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Especializado em finanças no esporte, o jornalista Rodrigo Capello escreveu um artigo em seu blog na página online do jornal O Globo sobre o novo Regime Centralizado de Execuções — mecanismo criado pelo Congresso para incentivar a migração para a Sociedade Anônima do Futebol. Na visão do comentarista, a chance de clubes como Fluminense, Vasco e Botafogo não cumprirem com suas obrigações e a conta ficar para a população são grandes.

Confira alguns trechos do que ele escreveu a respeito do RCE:


 
 
 

“Dirigentes colocaram suas associações no Regime Centralizado de Execuções — mecanismo criado pelo Congresso para incentivar a migração para a Sociedade Anônima do Futebol. A ideia era: “se vocês, cartolas, quiserem refinanciar dívidas desse jeito, abram seus clubes-empresas”. Parlamentares foram liderados pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), relator da SAF. (…) “Pois a lei foi redigida de maneira tão tosca, que o texto abriu o entendimento, até agora validado pela Justiça, de que Vasco e Fluminense podem aderir ao RCE mesmo sem constituírem companhias. A incompetência do Congresso também é matéria antiga”.

Rodrigo Capello foi além e destacou o temor pelo calote:

“O regime permite que clubes formem filas de credores. Sejam elas de natureza cível ou trabalhista, todas as dívidas entram num cronograma de pagamentos mediado pela Justiça. As pessoas vão recebendo conforme as associações repassam dinheiro todo mês — 20% das receitas operacionais. Credores também são estimulados a conceder descontos acima de 30%. A ferramenta é nova, mas o conceito é antigo. Nas últimas décadas, esses mesmos clubes estiveram no Ato Trabalhista. A diferença para o RCE é a inclusão das dívidas cíveis. (…) “A vantagem de enfileirar credores é que eles não executam dívidas todos de uma vez. Interrompem-se bloqueios e penhoras. Com o fluxo de caixa reorganizado, fica um pouco mais fácil praticar futebol profissional, ao mesmo tempo em que se paga o passado. Sabe o que é pior? A possibilidade de Vasco, Bota e Flu não cumprirem os novos acordos é razoável. Não temos caracteres suficientes para basear a afirmação, então fiquemos assim: esses clubes precisarão duplicar ou triplicar receitas para dar conta das promessas. Compreendo que dirigentes queiram toda assistência estatal. Só não consigo conceber que, até hoje, não tenha surgido um governo sequer para colocar ordem. Refinanciamentos precisam acompanhar regras severas em termos de governança e controle financeiro. No esquema atual, nada disso existe. O torcedor comemora. E o cidadão paga a conta.”