O Mário Bittencourt tem todo o direito de falar com quem bem entender.

O Presidente Mário Bittencourt, não.

 
 
 

Amigos, eu escrevo isso porque ontem, mais uma vez, a torcida do Fluminense foi submetida a um novo monólogo de um presidente que só fala com quem o deixa em zona de conforto em uma entrevista. O interlocutor da vez foi o locutor Luis Penido, um monstro na arte de narrar jogos de futebol, de quem assumidamente sou fã.

A live foi em seu canal de YouTube. Assisti porque, na sequência, participaria do Netflu na rede, programa semanal que faço para este site. A entrevista estaria pauta.

No chat, que estava aberto aos espectadores, li um sem número de mensagens perguntando ao nosso presidente o porquê dele não dar o mesmo tipo de entrevista para os sites especializados do Fluminense. Como o apresentador não fazia a pergunta desejada por inúmeros tricolores, resolvi pagar um “superchat” (quando pagamos pela pergunta), indagando, de forma polida, o motivo pelo qual Mario não fala com a imprensa tricolor.

Penido ignorou, Mario ignorou. O torcedor que acompanhava a live, ao contrário, passou a repetir quase em uníssono um mesmo pedido: “Penido, leia o superchat”. Oito em cada dez mensagens eram nesse sentido.

Nada feito.

Mario está há 19 meses no comando do clube. Parece não perceber – ou se percebe dá de ombros – que o mundo mudou. E não é só no futebol.

A cada dia a mídia tradicional perde espaço para a segmentada. Milhões de pessoas escolhem onde querem ler e ver suas notícias.

Não respeitar essa tendência é o atraso. E mais que isso: é o descaso.

Quando o presidente de um clube escolhe a zona de conforto para repetir respostas às mesmas perguntas de sempre, o que acontece não é apenas censura, é fuga.

O que espera-se de uma liderança é a capacidade de argumentar e de mostrar valores e atitudes mesmo diante de situações de desconforto. No mundo em geral, e no futebol em particular, as águas nem sempre são navegáveis em boas marés.

É desagradável ter que responder sobre assuntos delicados? É, ninguém gosta. Mas o sujeito que pede o seu voto para comandar sua maior paixão tem que estar preparado para tormentas.

Chega a ser inacreditável que um presidente de um clube como o Fluminense tenha medo de dialogar com seus críticos. Talvez apenas menos inacreditável do que argumentar que essas críticas são todas políticas e têm o objetivo de tumultuar o ambiente.

Qualquer semelhança com os políticos brasileiros não é mera coincidência. Ao contrário, os gestos bebem da mesma fonte da falsa narrativa.

Aceita quem quer, quem tem preguiça de pensar e quem tem medo de não conseguir superar com argumentos as ideias opostas.

O “Fluminense somos todos nós” não pode ser apenas um jargão barato de publicidade. E só não será se a parte do “Todos nós” disser respeito também aos que querem respostas para as questões que não são colocadas por um jornalismo que às vezes se confunde com assessoria de imprensa.

O dia 14 de março de 2021 tinha tudo para ser tranquilo. O recorte do momento era ótimo. Um Flu sonhando com a Libertadores, no dia seguinte a uma vitória contra seu maior rival.

Mas o torcedor, que pode ser bobo por um tempo, mas em regra burro não é, demonstrou na Live do Penido (um Lugar supostamente protegido dos tais politiqueiros perturbadores de ambiente) que a escolha seletiva sobre o que e pra quem falar, mina a confiança e a credibilidade de quem não quer se deparar com críticas e questões mais espinhosas.

Seguramente 90% das mensagens foram de críticas ao presidente, num momento que, como disse, era totalmente tranquilo.

Fico imaginando se as arquibancadas estivessem liberadas.

E sigo esperando que Mario Bittencourt entenda que quando fala em nome do Fluminense ele é o presidente Mário Bittencourt.

E que como tal, tem que dar voz a todos, inclusive aos críticos.

Porque assim é a democracia. Porque assim é a história de um clube que nunca flertou com o autoritarismo.

Leia o superchat, Penido.

Responda o superchat, presidente Mário.

Ou então fique pra história como alguém que não conseguiu entender o tamanho de seu cargo.

Ainda dá tempo de mudar.

Abraços tricolores