Foto: Lucas Merçon/FFC

Lance 1: Igor Julião recebe no mano a mano pela direita. Dá duas ou três pedaladas, o que faz com que o lateral vá andando para trás, todo desequilibrado. Cruza na medida na cabeça do Marcos Paulo (quem viu o Assis jogar não pode deixar de notar algumas semelhanças na passada, no domínio, nas finalizações). 1×0.

Lance 2: Pedro recebe uma bola esticada e a domina. Imediatamente se vê embolado com três uruguaios. A bola sobe na matada e o que vem depois é digno de cinema. Um coice, um passe raro, na medida para a boa matada e conclusão seca do Colômbia. 2 x 0.


 
 
 

Lance 3: Ganso – de fraque – acha um passe de sinuca no meio da zaga dos caras. Caio Henrique, após ótima projeção, recebe a bola e provoca o rebote do goleiro para que o menino apenas empurrasse para o gol aberto. 1, 2, 3 x 0.

Tivemos mais alguns bons lances. Lembro-me de pelo menos mais duas boas jogadas que poderiam tranquilamente ter resultado em gol.

Fiz questão de começar o texto pela descrição dos gols porque acho fundamental que a torcida reconheça que esse time do Fluminense tem jogado bom futebol. É muito importante que partamos da mesma premissa.

Embora compreenda perfeitamente o maniqueísmo que o futebol provoca no torcedor, é preciso de algum momento de reflexão. Trago um, de cara: Gonzáles, Pedro e Marcos Paulo. Você pode até achar – como eu acho – que esse trio ofensivo não é o melhor do Brasil. Mas na minha visão é impossível achar que esses caras não formam um ataque de enorme potencial.

E o Ganso no meio campo? Você pode até se irritar, não compreender, se desgastar emocionalmente porque nosso 10 não funciona no turbo. Mas dificilmente terá coragem de pedir para que ele seja barrado para entrar um meia que corra o dobro e jogue a metade.

E o Allan? A aceleração desse menino é algo muito raro no futebol. Recebe, acelera e invariavelmente tira o primeiro marcador, abrindo espaços para as jogadas. Mas entendo quem prefira o cincão porradeiro. Entendo por amor ao debate, mas prefiro ver nosso volante franzino e habilidoso flutuando em cima de nossa defesa.

Problemas? Pô… inúmeros. Nossa zaga é valente, mas ainda não passa confiança nem por baixo, nem pelo alto. Os laterais oscilam muito durante os jogos e o excelente Caio Henrique seria o Caio Henrique dos nossos sonhos se chegasse ao fundo como o Mariano e cruzasse como o Branco. Mas aí não seria o Caio Henrique, seria o Marcelo. E os goleiros? Que sina. Muriel com os pés parece um peladeiro de fim de semana. Com as mãos ainda é cedo para cravar algo além da lamentável falha contra o São Paulo.

O Fluminense, meus amigos, não pode ter Marcelos, goleiros de seleção e meias milionários. Num campeonato de pontos corridos não vai ter fôlego para brigar pelos títulos. Parece-me que qualquer interpretação diversa seria apenas sonho de torcedor apaixonado.

Mas pode brigar, pode vencer mais do que está vencendo, pode colher melhores resultados.

E aí caímos no fator Diniz. De novo o fator Diniz.

E é bom tocar nesse assunto porque o jogo de ontem foi emblemático para o que quero dizer. Os lances que rememorei acima deixam claro que a vitória ontem veio da técnica num momento onde só se comenta tática.

Honestamente não achei que o Fluminense fez uma boa partida ontem. Fui ao Maracanã e fiz questão de ouvir as entrevistas pós jogo. Achei nosso posicionamento muito ruim em grande parte da partida, achei que não conseguimos reter a bola com inteligência para armar as jogadas e achei que seguimos com grande dificuldade de movimentar na frente para criar as chances de gol que um sistema que prioriza a posse da bola pressupõe.

Mas vencemos sem jogar bem. Torcida saiu gritando “seremos campeões”. A mesma torcida que tem saído frustrada após derrotas nas quais o time jogou bem melhor que ontem.

Mudou algo? Sim, mudou. De cara alguma flexibilização na às vezes desnecessária insistência de sair tocando toda jogada. Com a marcação adversária alta nunca me pareceu inteligente deixar de buscar o três contra três ou o quatro contra quatro com uma boa bola esticada. O Flu fez isso ontem. Saiu até gol assim.

Falta bastante ainda. Não vejo jogada planejada para essas saídas. Vejo o goleiro chutando a esmo. Diniz é ótimo. Tem que pensar em alguma movimentação que confunda o adversário. Alguém saindo de trás? Atacantes cruzando para confundir a marcação? Não sei. Mas precisamos explorar mais isso.

Diniz sobreviveu ao risco iminente de queda com a vitória. Torci muito por isso. É claro que sei que ele não irá se segurar com a manutenção da péssima pontuação no brasileiro. Mas prefiro esperar a casa ir se arrumando com flores na janela do que trancafiada, escura, com brucutus cuidando do jardim.

Corinthians deve passar e será nosso próximo adversário. Bateremos de frente. Vejo claras condições de passarmos. O título da Sul-Americana é viável. Ainda mais com os reforços de Nenê e Nem, que devem ser inscritos para as quartas.

Antes disso, no entanto, precisamos subir as escadas no Brasileiro. Sem pânico, sem arroubos de pessimismo, mas com criteriosa análise das deficiências de um time promissor, mas longe de estar pronto.

Dependerá disso a permanência do Diniz e a esperança de não vermos nosso time brigando por uma bola o jogo todo até o fim do campeonato.

Vamos Fluminense!

Abraços tricolores