Foto: Lucas Merçon/FFC

A nova gestão tem apenas três meses.

Eu consigo entender, e acho que boa parte do torcedor também, que é cedo para julgamentos definitivos, que é cedo para resolver todos os problemas deixados por gestões anteriores calamitosas, que é cedo, inclusive, para que práticas como as vendas de mando de campo e de jogadores importantes no meio do campeonato sejam evitadas.

 
 
 

Mas não é cedo para o torcedor fazer as seguintes perguntas:

  • Onde está o planejamento estratégico do Fluminense, com metas e objetivos de curto, médio e longo prazo?
  • Qual o modelo será escolhido na condução do futebol? Qual será a identidade do Fluminense?
  • Onde está o organograma do clube com todos os cargos e funções?

Mário assumiu o Fluminense e resolveu, mesmo sem bons resultados, manter o treinador anterior. Deu a entender que acreditava no trabalho que vinha sendo desenvolvido.

Celso, de cara, já saiu dizendo que sem resultado não teria como manter.

De pronto, e aqui sem entrar no mérito se um ou outro está certo, já se nota uma inconsistência no discurso de quem deveria estar remando junto.

Nessa queda de braço, com os resultados não aparecendo, Fernando Diniz é mandado embora.

E aqui eu nem vou comentar o péssimo timing, já que o Gustavo já o fez muito bem nas colunas anteriores.

Agora o mais surreal dessa história: O Fluminense mandou um treinador embora, sem sequer saber quem seria o contratado.

Na coletiva, depois da contratação do Oswaldo, Celso fala de um cardápio de treinadores e cita que havia uns 10 nomes da mesa.

Amigos, uma gestão que está na dúvida entre 10 treinadores não tem a menor ideia do que quer, do que pretende.

O que a direção quer é resultados imediatos, ela quer sair do sufoco, mas não existe resultado sem processo, sem planejamento, sem metodologia. Ela quer, mas não sabe como.

Oswaldo já chegou com os dias contados.

O elenco adorava o Fernando Diniz e o Fluminense não queria o Oswaldo, é um fato. O Fluminense contratou quem estava disponível. Eu, se sou o Oswaldo, que também é uma vítima da má gestão, jamais aceitaria esse trabalho a não ser que minha situação financeira obrigasse (o que não é o caso dele).

Há outro problema.

O Fluminense do Diniz tinha uma ideia de jogo e um padrão muito definidos. Diniz já conhecia o elenco. Oswaldo, no Japão, não conhece mais da metade dos jogadores e vai precisar fazer testes e experiências no meio do campeonato.

O resultado é um monstrengo. As ideias de jogo do Fernando foram desfeitas, sem que a proposta do Oswaldo tenha tido tempo de ser colocada em prática.

E há mais problema.

Se o modelo anterior poderia ser considerado um projeto de médio e longo, podendo ser estendido para as divisões de base, o que dizer do modelo atual? Há algum modelo atual?

Não é fácil gerir um clube de futebol. E é mais difícil ainda gerir um clube de futebol com modelo de clube social.

O Fluminense não possui uma cultura empresarial consolidada em sua gestão. O formato de organização jurídica do clube (associação sem fins lucrativos) permite uma grande influência de aspectos políticos, que condicionam e limitam as ações nas áreas administrativas e técnicas dificultando planejamentos de médio e longo prazos. E ainda há todo domingo o torcedor xingando e gritando a cada derrota.

Portanto não há outra forma de gerir um clube como o Fluminense sem um planejamento e sem convicção nesse planejamento, que deve ser revisto, deve ser criticado, deve ser objeto de correções, mas nunca abandonado em função de resultados de curto prazo.

Amigos, o Fluminense não caiu por um milagre em 2009. O Fluminense não caiu por um erro administrativo do Flamengo em 2013, o Fluminense não caiu por um pênalti em 2018.

Esses foram os anos onde a queda não se deu por um triz. Há outros em que lutou pra não cair também.

É absolutamente legítimo vaiar, xingar, gritar no estádio. É do jogo.

Mas saiu dali, é necessário que o torcedor entenda que a responsabilidade pela situação do Fluminense não é do treinador da vez. Não é do Abel, do Diniz, do Oswaldo, do Marcelo Oliveira…

Quando ninguém dá certo num clube, o problema é o clube.

O Fluminense tem problema de gestão. O Fluminense troca de treinador a cada sequência de resultados negativos porque todas as gestões anteriores foram pautadas pelo resultado de cada rodada pra avaliar um trabalho.

E pensem comigo: Se você não é capaz de contratar grandes jogadores, se você precisa se desfazer dos seus melhores jogadores, você não vai ter resultado porque seu elenco age como um limitador do seu objetivo.

A solução é apostar num modelo e em jogadores que possam evoluir a partir dele. E pinçar no mercado jogadores que sejam capazes de se adequar a esse modelo escolhido.

O título do post é planejamento e serenidade.

O Fluminense precisa de serenidade, de tranquilidade pra fazer a bola entrar. Os jogadores, alguns muito jovens, precisam de gente que lhes dê confiança e suporte.

Esse respaldo o grupo precisa ter, inclusive da torcida, que está sempre em busca de culpados, normalmente a ira é direcionada a quem pode dar mais e isso é um erro.

Vaiar e partir pra violência em cima de jogadores de aluguel que sequer estarão no clube ano que vem, não parece ser uma boa ideia nesse momento.

Continuar apostando na recuperação técnica e evolução na carreira desses caras parece ser a melhor aposta. Fizemos isso com êxito com Ferraz, Caio, Allan, Daniel, Everaldo, Luciano, Yony… Assim, o Fluminense pode se tornar um lugar interessante pra se jogar.

Escolha um modelo, Mário. E comunique ao torcedor. Mostre esse projeto. Explique. E não se paute por uma vaia (legítima) do Maracanã. Torcedor não é gestor.

Chame uma coletiva, escolha o profissional que vá liderar esse processo.

É o Oswaldo? Vá com ele se houver convicção. Não é? Troque hoje.

Não se paute por resultados agora, o Fluminense dificilmente os terá. Avalie o trabalho.

Sim, a segunda divisão é uma hipótese. Estenda a metodologia e o modelo que você acredita serem os melhores pra base, comece já a avaliar quem na base tem ou não condições de se adequar ao que você escolher, contrate consultorias que podem melhorar nosso processo de formação, faça intercâmbios com clubes na Europa e traga esse aprendizado.

Caso caia, com as medidas tomadas acima, nossa base terá mais condições de ajudar no processo de retomada.

Se a segunda divisão é uma hipótese, a primeira ainda é um objetivo plausível.

Se proteja nos bastidores, passe tranquilidade aos jogadores, converse com eles sobre suas demandas, sobre como gostam de jogar.

Eu não sou presidente do Fluminense e essa escolha não é minha.

Se eu fosse, naquela derrota para o CSA, chamaria uma coletiva e renovaria o contrato do Fernando até o fim de 2020.

Eu, Dedé Moreira, acreditava no modelo e acho que os jogadores também.

Trataria com o Diniz um trabalho integrado junto com a equipe de análise de desempenho planejando o resto de 2019 e o 2020 independentemente de divisão e levaria toda a metodologia do jogo associativo para as divisões de base facilitando a integração base-profissional.

Planejamento, método, ação, controle, metas, objetivos.

Apresentaria ao torcedor esse documento escrito com todas as diretrizes do futebol profissional e de base para que o torcedor possa acompanhar e cobrar.

Mas eu não sou presidente do Fluminense, não tenho capacidade para tal.

Espero isso de quem se candidatou. Projetos, ideias, o tal “fazer diferente” que é o que um clube como o Fluminense precisa pra poder brigar com os de maior poder financeiro.

Tabelinha

– O amigo Beto Sales, um dos mais inteligentes tricolores que temos nas redes sociais, tem batido muito na tecla do fim do modelo social. É uma briga que o torcedor, principalmente o sócio futebol, precisa comprar. O fim do modelo social seria um grande legado de qualquer gestão.