A paralisação do futebol brasileiro por conta da pandemia do COVID-19 trouxe diversas incertezas ao futuro dos clubes e dos atletas. Preocupados em como farão para pagar os salários dos jogadores com a escassez de receitas, a Comissão Nacional dos Clubes busca um acordo com os Sindicatos dos atletas para definir o que fazer durante esse período.

Em entrevista exclusiva ao NETFLU, Alfredo Sampaio, presidente do sindicato dos atletas do Rio de Janeiro, falou sobre o assunto, a vontade dos atletas, o posicionamento da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) e também admitiu uma certa urgência para uma resolução boa para ambos os lados.


 
 
 

Confira, na íntegra, o bate-papo com Alfredo Sampaio:

NF: Você acompanhou as críticas dos dirigentes do Sindicato de Atletas de São Paulo, falando que o ideal primeiro seria os clubes pagarem o que devem para depois pedirem uma redução salarial dos atletas? Compartilha desta ideia?

AS: Aí tem dois momentos. A gente tem que ter uma certa… o sindicado de SP foi expulso da FENAPAF (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol). A postura da FENAPAF é discutir os problemas diretamente com os dirigentes. A gente não vem a público expor ninguém, isso tem que ser em off. Débitos são um fato, faz parte da discussão. Como a gente pode pensar em percentual de desconto se há salários devidos? Mas a gente não tem por modelo ir na imprensa criticar e tentar  fazer um acordo com os clubes. Nós estamos num momento que não tem cenário perfeito. Tanto os clubes como atletas, alguém vai perder, ou melhor, todo mundo vai perder. Hoje não adianta buscar culpados, certos ou errados. Estamos tentando coordenar uma situação porque está difícil pra todo mundo. É preciso manter um diálogo em alto nível, sem meter o pau nos outros.

NF: As medidas estudadas são universais ou pretendem escaloná-las, adequando-as de um jeito para os clubes de menor porte e de outro jeito para os mais ricos?

AS: Não tem como se discutir dessa forma. Todo mundo está com salário atrasado. O que a gente está imaginando é que o mês de março seja cumprido, porque a maioria dos contratos estarão acabando. Agora a sequência do calendário dos que vão jogar série A, B e C está mantido à princípio, por isso não discutimos isso agora. Tentamos fazer com que seja feito o pagamento integral pelo menos de quem jogou os estaduais.

NF: Confiante em uma resolução ainda este mês?

AS: Não considero o mês. Tem que ser o mais rápido possível. O que tem que se definir é nos próximos dias. É uma situação ruim para todos os lados. Os atletas precisam saber em termos financeiros o que vai acontecer, assim como os clubes.

NF: Alguns clubes foram contra a paralisação do Carioca como o Flamengo e os pequenos e outros à favor como o Flu e o Botafogo. Nesse sentido, é difícil entrar em consenso entre os próprios clubes para que se resolva essa situação de maneira rápida?

AS: Temos que discutir uma decisão a nível nacional. O problema que existe no Fluminense, às vezes, não existe em outros e assim por diante. As proposta dos clubes pra gente fazem parte do Conselho Nacional de Clubes, criado pela CBF e que tem o Mário Bittencourt como porta-voz. Então, eu entendo que todos os clubes estão sendo ouvidos a partir deles. Sobre a interrupção do Carioca, aquele momento ali de uns quererem e outros não, acredito que muitos ali não estavam cientes ou conscientes da gravidade desse vírus. Os atletas tinham medo jogar depois, por conta do que acontecia ao redor do mundo. A maior prevenção é realmente foi tirar a circulação das pessoas e parar os jogos. Mais uma semana poderia fazer a diferença, mas o bom senso prevaleceu.

NF: A FERJ tem se posicionado em todo este contexto?

AS: A FERJ, como eu falei, faz parte de um grupo formado comigo e representantes de clubes e trocamos ideias. Assim como tem outro grupo com federações e CBF em que o diálogo é mantido, mas não chega a ser uma discussão oficia. A gente se manifesta, conversa, mas o que vai definir é o posicionamento dos clubes, que já foi colocada, e dos atletas. Temos que chegar num denominador comum e a volta aos trabalhos vai depender muito da curva da epidemia.