Metinho e Kayky em ação pelo sub-17 do Flu (Foto: Lucas Merçon/FFC)

Que tal se a gente pensar pela ótica do City?

Dois jogadores promissores, de um clube sul-americano cheio de dívidas, com histórico de vender barato e com o pires na mão. Evidentemente que os executivos do clube inglês trabalharam com uma palavra, acima de todas as outras: oportunidade.

 
 
 

Sob a ótica do Fluminense, o termo também esteve na ordem do dia. Quinze milhões de euros em dois garotos que ninguém sabe se um dia virarão realidade.

Oportunidade daqui, oportunidade de lá. Provavelmente os dirigentes dos dois clubes saíram satisfeitos da negociação. Os ingleses aceitaram o risco de pagarem o valor sem a certeza de que Metinho e Kayke se valorizarão; os brasileiros aceitaram os valores com a mesma dúvida.

A diferenciar os dois clubes o abismo financeiro entre eles. É o poder do dinheiro ditando as regras de compra e venda e dando diferentes significados para o termo oportunidade.

Não é possível que exista algum tricolor que acompanhe minimamente a rotina do clube que acredite que não é necessário vender jogador. É mais que necessário, é vital.

Mas se não podemos discutir a necessidade de venda, devemos discutir suas circunstâncias.

Entre City e Fluminense quem teria que assumir maiores riscos? O gigante europeu para quem o dinheiro sobra, ou o gigante brasileiro em situação pré falimentar?

Sobram nas redes sociais exemplos de jovens jogadores vendidos por valores muito mais altos. E há um padrão nessas vendas: todos jogaram nos times de cima por um tempo.

A venda de um sub-17 sem passar pelo time principal fere a lógica de existência de um clube grande. E nem falo mais sobre a questão do orgulho, mas da distopia de assumir que o time de cima pode atrapalhar o desenvolvimento dos jogadores.

Porque, amigos, se houvesse a certeza de que se valorizaram no profissional, não venderiam os frutos ainda verdes.

Então, no fim das contas, estamos falando de algo que está passando batido nas discussões sobre as vendas dos meninos: não há projeto de valorização dos jogadores da base no time de cima.

Todos compreendem esse ponto que está escondido por trás de falácias como “o jogador quer sair”, “talvez saia de graça” ou “o problema é a lei”?

Mais do que fazer um bom ou mau negócio sob o viés financeiro (quem pode cravar?), o que me chama a atenção é a total falta de alinhamento entre a expectativa de formar bons jogadores e fazer com que essa formação dê frutos no time profissional.

O dinheiro da venda dos atletas será usado para pagar dívidas, evitar penhoras, acertar salários de veteranos (que seguem sendo especulados), renovar com atletas de baixa entrega e pagar altos salários de funcionários administrativos que permanecem no clube gestão após gestão.

Além, é claro, de financiar os Esportes Olímpicos, um eterno manancial de votos para as eleições.

Com uma base tão promissora, a aposta seria num projeto, com P maiusculo, para formar um time com um DNA jovem, com treinador acostumado a subir garotos, com uma espinha dorsal que pudesse recebê-los.

É possível! Não deixem que as velhas desculpas nublem suas visões!

Prepara o terreno, projeta com método, sobe os meninos, bota pra jogar, valoriza e… Vende, para reinvestir a cada vez mais poder esticar a corda.

Mas a realidade é trazer Roger Machado (que não tem histórico de trabalhar com a base), contratar mais veteranos, renovar com Hudson e Caio Paulista e, é claro, se desfazer dos garotos mais talentosos.

Mas só os bons. Para os fracos – e com bons empresários – a gente arruma vaga no sub-23.

Vocês já viram este filme. É reprise.

Falta coragem ao presidente do Fluminense para romper com o modelo. Romper com o modelo! Fico aqui pensando como ele se sente vendo duas joias da base, que chegaram a jogar no profissional, sendo titulares do maior rival. Nem isso serve para reflexão?

Ele é bom de desculpas e ruim de ações. Certamente está feliz com a venda. Ou as vendas, no plural.

Afinal, melhor 15 na mão do que a dúvida se seriam 10 ou 50 mais na frente.

E assim, sem assumir riscos, seguimos adiante, vendo pelo retrovisor as mentirosas promessas da campanha que levou Mário Bittencourt ao trono, de onde vê de cima o torcedor esperando mudanças e recolhendo migalhas.

Obrigado por nada, meninos. Boa sorte. A gente se vê num Fla X Flu qualquer dia desses.

Abraços tricolores!