Rodolfo foi emprestado ao Fluminense pelo Oeste-SP (Foto: Divulgação - FFC)

Um dos novos goleiros do Fluminense, Rodolfo já passou por alguns problemas extracampo ao longo de sua carreira. Há seis anos, por exemplo, foi flagrado no antidoping e foi suspenso por dois anos. Em 2015, ele fez um relato à ESPN, onde comentou sobre os acontecimentos após o uso de cocaína ter sido descoberto.

Confira: 

 
 
 

“Sou de Santos e sempre joguei futsal e também campo. Jogava no campo do Portuários e futsal no Gremetal. Num campeonato, um olheiro do São Paulo me viu e convidou para fazer testes lá. Eu passei e acabei ficando três anos. Atuei junto com Oscar, Lucas, Casemiro e Wellington, somos todos mais ou menos da mesma idade. O primeiro campeonato que disputei no sub-15 foi no Japão, e foi o que mais me marcou. Eu era são-paulino na infância, então para mim foi mais especial ter vestido as cores do clube.

Gosto muito do Rogério Ceni, ele é uma inspiração. Por isso, hoje eu treino de 40 a 50 faltas depois dos treinos todos os dias. Nunca tinha tido a oportunidade de bater uma profissionalmente. Aqui na Ferroviária eu pude cobrar umas e no último jogo quase fiz um gol no Guaratinguetá. A falta foi no ângulo, mas o goleiro tirou, fiquei com raiva. Mas méritos dele, que fez uma grande defesa.

Com 14 anos, eu já bebia, e com 15 fui direto para a cocaína, não passei por nenhuma outra droga. Isso me acompanhou até dois anos e meio atrás.

Depois do São Paulo, fui para o Paraná, e com 17 anos fiz minha estreia no profissional. Joguei Série B, Estadual e Copa do Brasil. O técnico Paulo Comelli me colocou para jogar e fui pegando confiança, com as boas atuações.

Nisso fui contratado pelo Internacional e foi muito bom passar por lá. Eu era profissional e desci para atuar no time B com o Ricardo Goulart, e era comandando pelo Enderson Moreira. Fomos campeões do Brasileiro sub-23 e consegui atuar com o Inter B no Gaúchão. Fomos campeões de um torneio na Itália da mesma categoria. Fiquei só um ano, mas não via muitas oportunidades porque tinham goleiros de nome, como Abbondanzieri, Lauro e Muriel. Então, acabei acertando com o Atlético-PR.

Em 2011, eu era terceiro goleiro no time principal e descia para atuar no sub-20. Depois que os dois titualares se machucaram, eu assumi a titularidade no profissional. Joguei Paranaense, Copa do Brasil e nove jogos da Série B. Até cair no exame antidoping…

Foi o pior período da minha vida. Ali, achei que a minha carreira tinha acabado.

Houve momentos em que achei que ia morrer por causa da droga. Já fui treinar drogado, sem ter dormido nada. Teve dias que eu achei que ia morrer treinando assim, porque ia para o CT sem descansar ou dormir, com o corpo cheio de drogas. O maior perigo é ter uma parada cardíaca e perder o bem mais precioso que eu tenho, que é a vida.

Eu usava quase todos os dias, e só parava antes de concentrar e quando ia jogar. Mas, logo que o jogo acabava, eu ia buscar cocaína antes de voltar para a casa.

O Atlético-PR me deu um suporte muito grande, não esperava que um clube iria me oferecer ajuda num caso desses. O clube foi muito humano comigo, me ajudou em tudo que eu precisava e sou eternamente grato a eles.

A maioria das pessoas diz que foi um azar eu ter caído no antidoping, mas eu penso que foi muita sorte. Se eu tivesse o azar de não ter sido flagrado, estaria bebendo e usando drogas até hoje, e minha vida estaria de ponta-cabeça. Eu não ia poder ajudar meus filhos. Hoje, aprendi a ser um pai e um ser humano de verdade. Ter caído no doping foi um aprendizado muito grande para poder reconstruir minha vida.

Fiquei três meses internado numa clínica fechada, só saía aos finais de semana para ver meus filhos e minha família. Depois disso, passei mais um mês fechado no CT e em seguida fiquei mais de um ano só treinando, sem poder jogar.

Minha rotina era treino atrás de treino, psicólogos e ver minha família. Eu até hoje converso muito via Skype com o Dionísio Banaszewski, psicólogo do ‘Furacão’. Fiquei um ano e meio sem jogar. A princípio era pra ficar dois anos fora, mas com os recursos que o Atlético-PR tentou, mais acabei cumprindo menos.

Mesmo sabendo que poderia cair no doping, eu não conseguia parar. O dependente químico não consegue parar sozinho, precisa de um suporte e ajuda da família. Mas depende só dele, porque não adianta ter tudo isso e ele não ter força de vontade. Ele precisa querer.

O que eu tenho de mais importante hoje na minha vida é a minha carreira no futebol, porque é com ela que eu dou suporte para a minha família e os meus filhos. Hoje eu valorizo muito meu trabalho. Eu todo dia ajoelho e agradeço a Deus pela oportunidade que tive novamente. Sou católico, mas vou à igreja só uma vez por mês.

Em 2014, fiz minha reestreia pelo Atlético no Paranaense. Caíamos na semifinal, naquele time que tinha o Adriano ‘Imperador’.

O Adriano é um cara de coração muito bom, ele é amigo de todo mundo, brinca com todos, mas só que tem um problema parecido com o meu. O problema dele com a bebida é complicado, ele procurou ajuda, mas acabou não dando certo. O Atlético ajudou muito, mas acabou não dando certo, infelizmente…

Ele é um cara muito bom de coração, que quer ajudar todo mundo, mas só que ele não consegue se ajudar. A gente conversava muito, quase todos os dias no CT e os psicólogos do clube também. Ele é super humilde, bom de grupo, será sempre bem acolhido.

Já fiz algumas palestras sobre a minha experiência e tive a oportunidade de participar de um evento com o Casagrande em Cascavel-PR, em um projeto do Sesi. A troca de experiências foi legal, algumas histórias parecidas de vida.

Eu tinha muita vergonha de falar sobre o meu problema, achei as que as pessoas iam me julgar mal. Mas hoje em dia falo numa boa, porque a gente não pode ficar escondendo, sou portador dessa doença que é a dependência química, e não tenho que ficar escondendo de ninguém. É importante divulgar, para que ajude a quebrar o preconceito e isso possa ajudar as pessoas que passam pelo mesmo problemas que passei”.