Em nova postagem em seu blog, a Flusócio se propôs a comentar sobre o mercado de transferências. O principal grupo político de apoio à administração Pedro Abad explicou em que momento o direito econômico é utilizado, admite que vendas acontecerão, assim como eventuais reposições e pediu tranquilidade ao torcedor do Fluminense. Confira abaixo, na íntegra:

Como funciona o mercado de atletas?


 
 
 

Estamos em plena janela de transferências e, nos últimos dias, aconteceram várias especulações e sondagens, em cima jogadores de vários clubes. É algo normal, inerente ao negócio futebol, mercado onde a venda de direitos econômicos sobre jogadores constitui uma das mais expressivas fontes de receita.

Também é normal a gritaria dos torcedores quando seus times de coração cogitam vender atletas, afinal, torcedor geralmente só percebe o aspecto esportivo e não considera a preocupação em pagar as contas do seu time, isso é papel das diretorias. São também bastante comuns as inúmeras avaliações sobre quanto vale cada atleta, recheadas de subjetividade, como se o preço dos DEs fosse determinado pelo clube vendedor e não pelo mercado.

Ao fazer propostas, clubes compradores ou seus agentes avaliam fatores relevantes como sua capacidade de investimento, idade do jogador, destaque recente, histórico extra-campo, histórico de lesões, biótipo físico, polivalência de posições, expectativa de crescimento e principalmente convocações para as seleções brasileiras de base e principal. Também influi bastante o interesse do atleta em se transferir.

O preço de mercado também depende da posição em campo: por isso atacantes e meias, posições que exigem maior condição técnica, são sempre mais valorizados que volantes, zagueiros e goleiros, por exemplo.

Também é importante entender que o clube tem percentuais de direitos econômicos diferentes de cada jogador. São informações públicas, obrigatórias por norma do Conselho Federal de Contabilidade, divulgada nos balanços anuais das instituições esportivas. Os balanços do Flu ficam no site oficial, menu Transparência.

Raramente um determinado clube detém 100% dos DEs de um atleta, pois a maioria dos que chegam oriundos dos trabalhos de scout e observação técnica são frutos de parcerias entre o clube comprador e outros clubes formadores (ou seus agentes representantes).

Quando se ouve falar que o Flu detém 50% dos DEs de algum atleta significa que, no momento da contratação, optou-se por dividir o risco do jogador não dar certo, pagando menos que o clube de origem pedia, mas oferecendo em contrapartida a divisão do possível lucro numa revenda. Isso aconteceu, por exemplo, na contratação do Richarlison junto ao América-MG.

Em muitos casos, o Flu conseguiu não pagar nada pela vinda do atleta, mas se comprometeu a dividir o lucro numa revenda. Isso aconteceu, por exemplo, na aquisição do Gustavo Scarpa, ainda em idade juvenil, junto ao seu ex-clube, o Desportivo Brasil.

Cessões de percentuais de DEs também são rotineiramente usados pelos clubes em renovações de contrato de atletas, para que não sejam obrigados a dar aumento tão substancial de salários quanto aquilo que foi pleiteado. Na prática funcionam como elementos de negociações com jogadores, agentes, clubes parceiros e família dos atletas.

Também é comum que, em momentos mais abastados, clubes comprem parte dos DEs de atletas mais promissores que estavam em posse de parceiros. Aconteceu, por exemplo, no caso Gerson, pois meses antes de vender o jogador para a Roma, o Flu comprou os 10% que o pai do atleta detinha, totalizando 70%.

Desde o início do mandato, o Presidente Pedro Abad tem sido muito transparente, deixando claro à torcida que o Flu terá que negociar atletas neste ano.

Mas até o momento o Flu não negociou ninguém a não ser o lateral Aílton para o Estoril e o atacante Samuel para o seu clube atual no Oriente Médio. Foram negociações oportunas, de jogadores que não estavam mais nos planos, mas os valores não resolvem os problemas de caixa do momento.

Importante também observar que a negociação do Ailton foi realizada com o artifício chamado “sell on”, ou seja, o Flu não negociou todos os 60% de DEs que detinha. Manteve 15%. Isso significa o seguinte: se hipoteticamente Ailton for revendido no futuro pelo Estoril para o Benfica por alguns milhões de euros, o Flu terá direito a 15% deste valor.

Ao longo do ano de 2017, o Fluminense já recusou algumas propostas por Richarlison (mais de uma), Scarpa, Wendel e outros. É preciso reconhecer que a diretoria está seguindo à risca a promessa de valorizar nossos ativos e não se submeter às primeiras ofertas, mesmo diante de toda dificuldade financeira do momento. Mas quem vai determinar até onde essa corda estica é um conjunto de fatores, dentre eles a percepção do mercado para o investimento, a necessidade financeira imediata do nosso clube e os possíveis leilões entre clubes compradores que desejam os atletas do Flu.

É importante o torcedor entender que não adiantaria ter um time promissor em campo com salários em atraso, pois isso enfraqueceria nossa competitividade. Bem como não adiantaria somar pontos no Campeonato Brasileiro e perdê-los por não pagamento do PROFUT, algo que pode acontecer pelas novas regras da CBF. Desempenho esportivo e saúde financeira são engrenagens totalmente encadeadas, que precisam andar juntas.

Fomos informados que a questão técnica estará sendo considerada pela diretoria na estratégia de vendas de direitos econômicos nesta janela de transferências, e que algumas reposições pontuais também poderão chegar. Mas não deve haver nervosismo se o Flu tiver que vender alguns jogadores para fazer caixa. É algo normal. Até mesmo os clubes mais abastados do país negociam atletas para se financiar, e o assédio em cima de nossos jogadores apenas mostra a força do nosso elenco, reforçando a vocação do Flu como formador de talentos.