(Foto: Divulgação/FFC)

Ex-vice de Projetos Especiais do Fluminense, Pedro Antônio foi o principal responsável pela construção do Centro de Treinamento do Tricolor, localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Desligado do clube em 2017, ainda na gestão Pedro Abad, o ex-dirigente agora acompanha a situação do clube de fora, como torcedor que sempre foi. Em entrevista exclusiva ao NETFLU, PA falou sobre o CT, as eleições e se tem mágoa do ex-presidente tricolor por ter sido exonerado. Confira, na íntegra:

NF: O senhor foi procurado desde que saiu do Fluminense para tratar a dívida de cerca de R$ 7 milhões que o clube tem contigo, relacionada a construção do CT?

 
 
 

PA: A respeito disto, desde a minha saída do Fluminense em junho de 2017, nunca mais ninguém falou sobre assunto. Não houve um e-mail, Whatsapp, nada. Eu acho que eu não preciso procurar, porque evidentemente todos sabem, está na contabilidade, até porque era um assunto que politicamente a nova gestão usou. Tanto que até se preocupou com a mudança do nome.

NF: Mudança do nome do CT te deixou magoado?

PA: Na época, não comentei nada. E continuarei sem comentar sobre isso.

NF: Aprova as mudanças que têm sido feitas no CT desde a sua saída?

PA: É impossível opinar, porque na prática eu só sei das coisas que aparecem em fotos. Tinham muitas coisas quase ficando prontas e não finalizaram. A sala de imprensa estava pronta, só faltavam os quadros para a decoração. Estávamos esperando ser entregues. Pelo que eu soube depois, informalmente, virou um depósito o espaço e colocaram a sala de imprensa no auditório. O segundo andar, que era para toda a administração funcionar, faltava apenas a instalação do ar-condicionado, o piso… era cerca de R$ 225 mil para terminar. Estava tudo instalado já. Fiquei sabendo que sucatearam o forro para fazer revestimento de parede, divisórias, enfim… mas cada gestor sabe o que faz.

NF: Estaria aberto para voltar ao Flu, caso Mário Bittencourt precisasse de você?

PA: A minha ajuda sempre foi ao Fluminense, não para as gestões do Fluminense. Quando eu virei vice-presidente na época do Peter, foi para eu ter agilidade junto aos órgãos públicos. Eu sou um torcedor, sócio do Fluminense e queria ajudar. Mas isso de cargo pra mim nunca foi importante. O importante era ajudar o Fluminense. Eu sempre digo que agradeço ao Flu por ter me deixado ajudar o clube. Se amanhã eu puder ajudar, ajudarei. Mesmo depois de ter sido demitido pelo presidente Abad, eu agilizei o processo de licenciamento da rua do CT, concluí e entreguei à gestão na época para que fosse executado. Eu fui ver os equipamentos uma vez no CT, porque todas as máquinas de uso nos campos, inclusive retroescavadeira, eram minhas. Eu tinha emprestado antes mesmo da construção do CT. Mas o gestor do CT disse que não queria mais máquinas minhas emprestadas gratuitamente. E, nesse dia, vi que estavam cometendo erros de utilização do uso de materiais no aterramento da rua nova (Oscar Cox). Orientei como poderia ser feito. Mas não sei se seguiram.

NF: Houve uma reconciliação com Abad após sua exoneração?

PA: Conversei com ele diversas vezes. Sempre estive à disposição. Não tem essa de ficar zangado, magoado. Posso ter meus sentimentos, mas se for pelo Fluminense, eu passo por cima.

NF: Se arrepende de não ter se candidatado no ano passado?

PA: Apesar de muita gente não acreditar, eu só queria ajudar o Fluminense. E não precisava estar em cargo eletivo no Fluminense. Em 2016, me impediram e na última hora não me candidatei. Eu não preciso ser presidente para ajudar o clube, e todas as coisas que eu fiz provam isso.

NF: Como avalia a gestão Mário Bittencourt até o momento?

PA: É um assunto que eu não comento, porque eu nunca fiz análise da gestão do Peter, nem do Abad. Acho que o dia-a-dia é diferente do que a gente pensa. Não vou falar o que penso em público. Guardo pra mim, para evitar interpretações políticas.

NF: O senhor tinha alinhado com órgãos públicos um projeto de estádio, aproveitando materiais utilizados nas Olimpíadas, lá no Parque Olímpico. A ideia foi barrada, porém, criticada tanto por correligionários do atual presidente como do mandatário anterior. Eles estavam certos?

PA: Acho que a pluralidade das opiniões faz parte até do momento político. Até porque o ser humano é um ser vivo. Isso faz parte do normal do mundo. Tem muitas coisas que as pessoas têm seus ideais. Todo mundo quer um estádio, eu acho que o Fluminense precisa ter um estádio que possa ser usado na maior parte dos seus jogos, seja no Brasileiro ou Estadual. Em 2016 eu vi as ideias do Peter (apoiando Abad), que queria um estádio perto do Via Parque. Aqueles terrenos foram propriedade do Fluminense no passado, não era nem concessão, diferente do estádio do Flamengo, na Gávea. Na mesma eleição, o outro candidato (Mário Bittencourt) havia já acertado tudo, na época, tinha um projeto de estádio e precisava assumir a presidência para executar. Ele virou presidente anos depois e não aconteceu nada. Se é no Gasômetro, Barra, Centro, nada saiu do papel. Lá no Parque Olímpico, eu vinha estudando a ideia do que apresentei desde 2015. Eu acompanhei a construção do Parque Olímpico, os espaços disponíveis e não comentava para ninguém politizar. Eu expliquei sobre o estádio depois para o Abad. O Peter, que é amigo do Eduardo Paes, ficou ciente. Quando foi em 2017, o Abad, já presidente, sabia que eu estava em busca do projeto e que tentava alinhar com a Prefeitura. Acabou que o lado político foi maior do que a razão. Era uma oportunidade única. Em 2018 voltou o assunto, daí o Peter me procurou dizendo que o Abad queria que tocasse o projeto. Então, tive uma reunião com o prefeito, que estava disposto a ceder a área, me reuni com secretário de urbanismo e outros políticos importantes. Na mesma semana, teve reunião do Abad com o pessoal da reforma das Laranjeiras e as coisa mudaram. Ele sabia que o prefeito havia nos dado sinal verde para tocar o projeto de estádio no Parque Olímpico. Ele mudou de ideia entre terça e quinta-feira. Dali, deixei a história de lado. Vida que segue.

NF: Qual é a sua opinião sobre o afastamento de Celso Barros, eleito vice-presidente do Fluminense, do futebol?

PA: Essa pergunta deve ser feita para o doutor Celso. Agora eu queria te fazer uma pergunta: pelo que eu li na mídia, o estatuto foi modificado pelo Conselho Deliberativo, unificando a vice-presidência de futebol com a geral, não? Fica a curiosidade. Mas, se valeu a alteração, acho que a vice-presidência de futebol ainda está debaixo do braço dele. Prefiro não comentar mais.

NF: Possibilidade de concorrer às próximas eleições?

PA: Não. Zero chance. Não tenho nenhum pensamento sobre isso. Quero só ajudar quem está com dificuldades nesse momento no coronavírus. Amanhã, quem quiser me encontrar, estarei no Macro com um caminhão de mantimentos e vou entregar para os pobres em comunidades.

NF: Pode falar mais sobre essa ação? O senhor recebe e ajuda de alguma empresa?

PA: 100% do dinheiro é meu. Tem até um grupo de torcedores oferecendo. Mas sou eu que faço, carrego. O pessoal da Amoedo me empresta o caminhão. O resto sou eu e minha filha. Somos basicamente só nós, sem pedir dinheiro pra ninguém. Na verdade, fisicamente não dá para outros ajudarem também, ainda mais com essa questão de restrição de pessoas, acaba tendo essa limitação. Então, não estou nem pedindo ajuda de outras pessoas, devido a esse isolamento social. Eu estou voltando às comunidades para continuar abastecendo. E espero que com a ajuda financeira do governo aos mais pobres, as pessoas passem menos aperto.

NF: O senhor já tem quase 70. Não tem medo de pegar o vírus mesmo fazendo parte do grupo de risco?

PA: Já estou nos 70, mas acho que estou mal acostumado. A minha mãe vai fazer 100 anos em setembro e espero ficar mais uns 30 anos na arquibancada. De resto, só tenho saído de casa pra fazer essas ações, de máscara, tomando todos os cuidados possíveis.