conca2Já são mais de dois anos no futebol chinês. Neste tempo todo, o que analisa como o de melhor e o de pior em atuar aí?

– Acho que o melhor nesses anos foi poder acompanhar de perto o desenvolvimento do futebol local com as contratações de grandes jogadores, como Drogba, Anelka, Vagner Love etc. O nível do futebol praticado aqui cresce com a chegada desses atletas e de alguns profissionais, como o nosso técnico Marcello Lippi, campeão mundial com a seleção da Itália. O que ainda falta para o futebol chinês é a organização das ligas regionais. O calendário apresenta algumas falhas nas datas, é comum ficarmos cerca de 20 dias sem jogar no meio da temporada. Se avançarmos para as semifinais da Liga dos Campeões da Ásia, podemos ter jogos de três competições diferentes marcados no mesmo dia. Alguns pontos como esses precisam ser corrigidos nos próximos anos.


 
 
 

Em termos de preparação física, o ritmo é outro ou também é intenso?

– A distância entre uma cidade e outra aqui na China é muito grande e torna nosso deslocamento um pouco mais cansativo. O ruim das concentrações aqui é a alimentação, pois se torna um empecilho para nós a comida chinesa. Mas, depois da chegada do Marcello Lippi, nossa dificuldade nesse ponto diminuiu, porque ele começou a pedir que a comida italiana fosse mais usada nesses períodos. Com a chegada do Lippi nossa preparação física também evoluiu bastante. Os treinos são mais intensos e a preparação para as partidas é muito superior. Essa diferença é refletida claramente no Campeonato Chinês, já que estamos brigando pelo terceiro título seguido, com 14 pontos de vantagem para o segundo colocado. Fato que não se repete na Liga dos Campeões da Ásia, que possui equipes fortes da Coreia do Sul e do Japão, com jogadores e treinadores estrangeiros, tornando a competição mais equilibrada.

O que o fez querer sair da China há alguns meses? E por que continuou? Como resolveu tudo?

– Meus primeiros meses aqui na China foram complicados. O clube era comandado por um treinador coreano e ele não me colocava para jogar. Ele tinha na cabeça dele que eu era muito importante para entrar em campo e correr riscos de me lesionar, então ele achava mais seguro me poupar de jogos do Campeonato Chinês e da Liga dos Campeões. Aconteceram jogos de estarmos vencendo por 2 a 0, ele me tirava do jogo e o time sofria a virada nos minutos seguintes. Alguns jogos ele vinha e conversava comigo, dizendo que ia me poupar de um jogo porque não achava necessária minha participação, só que ao mesmo tempo todos os titulares iam para a partida. Sempre fui muito profissional e nunca deixei de treinar ou me recusei a entrar em campo por causa das decisões deste treinador, mas isso influenciou diretamente no meu desejo e de minha família em retornar antes do término do contrato. Além disso, tive problemas com a casa que o clube me deu para morar. Tinha uma obra em frente à minha casa que deixava meu apartamento sem luz e água por algumas horas. A sala e os quartos ficavam com muita poeira por causa da construção, e isso afetava diretamente meu filho Benjamin. Esse transtorno vinha causando um grande desconforto em mim e em minha esposa, que não estava se sentindo feliz aqui na China. Felizmente essas coisas foram superadas e consegui desenvolver meu futebol pelo Guangzhou.

Seu filho, Benjamin, está lidando diretamente com a cultura chinesa, e você também. O que aprenderam de novo?

– O Benjamin está se adaptando bem, nasceu aqui e já está acostumado ao clima da cidade. Contratamos uma menina chinesa para ajudar minha esposa com ele aqui em casa, e ele se dá superbem com ela e consegue entender quase tudo o que ela fala, como quando ela fala para ele ir para o banho, comer ou para de fazer alguma brincadeira. É engraçado porque em casa a empregada fala chinês, eu espanhol e minha esposa português. Todo dia ele fica aqui no play com as outras crianças do prédio brincando e se dá bem com todo mundo. Trouxemos alguns DVDs infantis do Brasil para deixar passando para ele aqui em casa e ele adora todos.

Passaram por alguma história curiosa?

– O que mais deixa eu e minha esposa desconfortáveis aqui na China com o Benjamin é quando ele tem algum probleminha de saúde, como febre ou dores de barriga e queremos levar ao médico. Os médicos começam a conversar entre eles sobre meu filho em chinês e nós não entendemos nada e ficamos ansiosos querendo saber o que está acontecendo. Temos que esperar chegar um tradutor para explicar o que está acontecendo com nosso filho. Isso não aconteceria se fosse no Brasil ou em outro país que conhecêssemos o idioma.

A Liga dos Campeões da Ásia pode ser uma chance de jogar o Mundial de Clubes. Em 2008, você também ficou perto de tal chance, indo à final da Libertadores. Acha que é possível tal objetivo com o Guangzhou?

– O título da Liga dos Campeões da Ásia é uma possibilidade real que temos nessa temporada. Temos que melhorar algumas coisas ainda na equipe para buscar esse título, mas acredito que estamos no caminho certo. A competição possui equipes fortes da Coréia e do Japão e jogadores experientes. Nossa boa participação no Campeonato Chinês não significa que somos favoritos na Liga. O nível é totalmente diferente e as equipes são mais fortes. Seria bonito terminar minha passagem aqui na China conquistando todos os campeonatos da temporada, principalmente a Liga por ser o único que ainda falta para o clube.

Sobre um possível retorno ao Fluminense em 2014: quem sente mais falta um do outro?

– Eu sinto muita falta do Fluminense. É um clube pelo qual aprendi a ter um carinho muito grande e onde vivi momentos especiais. Foi pelo Fluminense que passei pela minha melhor fase na carreira e sem dúvida jamais vou esquecer isso.

Chegou a ser especulado como opção do Flamengo para o meio de campo. Jogaria no clube ou consideraria traição com o Fluminense?

– Eu tenho um respeito grande pelo Flamengo e por seu torcedor. Sempre fui muito bem tratado por todos após os jogos e nas ruas da cidade. O jogador de futebol deve ser profissional em qualquer clube que atuar, dar sempre seu máximo em campo e honrar a camisa do time que estiver defendendo. Não tenho problema com quem joga por dois clubes rivais, acho um sinal de que o jogador é profissional e fez bem seu trabalho. Mas todos sabem que tenho uma identificação muito grande com o Fluminense e que minha preferência sempre foi retornar ao clube.