(Foto: Lucas Merçon/FFC)

Flávio Minuano foi o primeiro 9 que vi jogar. Ao menos o primeiro que esta minha precária memória permite alcançar. Não era um craque, longe disso. Mas tinha uma rara habilidade para encontrar as redes adversárias. Era uma época – lá se vão 50 anos – em que os centroavantes ainda não haviam entrado em processo de extinção. Não havia essa história de falso 9. Cada time tinha o seu 9 e muitos contavam com um reserva do mesmo nível do titular. Os craques (também não eram poucos) quase sempre vestiam a camisa 10, às vezes a 8. Mas lembro-me bem do fascínio que tinha pelo tal fazedor de gols. Aqueles que, segundo o grande locutor Waldir Amaral, vestiam a “camisa que tinha cheiro de gol”.

 
 
 

Cresci assim. Admirando os craques, mas celebrando sempre os artilheiros. Os habilidosos e os que passavam todo o tempo brigando (com os adversários e com a bola). Mickey, Manfrini, Doval, Claudio Adão, Ézio, Washingtons (o do Casal 20 e o Coração Valente), Romário, Fred. Cada um com seu estilo, todos me fizeram gostar um pouco mais de futebol. Nunca entendi as críticas que alguns recebiam. Assim como nunca entendia quando via um botafoguense criticar Túlio, um rubro-negro detonar Nunes ou um vascaíno falar mal de Roberto Dinamite (como jogador, que fique bem claro). Achava um pecado vaia-los.

Do time do Fluminense atual, pouca coisa se aproveita, sobretudo depois das contratações estapafúrdias deste meio de temporada. Mas a camisa 9 continua despertando fascínio. Graças ao talento de Pedro, um jovem de 21 anos, que tem honrado a tradição de grandes artilheiros do clube. Imaginem se cultivasse o hábito de andar em melhores companhias dentro de campo… Mas isso não depende dele.

No que dependia, ao menos neste primeiro turno, ele cumpriu. Seus gols garantiram nove dos 23 pontos conquistados pela equipe até agora. Só o lateral Gilberto teve importância semelhante. Mas Pedro marcou mais vezes e suas atuações o levaram à seleção brasileira. Fizeram surgir também o interesse de alguns clubes do exterior, embora as duas propostas conhecidas estejam muito aquém do valor da multa rescisória. Não sei até quando essa diretoria pires na mão vai resistir ao assédio. Mas o fato é que Pedro é a maior conquista do Fluminense nos últimos anos.

Além do apurado faro de gol, é inteligente na movimentação dentro da área, sabe proteger a bola como poucos e tem uma habilidade rara para um jogador de sua estatura. Talvez não tenha o tempo que outros tiveram para se transformar em ídolo da torcida. Talvez não tenha tempo para entrar na galeria dos grandes artilheiros do clube. Mas, representa, ao menos a esperança de que a fábrica de Xerém volte a produzir qualidade em quantidade.

Ave, Pedro. A camisa 9 resiste.