Foi muito bom

 
 
 

Tá bom, é o Campeonato Carioca. O Americano, assim como todos os pequenos, é um time fraco, limitado.

Nessa mesma rodada aqui no Rio, o Flamengo empatou com o Resende, depois de ganhar um jogo duro com o Bangu domingo ajudado pela arbitragem. O Botafogo já jogou duas vezes com pequenos e só fez um ponto. Em São Paulo, o Corinthians também só fez um ponto em dois jogos e até o Palmeiras, com um trabalho de mais tempo e time entrosado, suou pra ganhar de 1 a 0 do Botafogo de Ribeirão Preto.

Portanto, é sim, digna de aplausos a atuação do Fluminense na última quinta. Contra time mais fraco, se joga assim: com controle, protagonismo, não deixando o adversário respirar, sair do seu campo.

E, pra isso, você precisa de um time bem arrumado.

Em primeiro lugar nas coberturas defensivas, onde Ibañez foi um grande destaque. Veloz, atento e muito bem posicionado, foi fundamental nas coberturas, ainda mais que joga ao lado de dois jogadores lentos e que são um risco alto pra esse jogo em linha alta: Airton e Matheus Ferraz. Ontem funcionou, não houve escapada de jogador de velocidade que nos deixou em risco.

O time também soube, após o gol, sair jogando com a bola no chão mesmo pressionado, o que proporcionou o segundo gol do Yony (ótima estreia) e outras oportunidades.

E, principalmente, o time soube criar situações de perigo com aproximação e trocas de passe no terço final do campo com Luciano, Danielzinho e Everaldo.

O futebol hoje não permite que apenas um jogador seja o responsável por crias situações. Acabou a era do volante que marcava, tocava pro meia, o meia abria no ponta, que cruzava pro centroavante. O futebol atual não permite mais esse tipo de rótulo.

Analisemos o primeiro gol. Defesa dos caras toda postada. Everaldo pega a bola e carrega pra dentro (carrega demais, é verdade, e daqui a pouco falo disso), carrega, carrega e chega no meio campo. Danielzinho está ali do lado esperando o passe, passe dado, Luciano afunda na defesa dos caras, recebe e toca de primeira para a chegada do mesmo Everaldo (por dentro) pra finalizar. Golaço. Gol construído a partir da mudança de posicionamento dos dois jogadores de lado de campo que criaram a superioridade numérica por dentro. É uma das ideias do modelo.

Pouco antes, Yony acerta uma bola na trave numa bola metida por Luciano, como meia, e que desde a mudança de posicionamento no jogo contra o Volta Redonda subiu de produção, inclusive com grande ajuda na fase defensiva e de recuperação pós perda.

O Fluminense de Diniz já é o time que mais acertou passes no campeonato. E a comparação de números entre o primeiro e esse jogo revelam uma boa evolução.

O Fluminense acertou 534 passes contra o Volta Redonda, com 70% de posse de bola. Ontem, um jogo diferente, em que abriu o placar foram 448 passes certos e 57% de posse.

A efetividade, porém, melhorou muito. O percentual de trocas no terço final foi de 23% pra 25% ontem. As finalizações certas saltaram de 4 para 9, fruto de jogadas mais bem trabalhadas. Por fim, das 13 finalizações do Fluminense ontem, 12 foram trabalhadas com passe pra finalização, inclusive todos os gols. No primeiro jogo, das 19 finalizações, houve apenas 7 passes pra que elas ocorressem, o resto foi fruto de jogadas não trabalhadas.

A quantidade de passes errados do quarteto ofensivo Calazans (5), Daniel (5), Everaldo (2) e Luciano (5) foi de 17. Ontem Luciano (2), Daniel (3), Everaldo (1) e Yoni (1) erraram 7.

A quantidade de perdas de posse de bola do quarteto também baixou. De 16 perdas, Everaldo (8), Calazans (5), Daniel (2), Luciano (1) para 13, Yoni (4), Daniel (2), Everaldo (4) e Luciano (3).

Há algumas coisas a corrigir:

– Airton precisa perder peso e apurar a forma física. Apesar de ser o nosso principal passador, da metade do segundo tempo pra frente não tem mais fôlego pra se apresentar nas saídas de bola e complica muito porque ele é o cara que faz esse apoio. Se a gente pegar as maiores interações entre jogadores, Airton é o que mais trocou passes com Ezequiel, Ibañez, Danielzinho e Bruno Silva. Ou entra em forma, ou realmente é tempo de testar opções de jogadores mais móveis pra fazer essa função, fundamental nesse processo.

– Everaldo precisa soltar mais a bola, mais rápido e de primeira. Carregar a bola pra cima dos caras é só quando há espaço pro drible. Com o adversário postado é toque curto e projetar pra receber. Entregou um gol assim no primeiro jogo, porque em todas as bolas domina e dá uma penteada. Ontem Mascarenhas passou algumas vezes em condições de receber e ele prendeu.

– Tanto Zé Ricardo no primeiro jogo, quanto Bruno Silva ontem foram muito discretos. E isso praticamente mata as jogadas pelo lado direito.

– Ezequiel e Mascarenhas podem vir mais pra dentro aproximando dos 3 homens de meio e deixando os “pontas” abertos pro 1 contra 1.

– Matheus Ferraz não faz pela esquerda o papel de Ibanez pela direita e não é veloz pra cobrir os espaços.

A hora ainda é de ajustes, testes e muito trabalho. E se tem uma coisa que venho percebendo nesse grupo é a disposição para o aprendizado e o gosto pelo estilo. Jogar com a bola no pé é muito agradável.

Afinal, ninguém mata aula, foge pra rua, mente pros pais, inventa mil desculpas pra ficar perto de uma bola e ser o bobinho da roda.

Tabelinha

– Marcelo Teixeira deu uma entrevista falando do natimorto Projeto Samorin. Samorin é e sempre foi uma piada. Samorin foi feito para que um monte de jogador que, inexplicavelmente, ainda possui contrato com o clube continue na folha do Fluminense sem dar nenhum retorno técnico ou financeiro. Samorin não existe como conceito. Ninguém evolui como futebolista na segunda divisão da Eslováquia jogando pelada (aquilo é ambiente de pelada) todo domingo. A base do Fluminense precisa de mais trabalho e menos marketing pessoal. Aliás, esse marketing todo só existe porque os resultados não falam por si. Danielzinho semana passada disse que nunca viu nada parecido com a metodologia do Diniz na base, Wendel foi pro Sporting e precisou ser barrado porque taticamente estava muito atrasado. O Fluminense é um dos clubes que mais utilizou jogadores da base em 2017 e 2018 e quase caiu, tendo dois anos pífios. O Fluminense há anos não revela um jogador de ponta, de seleção brasileira. O Brasil foi campeão olímpico sem nenhum jogador formado no clube no grupo. Xerém, como eu já disse, precisa de uma revolução. E ela não será feita pelo Marcelo e nem por quem está por lá há anos.