou criar uma sociedade específica do futebol, como em Portugal, onde há benefícios e que por outro lado permite ter práticas de remuneração equivalente as de uma empresa com fins lucrativos. Hoje, na legislação brasileira, pode-se remunerar até certo limite. Eu, particularmente, não vou querer essa remuneração, não vou pedir.

5- No início do ano, vazou um áudio seu falando que o presidente Peter mentiu sobre um orçamento. Chegou a gerar algum tipo de desconforto entre você e o Peter? Como foi resolvida essa situação?

– Hoje em dia não existe nenhum desconforto, está muito tranquilo. Quando aconteceu, foi num grupo onde as pessoas estavam até criticando o presidente e o áudio vazou. E eu disse que ele tinha sim conhecimento do que estava sendo feito. Quando eu soube que o áudio vazou, liguei para o presidente, expliquei o que eu queria dizer e não ficou nenhum tipo de aresta ou rusgas. Inclusive, fomos ao jogo contra o Friburguense, na quarta-feira seguinte. Nos damos muito bem. Problema zero.

6 – Pensa se unir com o grupo do Cacá Cardoso? Há conversas nesse sentido? Existe também informação de que o Peter procurou o grupo Flu 2050 para buscar alguém para apoiar. Teve conhecimento sobre isso?

– O 2050 e a Flusócio são grupos que têm muita afinidade. Eu espero que a gente se una lá na frente, porque são grupos que pensam parecido.  Tem membros dos dois grupos conversando sobre pontos do plano de governo. Se o presidente fez esse tipo de contato, acho que é muito útil, muito proveitoso. Vejo o Cacá como uma pessoa excepcional, o conheço de um bom tempo. Vamos acabar num caminho conjunto. Espero que a gente consiga.

7 – Recentemente, você teve um encontro com o Celso Barros, que gerou muitos comentários, até porque a própria Flusócio chegou a fazer um post intitulado “o sabotador”, culpando-o por vários problemas. Em cima disto, qual foi o intuito do encontro e o que foi conversado nele.

– Primeiro, queria dizer que a crítica nunca foi contra a pessoa dele, mas sempre contra um modelo de talvez ingerência exagerado. Eu disse isso ao Celso. Esse encontro foi combinado através de amigos em comum do clube. Não teria porque não encontrar, porque o Celso é uma pessoa que fez muita coisa pelo Fluminense. Dizer um “não” seria até desrespeitoso. Aparamos algumas arestas, inclusive o post “o sabotador”. Ele entendeu. Terminou num clima de total confraternização, não se falou de apoio a “A” ou a “B”. Abriu-se um canal de comunicação muito bom. Muita coisa mútua foi desmistificada. Acho que provavelmente a gente vai voltar a conversar. Esse foi só o primeiro encontro. Não tem muito mais do que isso que tenha ocorrido.

8 – Não descarta a possibilidade de uma junção também com o Celso Barros?

– Apoio a gente só nega quando tem a solicitação de uma contrapartida ruim. Qualquer pessoa que queria entrar nessa vibração, nesse grupo, vai ser bem visto. Ainda mais uma pessoa como o Celso, que prestou muitos serviços ao Flu. Se ele quiser agregar à nossa candidatura, é um prazer grande. Não tem como dizer “não” pra isso.

9 – Um dia antes do desligamento do Fernando Simone, entramos contato com ele, que não nos atendeu. Em seguida, você me ligou (Paulo Brito, repórter do NETFLU), dizendo que tinha uma amizade muito grande com ele e queria saber do que se tratava. Então, te expliquei que tinha a informação de que o Fernando Simone seria desligado do clube. Você disse que eu estava equivocado, salientando que não era esse o posicionamento que tinham passado pra ele. Nesse sentido, acha que houve uma traição de Peter tanto para com o Simone quanto para a Flusócio? O que aconteceu nesse espaço de 24h?

– A Flusócio não defende funcionários que tenham assumido cargos por terem sido da Flusócio. As pessoas se licenciam da Flusócio quando entram em cargos. Defendemos a boa gestão. O Fernando Simone saiu do clube num contexto de mudança de comando do futebol. Saíram todos: Mário, o técnico e o Fernando. Naquele dia que a gente conversou, eu te disse que não estava sabendo disso. Até onde eu sabia, me indicava que ele continuaria. Ninguém nunca me disse que ele seria demitido e eu não fico ali o tempo inteiro atrás e informação. Acho que o clube tem direito de demitir ou manter qualquer tipo de funcionário. Qualquer presidente pode fazer isso. Nem cabe alegar traição aí.

10 – A construção de um shopping center nas Laranjeiras é mesmo uma opção?

– Isso foi uma infelicidade minha muito grande. Aproveito até para explicar como é a vida de um presidente. Ele, às vezes, escuta muita bobagem. Isso porque ele tem que escutar tudo. Tudo o que for de oportunidade, ele precisa ouvir, nem que seja para descartar no momento seguinte. Muitas pessoas falam que vale um dinheirão aquela parte, que tinha que construir alguma coisa, para ganhar dinheiro. Isso é uma ideia. Nenhum presidente tem a pretensão de achar que pode fazer aquilo porque ele quer. Não vai ter shopping ali porque vários poderes vão dizer não. Eu mesmo acho que não é a melhor opção. Foi uma infelicidade. Tem que estudar qual o viés para as Laranjeiras. Vai ser para futebol? Podemos transformar para um local pra base. Hoje a gente joga meio mambembe na base. Transformar aquilo num estádio pra base resolve um grande problema, mantém as Laranjeiras para o que foi feita. Também tem o museu, resgatar o valor histórico daquilo. Para quem pensa em dinheiro, aquilo ali são 80 mil metros quadrados numa área nobre. Alguém tem o direito de pensar e propor que aquilo virasse dinheiro. Você tem que escutar tudo e selecionar aquilo que mais convém ao clube. Nada poderia  partir só de mim. Na época, eu não mexia bem no Twitter, não se consegue desenvolver o assunto, então soou muito pior do que é. Hoje em dia, já sei me expressar melhor e estou mais calejado, para não causar esse mal entendido.

11 – Qual é a sua opinião sobre o scout do Fluminense? Por que é tão difícil acertar na contratação de um jogador que não é tão conhecido de um grande público? Apenas Giovanni, no último ano, acabou conseguindo se firmar, embora atualmente seja pouco utilizado…

– A parte técnica do que é o scout: é um trabalho feito por alguns profissionais de análise de um campeonato. Por posição, eles indicam “x” jogadores que mais se destacaram e analisam a situação contratual deles. E apresentam ao clube, fazendo isso para todas as posições, dizendo quando o contrato termina. A partir disso, o gerente executivo pega essa informação e vai tentar contratar. Às vezes, o mais indicado é caro. Se você fizer isso no futebol espanhol, vai chegar a conclusão de que  melhor meia-atacante é o Messi, o que não ajuda muito. Então, o Scout aponta os melhores, ele não contrata os melhores. Existe o trabalho negocial. Ou seja, as vezes o scout aponta um jogador e o clube não contrata. Eu não sei exatamente como se deu o processo de contratação dos jogadores que vieram em 2015, não estava ali dentro. Um atleta que sei que foi apontado pelo scout foi o Richarlison, que era o número 1 numa análise do ano inteiro. Outros clubes estavam interessados e a gente conseguiu trazer. Agora, das outras contratações, eu não sei te dizer. Deveria perguntar para quem estava lá negociando na época.

12 – O Fluminense teve a saída da Unimed, depois a Viton 44 teve de deixar o patrocínio por problemas financeiros. Por que é tão difícil arranjar um patrocinador hoje para o Fluminense? Quais são os fatores que complicam, já que alguns clubes menores têm patrocínio? (pergunta feita semanas antes de o Fluminense fechar com a TCL por dois jogos)

– A situação da economia do país atrapalha muito, porque a marca Fluminense é muito grande. Quando a marca é muito grande, passa a ter um preço grande para pode lincar sua marca a ela. Conseguir um patrocínio pura e simplesmente é uma coisa. Conseguir um que seja do tamanho do Flu, é outra. Agora, conseguir uma proposta para manter a grandeza do Fluminense e não deprecie a camisa, dentro de um cenário de retração econômica, é muito mais difícil. A empresa que está disposta a investir um dinheiro desse, tem uma pressa que é muito menor do que a nossa. A gente precisa do dinheiro. Ela pode escolher. Quando você diz que outros times têm (patrocínio master), tenho certeza que o valor da marca a ser colocado num clube quem tem menos tradição, envolve muito menos dinheiro. É muito mais fácil uma empresa fazer isso. A visibilidade no Fluminense é muito maior. É uma equação muito difícil de fazer, até que ponto aceita diminuir o valor da camisa. O trabalho que sempre se buscou foi esse, pelo que o Léo Lemos me fala, encontrar um valor bom para a camisa do Flu. Porque a partir do momento que você bota um valor baixo, isso sinaliza ao mercado. E para conseguir de novo a voltar num patamar bom, começa a complicar.  Acho que é por isso. De qualquer maneira, tem muita coisa em andamento que pode chegar a bom termo. O trabalho eu sei que é incansável. Com certeza isso pra mim é ponto principal para resolver, não só master, tem outras propriedades como manga, atrás da camisa, barra da camisa, short. Certamente é ponto um quando eu assumir.

13 – A Adidas pela Dryworld foi um tiro pela culatra, na sua opinião?

– Acho que essa análise tem que fazer em dois momentos. Primeiro quando a proposta foi feita ao Fluminense. A Dryworld era uma marca muito conhecida no ramo dela e estava querendo entrar no futebol.  Fluminense e Adidas estavam num processo um pouco complicado, o Flamengo tinha acabado de entrar na Adidas, além do Palmeiras. Os valores propostos eram extremamente vantajosos. O Fluminense queria uma marca que desse a atenção que ele merecia como player extremamente importante no mercado e a Dry sinalizou para isso. Tentamos fazer isso, tentar algo diferente. Essa explicação foi dada inclusive pelo presidente, numa reunião feita pelo Conselho Diretor, que eu participei. Os valores foram colocados pra gente e eram extremamente sedutores. A gestão do clube tomou esse caminho e desde o início a gente teve dificuldade. O clube pensou desta forma: abandonamos o parceiro a própria sorte ou tentamos dar certo? Se der certo é muito bom. O conceito todo é muito bom. Acredito que o ideal é levar esse processo até um ponto onde se chegue a conclusão de que não dá para prosseguir e a partir daí, sim, escolher um novo parceiro. Não sei onde é esse ponto insustentável para procurar outra solução. O clube precisa estar atento a outras oportunidades para colocar no lugar.