A relação entre o Fluminense e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) fora conflituosa nos seis anos de gestão do presidente tricolor, Peter Siemsen. Inconformados com a maneira pela qual o mandatário da entidade, Rubens Lopes conduzia os principais temas referentes ao futebol carioca, tanto o Tricolor como o Flamengo resolveram se rebelar, sobretudo nas últimas temporadas. A criação da Primeira Liga, por exemplo, teve papel fundamental da dupla, que buscava uma alternativa mais rentável de competição. No entanto, os desentendimentos públicos foram postos de lado, pelo menos, temporariamente: o Fluminense deixou acertada a renovação dos direitos de transmissão do Campeonato Estadual no período de 2017 a 2022. Embora a alta cúpula vibre com o cenário e não enxergue traição com o Flamengo, conselheiros do clube entendem a postura como uma traição à instituição, devido a todos os problemas de relacionamento com Rubinho.

Especula-se, nos bastidores do Tricolor, que uma fatia do dinheiro que envolve todo o pacote de contratações recentes venha, em parte, das luvas do novo contrato: R$ 22 milhões. Além disso, o Fluminense, que se uniu aos outros clubes, incluindo rivais políticos como Vasco e Botafogo, receberia, anualmente, R$ 18 milhões da emissora pela exibição dos jogos do Estadual. A ação foi comemorada pelas pequenas equipes, enquanto que o Flamengo não aceitou os moldes, batendo o pé não só por conta dos valores, mas também por todo o panorama de regras, supostamente ignorados pela direção do Tricolor, pensando no poder de barganha que teria no futuro. O presidente do rival, Eduardo Bandeira de Melo, explicou recentemente à coluna De Prima, do portal Lancenet, o porquê de não ter entrado no mesmo balaio.

 
 
 

– Como o dinheiro chega, como é distribuído… Se vai descontar 10% das rendas… Contrato tem que ser bom para todas as partes. Se não for bom para o Flamengo, a gente não assina. Aí eles passam Barra Mansa x Quissamã – disse.

Entende-se nas Laranjeiras que a postura da presidência fora um tiro no pé de toda a luta abraçada pelo próprio Peter Siemsen contra a Ferj. Antes de se discutir cota, acreditam que deveria ser discutido o formato e todo o contexto onde o Fluminense ficará inserido nas competições estaduais, a partir do ano que vem. Mais um fator a ser analisado é que nenhuma das 12 equipes que participaram da primeira edição da Primeira Liga tinha acertado a sua renovação de contrato de exibição dos campeonatos locais, até então. O próprio CEO da Primeira Liga, José Sabino, afirmou, ainda sem conhecimento da postura do Fluminense, que ninguém havia assinado. Em conversas com o NETFLU, o presidente Peter Siemsen admitiu, há duas semanas, que optou pelo fechamento do negócio porque entendeu ser vantajoso para todos. Extraoficialmente, o que fica é a questão: o Fluminense roeu a corda? Para o homem forte do clube tantas vezes campeão, não existe quebra de confiança na relação com o Flamengo. Ele reiterou que a luta paralela por cotas não chega a ser novidade.

– Só para você saber, sempre foi avisado sobre a questão das cotas. Desde o primeiro dia isso foi deixado claríssimo – falou, em entrevista ao NETFLU.

O interessante é que para o CEO da Primeira Liga, a demora num acordo com a federações locais seria de fundamental importância para negócios futuros envolvendo a competição independente. A ideia era, além de tudo, asfixiar entidades estaduais, obtendo uma melhor participação no que tange a criação de regras para otimizar torneios e regulamentos.  José Sabino, ao portal da ESPN Brasil, confirmou que a estratégia poderia ser usada como pressão.

– Pode, sim, mais ou menos isso – ressaltou.

O fechamento do contrato, tendo a ciência das 17 datas do Carioca para a temporada seguinte, incomoda até alguns aliados do presidente.

– Como se expande o número de jogos da Primeira Liga se o presidente abre as pernas para a Ferj, em prol de um ‘dinheiro fácil’, sem pensar a longo prazo? – indagou um conselheiro do grupo político de situação Flusócio, que não quis se identificar.

Numa hipotética classificação à Libertadores, por exemplo, seria inviável que o atual campeão da Primeira Liga participasse da segunda edição do torneio com o time principal. Vários membros do Conselho Deliberativo têm acompanhado com lupa toda a questão, que transcende uma simples ideia financeira ou de trégua. No acordo com a Globo e Ferj, o Fluminense teria tido também a promessa de abatimento das dívidas com a entidade, além de uma maior tranquilidade no trato com seu presidente, Rubinho. Por sinal, no dia 8 de junho, Peter Siemsen e Ruben Lopes desistiram dos processos (seis ações no total) de um contra o outro, que tramitavam no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ambos cobravam indenização por danos morais.

Como num passe de mágica, toda a briga, ao longo dos últimos meses, ficou pelo retrovisor. O que era tempestade entre Fluminense e Ferj, agora está perto de se tornar raio de sol. O passado recente, porém, expõe feridas:

Sem mencionar a nota oficial do Fluminense, no início do ano passado, onde o clube chegou a citar Chico Buarque, para ironizar a Federação do Estado do Rio de Janeiro:

Assim que o contrato for oficializado, haverá um requerimento de informações ao presidente do Conselho Deliberativo. Cerca de 10 conselheiros já têm a ideia do texto alinhavada. As principais queixas de quem é contrário à postura do Fluminense vai em direção ao alinhamento quase inexistente sobre os desdobramentos do Estadual e, sobretudo, pela maneira como a instituição fora tratada, segundo eles, por Rubinho. E se aparecer na regra que os valores dos ingressos serão definidos pela entidade? E se as taxas permanecerem as maiores do Brasil, como bem lembrou o presidente do Fla, Eduardo Bandeira de Melo? Todos os questionamentos fazem parte de uma extensa lista que não casa com a atitude do Tricolor, para algumas das principais figuras políticas das Laranjeiras.

Procurada pela reportagem do NETFLU, a Ferj evitou dar maiores detalhes, mas confirmou alinhamento com o Fluminense nas questões das cotas.