Carlos Portinho é torcedor declarado do rival

Desde o mês passado, o Fluminense tem um substituto definitivo de Mário Bittencourt, que entregou o seu cargo no final de 2016 para concorrer à presidência do clube. Rubro-Negro de passado recente atuante na Gávea, conselheiro e ex-vice jurídico do Flamengo, Carlos Portinho, representará o Tricolor nos tribunais esportivos. Funcionário de um escritório de advocacia administrado por Deborah Macintyre, torcedora do Flu, onde está em vias de se tornar sócio, o profissional foi destacado para defender as três cores que traduzem tradição. Por conta disto, segundo informações do Fluminense, ele se “licenciou” de suas funções de conselheiro do clube rival.

O NETFLU entrou em contato com o Flu para questionar se as relações de Portinho com o arquirrival  poderiam gerar um desconforto. Em nota enviada com exclusividade ao portal número 1 da torcida tricolor, o clube explicou a contratação de Carlos Portinho, que também já prestou serviços para o Atlético-MG e Cruzeiro:


 
 
 

– A atual gestão do Fluminense Football Club preza pela profissionalização em todos os departamentos. O clube está sempre em busca dos melhores especialistas para funções estratégicas que influenciam diretamente no cotidiano da Instituição. Carlos Portinho trabalha no escritório Stockler Macintyre e é um dos nomes mais respeitados do direito desportivo. O advogado já prestou serviço para diversos clubes do país e assessorou o Fluminense em temas imprescindíveis. Portanto, a Instituição corrobora a sua anuência e o seu objetivo de praticar uma gestão profissional, transparente e eficaz

Apesar do nome do advogado já ser uma realidade desde o início de abril, a confirmação pública da contratação de seus serviços só aconteceu na última terça-feira, através do presidente Pedro Abad, em entrevista ao canal Esporte Interativo. A partir daí, diversos torcedores pesquisaram sobre a vida pregressa do advogado, descobrindo sua relação recente com o Flamengo.

Na ocasião da conversa com os jornalistas do programa “Jogando em Casa”, ao ser perguntado se aceitaria Mário Bittencourt trabalhando novamente para o Tricolor, Abad respondeu:

– Acho que não vejo problema nenhum numa pessoa bem intencionada, que tenha serviços a prestar, venha eventualmente a trabalhar com o Fluminense. Nesse momento a vaga de advogado de direito esportivo está ocupada. Não faz sentido tirar e colocar outra pessoa. Até porque a pessoa que está lá hoje, o Portinho, é um excelente advogado, vem cumprindo com as obrigações.

Deborah Macintyre comemorou o fato de seu escritório ter sido contrato pelo Fluminense (Foto: Reprodução Facebook)

Também no início do mês passado, em postagem na sua conta pessoal do Facebook, Carlos Portinho explicou que, por um tempo, havia largado o direito desportivo para se aventurar na vida política. Chegou a ser secretário de meio ambiente e assessor de Índio da Costa, candidato nas últimas eleições à prefeitura do Rio. Posteriormente, atuou na secretaria de habitação e deixou o cargo para se dedicar ao Fluminense.

Foi candidato a vereador com o número 55555, no ano passado, ressaltando a veia rubro-negra, participando, inclusive, de programas voltados aos torcedores do clube rival, para alavancar sua campanha. Ele vestiu o número 55 do Fla, em alusão ao seu partido.

Postagem feita na conta pessoal de Carlos Portinho, no Facebook (Foto: Reprodução Facebook)

Confira o vídeo da entrevista do novo advogado do Flu como candidato rubro-negro à Câmara dos Vereadores:

Outro caso emblemático envolvendo Carlos Portinho foi na ocasião após a demissão por justa causa do zagueiro Renato Silva, em 2007. Na época, o jogador foi flagrado no exame antidoping com THC (tetrahidrocanabinol), substância ativa da maconha, após fazer o teste da urina depois da derrota do Fluminense para o Volta Redonda, por 3 a 2, na segunda rodada da Taça Guanabara. Um dos advogados do atleta, Portinho ajuizou processo contra o Tricolor e a Unimed, no qual o clube de Laranjeiras saiu vencedor. Naquela oportunidade, o staff jurídico do defensor cobrava R$ 8 milhões do Flu por danos morais, em virtude da justa causa.

Portinho (à esquerda) foi um dos advogados de Renato Silva (à direita) no processo contra o Flu, em função da demissão por justa causa do jogador em 2007 (Foto: Reprodução Internet)

Mas nada é tão simples quanto parece no futebol. Em qualquer outra área, o fato de ter opções diferentes das dos companheiros de trabalho não interfere tanto na aquisição de um profissional. Já no esporte mais popular do mundo, no Brasil, a paixão, via de regra, gera ruído. E o Fluminense reflete o contexto nacional neste sentido, sobretudo por apresentar exemplos de “perseguição” a ex-torcedores, confirmados ou não, de outros clubes que trabalhassem nas Laranjeiras. Exemplos recentes não faltam.

Um assessor de imprensa já foi demitido do Fluminense ao ser descoberto uma tatuagem em seu corpo referente a uma torcida organizada vascaína.

O ex-diretor geral Jackson Vasconcelos, então braço direito de Peter Siemsen, era rotulado de ser torcedor cruzmaltino. Mais recentemente, por anos de serviços prestados ao Flamengo, Pedro Trengrouse, que se lançou pré-candidato à presidência do Fluminense, sofreu diversos ataques políticos por conta de seu passado no clube rival.

A grande questão é se Portinho terá a tranquilidade para trabalhar que outros não tiveram num passado recente, dado o histórico ou suspeitas de relacionamento com equipes rivais.