Jogo do bicho, irmão assassinado e luta da irmã contra o câncer: Pierre e as batalhas da vida

Volante conta situações que o fizeram amadurecer

Foto: Nelson Perez/FFC

A batalha diária de Pierre contra o preconceito que sua filha enfrenta é apenas um dos obstáculos da vida difícil o volante do Fluminense leva. Antes de iniciar a carreira no futebol, trabalhava no jogo do bicho, teve de conviver com a morte do irmão, assassinado, enquanto já despontava no esporte e relata a luta da irmã contra o câncer.

– Tinha o sonho de ser jogador, mas via isso como algo longe. Estava com 19 anos e ainda em casa. Eu trabalhava em uma banca de jogo do bicho, recolhia os jogos na rua. Um dia me perguntaram se queria fazer um teste no Vitória, sou o caçula de 12 irmãos. Disse que não ia para não perder o emprego, mas o patrão disse que podia ir que teria o emprego de volta se desse errado. Saí de Itororó, viajei 300 km e fiquei seis meses no Vitória. Fui mandado embora, mas conseguiram um teste no Ituano. Eles bancaram a passagem e fiquei dois dias viajando. O time já estava formado para a Copinha. Na época, fui emprestado para o Capivariano para a Copinha. Fui bem e o Ituano me trouxe de volta. Em 2002, já era campeão paulista pelo Ituano – contou Pierre, relatando o ocorrido com o irmão mais velho:


 
 
 

– Sou o mais novo de 12 irmãos. O mais velho morreu em 2014, na véspera da semi da Copa do Brasil contra o Flamengo. Sepultei meu irmão e um dia depois estava jogando. Foi homicídio, um pessoal que trabalhava na empresa de reciclagem dele tirou a vida dele no dia do pagamento. Queriam tomar o dinheiro dele. Estão todos soltos, confessaram o crime e estão andando lá como se nada tivesse acontecido. A justiça brasileira é falha. Tenho um irmão que anda na minha cidade e vira e mexe encontra com os assassinos na rua. Isso deixa a gente pasmo e indignado. Os assassinos estão impunes, a vida de um inocente foi tirada e os bandidos têm regalias. Antes do jogo do bicho, trabalhava num bar com meu irmão, ajudava ele servindo, lavando prato, fazendo nota.

A luta de Pietra, sua filha, é apenas uma das que trava e convive diariamente.

– Chega uma fase da vida em que a gente fica cascudo. A gente adquire maturidade o suficiente para lidar com as situações, lesões, críticas. Quando paro pra refletir sobre o que enfrentei na minha vida para chegar até aqui, nada me desestimula, nada me desanima. Quando enfrento uma situação dessa (a lesão) e vejo que tenho minha família, isso redobra minhas forças. Quando olho a luta diária da Pietra e percebo que superei a perda do irmão, a luta de uma irmã que está enfrentando o câncer… Quando vejo isso, nada me abala e me entristece. Procuro superar os obstáculos.