Política e futebol em pauta. O governo do Rio e a Odebrecht negociam um acordo para manter a empreiteira na administração do Maracanã, o que frustraria os planos do Flamengo de assumir a gestão do estádio. Dentro do plano traçado em conversas está um novo projeto de revitalização do entorno do estádio e um acordo com o Ministério Público cuja ação anulou a concessão da arena. Ressalte-se que o cancelamento se deu por acusação de favorecimento à Odebrecht no processo licitatório.

Esse quadro reverte a decisão inicial da empreiteira de deixar o estádio. Agora, a Odebrecht pretende ficar e o governador Witzel sinalizou apoiar a ideia em declarações na quinta-feira. Para isso, terá de ser resolvida a questão na Justiça, o que está em negociação com a procuradoria.


 
 
 

”Nós estamos encaminhando um pedido uma audiência de conciliação. Dei uma lida na sentença e vi que houve um vício formal (da anulação). Agora, devolver o Maracanã para o Rio de Janeiro vai ser mais custoso ao Estado, vai dar prejuízo ao Estado. Vai ser mais custoso do que fazer uma leniência nesse processo que desta forma foi considerado nulo pela Justiça de 1o grau. Estou esperançoso de que vamos conseguir resolver o problema. Aquela região vai ser toda estruturada”, afirmou o governador Witzel, na quinta-feira, antes do sorteio da Copa América-2019.

A anulação da licitação ocorreu por suspeita de favorecimento no processo licitatório de concessão em favor da empresa IMX, que era sócia da Odebrecht. Além disso, investigações da operação Lava-Jato baseadas em delações de executivos da própria empreiteira apontam que houve pagamento de propina para obter a gestão do estádio.

Witzel afirmou que pode ser pago um valor ao Estado. ”Me parece que a empresa está disposta a pagar uma leniência que vai ser muito importante para o Estado porque não podemos assumir o prejuízo”, disse ele, na quinta. O acordo de leniência do Estado com a Odebrecht, no entanto, não envolve o Maracanã, pelo que apurou o blog. Uma outra contrapartida poderia ser negociada.

Durante a campanha, Witzel afirmou que iria retomar as conversas com a concessionária Maracanã para reequilibrar o contrato, mas prometeu envolver os clubes. Não descartou licitação. Só que, em conversa com a antiga diretoria do Flamengo, prometeu realizar nova concorrência, segundo a versão de dirigentes. Sua assessoria não confirma a informação. Agora, ele deixa claro que os clubes são laterais na negociação.

”Os clubes não fazem parte desse contrato. O máximo que vejo que pode acontecer é eles participarem de alguma forma, nesta negociação, nesta mediação, com algum interesse de tentar até eventualmente comprar as ações da empresa, comprar o contrato, não sei nem se tem essa previsão nessa licitação. Como está aberto a mediação, se a empresa entender que não pode concluir as obras projetadas, ela abandonaria em proveito dos clubes nessa negociação. Vejo que é viável, disse ao presidente do Flamengo, presidente do Fluminense. O que percebi é que a empresa está disposta a pagar leniência, e os clubes teriam de fazer acordo para ter os benefícios”, disse, na quinta-feira.

A atual diretoria do Flamengo já tinha recebido a sinalização de Witzel de que não faria nova licitação agora em janeiro. Nesta circunstâncias, dirigentes vão avaliar se há a possibilidade de comprar a concessão ou desistem do estádio. Mas veem a situação como difícil e continuam a defender a concorrência, assim como a gestão anterior.

Atualmente, o clube tem um acordo com a Odebrecht para jogar no estádio pelo qual fica com uma parte pequena da renda de seus jogos. As maiores quantias vão para a concessionária do estádio para cobrir custos da operação.

No projeto da Odebrecht para o novo Maracanã, estão a construção de um shopping e um hotel na área do Célio de Barros, além de áreas públicas. A escola seria preservada. É um projeto diferente do original da Odebrecht que previa uma área comercial ali e foi cancelado com o tombamento do Célio de Barros e do Parque Julio Delamare.

Witzel se mostrou entusiasmado com o projeto em entrevista. Durante a campanha, em debates, o governador usou a suposta ligação de Eduardo Paes com a Odebrecht, já que ele aparecia na lista da empreiteira de caixa 2 como ”Nervosinho”. Eleito, Witzel negocia para manter a mesma empreiteira na gestão do Maracanã.