Foto: Mailson Santana/FFC

O Fluminense tem um time muito inferior ao do Flamengo em todos os aspectos: físico, técnico e, primordialmente, tático.

Há um abismo de proporções bíblicas entre as capacidades de Odair e Jesus.

E além da capacidade limitada, Odair ainda teve problemas. Sejamos sinceros. Pouco tempo de treino, alguns desfalques e um time muito forte pela frente.

Nesse cenário, perder o título é normal? Sim, não há dúvidas.

Mas a normalidade termina aqui.

Não é normal um treinador do Fluminense vir a público após a final para dizer que achou um padrão e que nele irá se apoiar após seis partidas disputadas, nenhuma – eu disse nenhuma! – vitória conquistada, e ridículos dois gols feitos em intermináveis 540 minutos de futebol.

O que é o Fluminense para esse senhor? O que são os torcedores para diretoria e comissão técnica deste Fluminense? Para eles o Flu começou nos anos 2000?

O jogo de ontem talvez responda essa pergunta. Valentes, briosos, raçudos… Podem escolher o adjetivo. Os jogadores brigaram demais.

Mas…

Mas…

 
 
 

Mas e daí? Brigar, lutar, guerrear numa final é o mínimo de qualquer expectativa.

A disparidade entre as equipes – não sejamos estúpidos – evidentemente impunha algumas cautelas. Não dava pra sair como kamikazes atrás do Flamengo. Seria sacode.

Mas a diferença não pode servir de muleta para incompetência. Quando entramos no campeonato, afinal, já sabíamos da distância entre os times.

Odair fechou os olhos, respirou fundo e decidiu que treinaria uma espécie de Madureira com títulos no currículo. Armou um ferrolho de time pequeno e não teve o menor talento para sair dessa conduta. Não tive dificuldade para enumerar alguns erros de ontem:

  1. Errou na escalação (vinha de zero vitória nos últimos 5 jogos e se contentou com esses números).
  2. Demorou 60 min pra mexer, precisando de vencer o jogo da finalíssima (Flu não chutou no gol no segundo tempo).
  3. Tirou o Evanilson, jogador mais talhado para marcar gols.
  4. Enfiou o Hudson, lento e desgastado, de lateral, quando poderia ter botado um atacante de velocidade por ali pra amassar o Fla e segurar o lateral deles.
  5. Deixou o Miguel no banco, único jogador do 1×1 e da metida de bola vertical. Em seu lugar botou um botinudo que até ontem estava treinando longe do elenco principal.
  6. Deixou o Nenê ciscando pela extrema direita os 90 minutos, fazendo uma partida horrorosa, mesmo sem lateral para ultrapassar.
  7. Não mostrou em 270 minutos uma única jogada ensaiada, um único sopro de organização na movimentação ofensiva que pudesse passar a impressão de que havia um projeto finalizado de busca de espaço vazio nos contra ataques.
  8. Nenhum protocolo de saída de bola retomada para enfiar em velocidade foi mostrado.
  9. Em nenhum lance os atacantes de lado correram pra receber passes longos de forma organizada. Sem facão, sem ponto futuro combinado, só bico para frente, normalmente vindo do goleiro.

Não vamos nos enganar, amigos. O trabalho é medíocre. Armar retranca com os 11 atrás da linha da bola a gente vê no futebol há décadas. Todos os pequenos fazem isso contra os grandes. E, honestamente, não vi qualquer pequeno que tenha se tornado grande em função desse expediente.

Odair só fez isso. E o pior, celebrou o retumbante fracasso de seis jogos sem vitória. Isso é um escárnio com a nossa cara.

Acompanho o Fluminense desde a década de 80. Já vi inúmeras finais. Afirmo categoricamente para vocês: apenas em duas oportunidades vi meu Fluminense entrar num jogo de finalíssima abrindo completamente mão de atacar, aceitando passivamente a superioridade do adversário: ontem e no distante ano de 1992, quando perdemos a final da Copa do Brasil para o Internacional.

Uma coisa é se defender e se assumir inferior tecnicamente. Outra coisa é ter um treinador absolutamente incapaz de fazer qualquer coisa que não seja armar um ferrolho.

Na última quarta chutamos uma bola no gol. Fraquinha, Fraquinha. Era uma final de campeonato.

O Fluminense nem tentou.

Para mim está claro que Odair colocou a manutenção de seu emprego em primeiro lugar. Porque ontem ele foi abaixo do péssimo, que é o seu padrão.

Foi medíocre nas aspirações, enquanto os jogadores davam o sangue dentro de campo.

Mas curtiu. Aliviado por não ter sido goleado, acabou instituindo em sua coletiva, em sutil entrelinha, a vitória de 0 ponto.

O Fluminense volta a jogar daqui a pouco menos de 30 dias. Mario Bittencourt, depois de ontem, tem a obrigação de buscar um novo nome pro comando do time.

Alguém que estude futebol, que tenha ideias propositivas e que saiba que vai ter em mãos um elenco limitado.

Vai fazer? Garanto que não.

Não ser goleado pelo Flamengo – vejam só – passou a ser motivo de orgulho do nosso clube.

Reconheço a luta.

Mas fico envergonhado em ver como normalizaram a covardia.

Cansei de ver Fluminense inferior se impondo diante de adversários melhores. Um exemplo padrão? 95, quando tínhamos um Joel Santana, que esteve longe de ser um Guardiola, mas tinha um mínimo de coragem.

Odair não tem. Não vai ter. É do tipo – metidão a professor – que gosta de achar “pontos positivos nas derrotas”.

Pro inferno! Trabalho medíocre. Final medíocre.

Quais os próximos passos nesse caminho? Qual será o novo normal (para usar a expressão da moda) desse velho Fluminense?

O que me incomoda é que a letargia cognitiva não é apenas do treinador e do presidente: cada vez mais cresce no meio de nossa torcida o sentimento de que é normal a gente entender as dificuldades e que os resultados ruins que se multiplicam fazem parte de um contexto que deve ser compreendido e bla, bla, bla…

Às favas com esse discurso, cacete. Como um tricolor pode não se indignar com a postura de ontem?

Alô! Estamos sem títulos desde 2012. Acostumamos com o padrão Flusocio de apequenamento institucional. Tem gente boa embarcando nessa narrativa. Acordem, cacete!

Ou assume que tem que buscar ser gigante, mesmo no meio da dificuldade, ou vamos ver no Brasileiro a repetição dessas retrancas maquiadas de estratégia de jogo.

Não dá pra mudar em 30 dias o cenário tenebroso do clube, legado de Peter, Abad e Flusocio. Mas dá para mudar o treinador e sinalizar um Fluminense corajoso. Seria um bom recomeço.

Nossa história merece doses cavalares de coragem.

FORA, ODAIR!

Abraços tricolores