Ex-atleta do Fluminense nos anos 90 e em 2002, Valber retornou ao Tricolor em 2017 para integrar um projeto de desenvolvimento de jovens jogadores em Xerém, exercendo um trabalho técnico específico de correção de passes, gestos e melhorias de fundamentos com a molecada. No entanto, acabou demitido em 2018.

Em entrevista exclusiva ao NETFLU, o ex-jogador soltou o verbo sobre sua demissão, criticando veementemente “o homem que se intitulava dono das categoria de base do Fluminense” e afirmando que foi tratado como “um bosta qualquer” no clube em que teve três passagens como atleta e ajudou a tirar da 3ª divisão. Confira, na íntegra, a entrevista:

 
 
 

NF: Por que você foi demitido do Fluminense? 

V: O homem que se intitulava dono das categoria de base do Fluminense simplesmente me mandou embora. Eu estava fazendo o meu trabalho e ele me demitiu. Depois disso, falaram que iriam resolver os débitos financeiros comigo e não me pagaram nada até hoje. Por isso botei na Justiça.

NF: Quem era esse dono? 

V: Prefiro não falar o nome, mas todo mundo sabe de quem eu estou falando. 

NF: Se sentiu desrespeitado pela maneira como fora demitido? 

V: Eu joguei no Fluminense três vezes na minha vida. Tirei o Fluminense lá da Terceira Divisão com a ajuda de outros companheiros. E, quando aceitei o convite do Torres para auxiliar os moleques da base nos fundamentos básicos, fui tratado lá como se fosse uma bosta qualquer. Davam mais valor para quem mexia no computador do que para quem tinha experiência com a bola.  

NF: Você ficou quase dois anos trabalhando no clube. E já tem mais ou menos esse período que foi demitido. Não tentaram fazer nenhum acordo contigo?

V: Não tem acordo, não. Ninguém quis fazer acordo comigo, simplesmente viraram a cara. Eu procurei acordo, tentei resolver inúmeras vezes. Perdi as contas de quantas vezes fui ao RH. As pessoas me ignoraram. Simplesmente o grande problema do futebol é gente que nunca chutou uma bola e quer mandar em tudo. Eu recebia uma mixaria do cacete, ia longe pra caramba (Xerém), mas estava lá porque eu gosto de trabalhar. Esses estudiosos estão tendo mais chances do que quem jogou 20 anos no futebol profissional, em clubes grandes. O Fluminense está nessa situação por causa dele, que se intitulava o dono da base. É engraçado que passo o tempo e as mesmas pessoas seguem no clube.  

NF: O presidente atual, Mário Bittencourt, tem conhecimento do seu caso?

V: Me falaram que o presidente atual é um cara legal, que está querendo levantar o Fluminense de novo, mas infelizmente não veio falar comigo. Acho que, para o clube, o meu caso não interessa. É mixaria. Não tem porque me procurar para tentar renegociar, na cabeça deles. 

NF: Sua saída teve relação direta com a saída do Torres?

V: O Torres que fez esse convite pra mim. É um cara do bem. Ele tem boca e não fala nada, porque tem o nome dele a zelar. Mesmo todo mundo gostando dele, o mandaram embora. Não sei o que dizer. 

NF: O que tira de lição dessa experiência que teve no Fluminense? 

V: Fiquei quase dois anos e estou há dois anos desempregado desde que saí do Fluminense. O clube serviu pra mim para poder voltar a ter contato com futebol, trabalhar. Depois que o Fluminense fez isso, perdi até o pensamento de trabalhar no futebol mais. Essa bagunça só vai acabar quando tirar esses malandros de lá e colocar gente que se preocupa com o clube de verdade.

NF: Sei que você é tricolor de coração. Depois que foi demitido do Flu, ainda assim, seguia acompanhando os jogos do clube? 

V: Não, não. Juro que não. Não tenho gosto nem pra assistir a jogo, apesar de ser tricolor. É tudo mentira o que aparece, nego é mentiroso, não fala o que quer. Tem uma porrada de nego safado aí no futebol e isso deixa a gente desanimado. Você joga futebol 20, 30 anos na sua vida e chega um cara lá com um computador, que nunca pisou num campo e quer mandar em tudo.

NF: Acha que Fred, Ganso e Nenê possam render juntos?

V: Eu comecei na carreira de treinador, fui ao Flu fazer um trabalho de zagueiro e não deu certo e não me sinto à vontade, neste momento, para opinar sobre ninguém. Não cabe a mim falar de A ou B.

NF: Como era o seu dia-a-dia em Xerém e qual trabalho desempenhava de fato?

V: Meu dia-a-dia quando eu cheguei no Fluminense era mostrar aos garotos como bater na bola, posicionamento, cabeceio, voltado para os zagueiros. Eu joguei em todas as posições do meio para trás e em clube grande. Na minha cabeça, muita coisa eu guardei e poderia mostrar para os jogadores da base do Tricolor, mas preferiram me tirar. 

NF: Arrepende-se de ter aceitado o convite de trabalhar na base do Fluminense? 

V: Me arrependo, mas não pelo Fluminense e nem pelo torcedor. Eu fui com um pensamento e aconteceu outra coisa. É muita panela que tem lá. Eu chegava trabalhando, fazendo o meu que sabia fazer não era reconhecido. No meu período no Flu, teve uma Taça RS que eu não fui porque o cara que mandava lá disse que tinha que dar moral para outras pessoas. Teve uma Taça SP que nem falou nada comigo. Não era prestigiado em nada. 

NF: Como era a sua relação com o Marcelo Teixeira? 

V: Minha presença não interessava a ele. Lembra do Léo Percovich? Sabe o que ele falou comigo uma vez? “Pelo teu trabalho, sua história no clube, você está ganhando muito pouco”. E eu respondia que estava tranquilo, porque tinha minhas coisas por fora, investimentos meus. Quando ele me falou que iria falar com o pessoal que o salário estava muito baixo, sabe o que ele me disse? Ele falou pra mim que o salário estava muito bom porque ele estava me segurando lá. Essas pessoas (diretoria de Xerém) falaram que eu só estava lá por causa dele (Léo Percovich). E você vem me perguntar como era a relação deles comigo? Eles não conversavam comigo. Porra nenhuma! Não tinha respeito nenhum. Esquece. 

NF: Mesmo sem ver os jogos, consegue torcer pelo sucesso do clube?

V: Eu sou torcedor do Flu como eu te falei. O Fluminense é muito grande, é uma instituição. Tenho o maior carinho. Não me interessa ver o Fluminense na pior. Eu quero é que ele cresça. Muita gente não sabe disso, o que se passa, as coisas que acontecem lá dentro, mas torço pra tudo evoluir. 

NF: O que tira de positivo de sua experiência em Xerém? 

V: A amizade que fiz com alguns jogadores. Acabei conhecendo ali garotos que ainda estão muito longe da realidade do futebol, de saber o que rola nos bastidores. Me respeitavam e isso era muito legal. É o que a gente guarda, esse tipo de carinho.

NF: O que mais marcou como jogador profissional do Flu?

V: Jogando profissionalmente é outra parada. Marcou muito a minha estreia no Fluminense, a amizade. O Torres, que me acolheu depois que eu saí do São Cristóvão. O pessoal do Fluminense me recebeu muito bem. Até essa conquista da terceira divisão, que muita gente torce o nariz, me marcou. Os jogadores que estavam lá foram importantíssimo.

NF: Comando de Parreira na Série C

V: Foi fundamental para tirar o Fluminense da lama. A primeira coisa que o Parreira fez no Fluminense foi mudar o vestiário, fazer uma sala de musculação grandiosa. Só a comissão técnica que o Parreira levou para lá assombrava clubes que estavam na primeira divisão: Américo Faria, doutor Lídio Toledo, Luisão… era de primeira qualidade para o Fluminense. Só um cara com a capacidade e moral que teve o Parreira para poder levantar o time. 

NF: O Fluminense pode beliscar algum título nesta temporada? 

V: Vai depender do treinador (Odair Hellmann), que tem até boa vontade. É um cara gente boa, batalhador. Acho que o futebol é muito dinâmico, motiva a gente por conta disso. As coisas não dão certo num momento e depois começam a dar certo. Acho que o time está no caminho certo.