Bem-vindo Diniz e três jogadores que o Flu tem interesse em primeira mão

Foto: Mailson Santana/FFC

“ Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as ideias” Victor Hugo (Pensador)

 
 
 

Fernando Diniz deu uma excelente entrevista logo no início do seu trabalho no Atlético-PR.

Dali, vê-se que há boas ideias. E mais: Há uma capacidade de externar conceitos pouco vista nos profissionais de futebol. Indubitavelmente estamos falando de um cara intelectualmente acima da média.

No Fluminense atual, com a obtusidade que nos cerca, com os nomes que nos gerem, isso é muito.

Vamos a algumas partes:

Trabalho em três pilares

“A primeira situação a pensar é na formação de um bom ambiente facilitador para que as relações humanas ocorram de maneira positiva. A segunda é muito trabalho tático. É preciso apostar nisso. E tem uma terceira coisa que também é muito importante, buscar sempre intensidade nos treinamentos.”

Muito bom. A dobradinha Relações Humanas/Intensidade nos treinamentos (treino é jogo) é a chave do sucesso do modelo. Pra jogar como Diniz propõe é absolutamente necessário encontrar um grupo disposto ao aprendizado e que não tenha aversão às críticas e medo de errar, porque a cobrança acaba sendo muito grande.

O outro pilar é a parte tática. Ora, se a gente buscar as quatro vertentes de um time de futebol encontraremos a técnica, a tática, a física e a psicológica. É muito claro que o elenco mais técnico não será o do Fluminense porque jogador técnico é caro. É absolutamente fundamental aperfeiçoar as outras três e a melhora na parte técnica acaba sendo consequência.

O trabalho de base do Fluminense (e de quase todo futebol brasileiro) forma pra jogar em transição, portanto, nesse início tudo vai ser diferente e novo.

Sobre jogar em transição, Diniz também fala sobre o futebol brasileiro:

“O que temos aqui, se você for ver na prática do nosso jogo, olhando para os últimos campeonatos, está todo mundo jogando em transição. Ninguém quer a bola. Todo mundo tenta se defender bem para usar o contra-ataque para vencer os jogos. Sempre na transição defesa-ataque.”

Aqui Diniz resume o que é a essência do futebol brasileiro pra ele e como ele quer que seu time jogue e eu vou poupá-los de comentar embaixo porque concordo plenamente com o que ele disse.

“Eu não sei porque as pessoas acham tanto que organização no futebol serve só para defender. Claro que se organizar na fase defensiva é muito mais fácil do que quando você tem a bola. Dá muito trabalho ter a bola. Você tem que criar espaços, enfrentar linhas mais baixas… Quando isso acontece, você acaba se expondo mais. E no Brasil isso é ir contra a norma. Existe uma preferência para todos jogarem de uma forma mais conservadora. Você se protege melhor. Eu acredito que dois pilares fazem o futebol brasileiro caminhar para trás. A cultura do povo é de gente leve, a matéria prima ainda tem jogadores mais ousados, verticais, com bom drible, que sabem jogar com aproximação, serem criativos… E isso está na cultura do nosso povo. Os jogadores do futebol brasileiro, de uma forma mais geral, são oriundos de famílias menos favorecidas financeiramente. São caras que passam muito tempo na rua praticando futebol sem nenhuma inibição pois não tem um adulto monitorando as regras do jogo. Então a gente tem esse tipo de atleta e a gente está colocando ele para praticar um jogo com prioritariamente organização defensiva. Você precisa criar espaço para estimular a criatividade do jogador. E aí ele não cumpre de maneira satisfatória esses quesitos. O menino sonha ser jogador para jogar futebol. Não é porque ele quer marcar e jogar em transição. Isso é a contramão do que, principalmente o jogador brasileiro, sonha fazer quando é garoto. Avaliando de uma maneira mais profunda, eu tento, no geral, resgatar esse lado lúdico. Tentar trazer de volta o prazer que todo mundo teve de jogar futebol um dia. Todos estes jogadores já foram o melhor da escola ou da rua. Então se criam estruturas que favoreçam estes comportamentos para um jogo bem jogado. Sempre pensando em ter um time mais competitivo.”

Como todos os que buscam uma mudança no status quo, Diniz é alvo de deboches e brincadeiras. Não é fácil romper paradigmas. Sobre isso vale a pena ler o ensinamento do treinador holandês Raymond Verheijen:

“No mundo do futebol, a maioria das pessoas quer proteger o status quo tradicional porque tem medo de se equivocar. O mundo do futebol não gosta das pessoas que questionam as demais porque isso incomoda e ninguém gosta de se sentir incomodado. Obviamente, falta fazer muitas coisas de maneira inteligente no futebol.”

Até aqui está tudo certo, mas boas ideias não bastam pra que um trabalho de treinador num clube de futebol dê resultado.

Além de ideias é preciso uma metodologia correta, que permita a seus comandados o aprendizado do modelo. Tomada de decisão rápida em espaço curto, intencionalidade do passe, organização ofensiva, perde-pressiona, linhas altas (defender espaços grandes).

Esse modelo de jogo requer tudo o que o futebol brasileiro não fornece a seus treinadores: Tempo. Essa escolha, com a qual eu concordo, exige muita convicção dos gestores de futebol, dos dirigentes e paciência do torcedor.

Outra lenda relativa a esse modo de jogar é que só times com craques podem fazê-lo. É justamente o oposto. Assim que o time consegue atingir a compactação necessária fica mais fácil pra todo mundo. Jogar aproximando, criando conexões e através de passes simples chegar a gol.

O Betis, pra falar de um time que está longe de ser um gigante, usa um modelo que busca esse protagonismo do jogo e vem sendo bastante competitivo.

Eu gostei da escolha. Acho que o Fluminense hoje é um clube desinteressante, que joga um péssimo futebol há anos e que entra 2019 sem dar nenhuma esperança pro seu torcedor.

Diniz já é um acerto apenas pela curiosidade que irá gerar. Pra mim é mais que isso, porque eu defendo o modelo, sou um entusiasta da busca incessante por jogar um jogo bem jogado.

Espero apenas que essa escolha seja o início de um processo de criação de uma identidade no modo de jogar do Fluminense. Por isso, não me agrada a escolha do Leo Percovich pra Comissão Técnica Permanente. Quem acompanha o sub 20 treinado por ele, é incapaz de enxergar traços desse modelo por ali.

Mais uma das muitas antíteses de uma gestão perdida, desgastada, que se preparou apenas para ganhar a eleição, mas não tinha nenhum projeto pro Fluminense.

Que a política fratricida, recheada de incompetentes e despreparados do Fluminense não atrapalhe o trabalho do nosso novo treinador.

TABELINHA

– Três jogadores que interessam que a Flupress descobriu:

Agustín Doffo – 23 anos, meia, canhoto, alto, pouco veloz, da Chapecoense. Esteve no plantel da Chape em 22 jogos do brasileiro, foi titular em 11 (jogou os 90 minutos em apenas quatro jogos), reserva utilizado em quatro e em sete jogos não entrou, fez três gols, nenhum passe pra gol. Foi utilizado por dentro, como meia pela direita e como meia pela esquerda (por aqui como não é veloz funciona menos).

Yony Gonzalez – 24 anos, destro, Junior Barranquila, atacante, alto (1,84), forte, fez o primeiro gol de Junior na final contra o Atlético-PR. É rompedor, não é técnico. Em 46 jogos no Junior Barranquilla, foram sete gols e um passe pra gol, o que dá um Percentual de Poder de Decisão (gols  e passes dividido pela quantidade de jogos) muito baixo de 17,39%.

Yuri – 24 anos, volante, que jogou com o Diniz no Audax. Joga de primeiro volante e é muito parecido com os vários que temos aqui no Brasil, corre, toca de lado, nada que tenha chamado a atenção. Está praticamente encostado no Santos, tendo jogado apenas seis jogos no Campeonato Brasileiro. Como também é novo, aposta-se na evolução do jogador, no entrosamento com seu ex treinador e, de repente, numa mudança pra zaga pra fazer a saída de bola tão importante no modelo e proporcionar rapidez nas coberturas.

– Próximo post eu vou falar de como cada posição é importante neste modelo de jogo.

– Agradeço demais ao convite do Leandro de abrigar a Flupress e, obviamente, ao Gustavo por me chamar pra fazer parte desse projeto. Sou um fã do site, acho que o NETFLU presta um serviço extraordinário ao torcedor tricolor.

– Um Feliz Natal a todos e um ano novo repleto de coisas boas. E muito obrigado a todos pelo carinho com que vocês (quase rs) sempre tratam a mim e ao Gustavo.