(Foto: Arquivo Flu Memória)

Se hoje contratações com grande apelo midiático acontecem a todo o momento, há exatos 45 anos o Fluminense quebrava um paradigma. Foi no dia 8 de fevereiro de 1975 que o grande Rivellino estreava pelo Tricolor. Em pleno sábado de Carnaval, comandou a goleada do Flu por 4 a 1 justamente sobre o seu ex-clube, o Corinthians, no Maracanã. Na ocasião, o craque fez três gols.

Considerado o melhor jogador da seleção na Copa de 1974, Rivellino ficou marcado com sua geração no Corinthians pela falta de títulos (o clube chegou a ficar 17 anos sem levantar troféus). Após a derrota na final do Paulista em 74 para o Palmeiras, o “Reizinho do Parque São Jorge” virou um dos alvos da torcida. Foi aí que Francisco Horta, recém-eleito presidente do Fluminense, viu as notícias nos jornais e tomou a audaciosa ideia de tentar sua contratação.

Horta sabia das dificuldades e foi a São Paulo escondido para a imprensa não saber. Para convencer o jogador a vir para o Rio de Janeiro, começou o processo pela esposa do craque. Ele descobriu o endereço deles e foi fazer uma visita com direito a buquê de rosas para a “patroa”.


– Por minha sorte, ele tinha ido abastecer o carro, ela estava sozinha com a filha deles. Ela perguntou quem eu era. Eu disse: “Um amigo da família” e entreguei o buquê. Ela me mandou entrar e eu disse: “Vim aqui contratar a senhora”. Ela respondeu: “Mas eu não jogo”. “A senhora que pensa”, respondi. E quando ele chegou, 15 minutos depois, ela estava envolvida porque estava apavorada com a torcida, que ligava constantemente para ameaçar a família… – lembrou Horta.

— Quando surgiu a possibilidade de ir para o Fluminense, ela ficou muito a favor. E ela ter ficado a favor fez o marido dela ficar definitivamente a favor – complementa o ex-presidente, hoje com 85 anos.

O acordo com o Corinthians também não foi fácil. O presidente Vicente Matheus não queria se desfazer do jogador. Horta ficou alguns dias em São Paulo negociando. A pedida inicial era altíssima: Cr$ 8 milhões de cruzeiros. O então mandatário tricolor conseguiu barganhar por Cr$ 3 milhões de cruzeiros e a renda dividida de dois amistosos. Ele ainda pediu apoio ao governador do Rio de Janeiro na época, Chagas Freitas, para entregar a chave da cidade fabricado na parte técnica do clube a Matheus quando este esteve na cidade dias antes do jogo e para receber o dinheiro.

A estreia, num sábado de Carnaval, levou 40.547 torcedores pagantes ao Maracanã.

– Não se jogava sábado de Carnaval naquela época. E era uma ocasião que precisávamos transformar em um Carnaval. O Maracanã teve um bom público, convidei o Rei do Carnaval para dar o pontapé inicial, a Mangueira desfilou na geral no intervalo a meu pedido. E aí ele faz três gols na estreia, um deles de peixinho, que ele nunca tinha feito, até porque era coisa de centroavante. Grande atuação, tal a determinação dele de enfrentar o Corinthians. Foi uma festa. Desde o princípio foi um sucesso. No domingo seguinte, quando começava o Campeonato Carioca, já tinha faixas no Maracanã: “O curió das Laranjeiras”. Foi um sucesso instantâneo, o que é raro no futebol. Rivellino teve uma participação muito ativa em meus três anos como presidente. Ele deu certo – contou Horta.

Houve ainda mais um amistoso, desta vez no Pacaembu. O Fluminense voltou a vencer, por 2 a 1, e Rivellino fez um gol.

Rivellino atuou no Fluminense entre 1975 e 1978. Fez 159 jogos e 57 gols. Foi bicampeão carioca (75 e 76), além de conquistar o Troféu Teresa Herrera (1977) e o Torneio de Paris (1976). Mesmo sem um título nacional, Horta afirma que o período ficou para lá de marcado.

– Faltou. Mas não jogávamos apenas para sermos campeões. Jogávamos para fazer bonito. Cada jogo tinha que ser um jogo com boas atuações, na bola. Fazíamos só seis, sete faltas por jogo. Era um capricho – recorda o ex-presidente.