Atacante do Fluminense entre 2007 e 2008, Somália teve uma passagem não muito longa, mas intensa pelo Tricolor. Chegou no clube após o título da Copa do Brasil de 2007 e participou do elenco que ficou com o vice-campeonato da Libertadores no ano seguinte. Em entrevista exclusiva ao NETFLU, o agora ex-jogador Somália falou sobre seu dia a dia no Tricolor, do que mais sente falta e relembrou, é claro, de suas dancinhas nas comemorações. Confira, na íntegra, o bate-papo com ele:

NF: Do que você sente mais falta da época em que vestia a camisa do Fluminense?

 
 
 

S: Em toda a minha vida, nos 31 clubes que joguei, foi um dos melhores. Isso se não foi o melhor. Eu tenho contato com muita gente ainda, o Thiago Silva, Conca, Washington, Thiago Neves. A gente fazia tudo sempre em grupo, era isso que era maravilhoso e não tinha panelinha. A gente tinha uma resenha maravilhosa, até o Renato Gaúcho participava. O nosso grupo era demais.

NF: Você ainda acompanha o Fluminense?

S: Sim. Acompanho. Não tenho como não ver. Eu digo que tenho três clubes: o Fluminense é um deles. Os outros são o América-MG e o São Caetano. Já fui ver o Tricolor jogar em vários lugares. O Fluminense passou por um período complicado com várias mudanças de comando, de atletas. O clube vem buscando o melhor caminho desde a saída da Unimed. Para poder montar um clube hoje, com a exigência que tem o futebol, é complicado. Nesses meses, antes do coronavírus, o Fluminense estava voltando a ter um grupo com grandes peças. Está se formando um time forte e tem muito a evoluir. Eu estava feliz em ver o Fluminense voltando ao bom futebol. Acredito que a torcida também.

NF: Você atuou com grandes atletas no Fluminense, como Thiago Silva, Conca, Washington Coração Valente… Qual jogador mais te inspirou e qual deles, dentre os que defendiam o Flu, mais te chamava a atenção pela forma de agir dentro e fora de campo?

S: Fica difícil mencionar um porque foram jogadores de altíssimo nível. Eu tinha acabado de ser vice da Libertadores pelo São Caetano, de uma equipe que estava surgindo no cenário brasileiro e consegui essa chance num clube de ponta que era o Fluminense. O Washington Coração Valente era um cara que eu sempre admirei. O próprio Thiago Neves, Conca… mas quem mais me surpreendeu, por ser zagueiro, foi o Thiago Silva. Havia muita qualidade e explosão nele. Ele sempre se destacava no nosso meio e a gente falava que ele não ficaria muito tempo. Ele, sem dúvidas, é um dos caras que surpreendeu muito, até porque ele naquela época era um jogador novo no elenco, assumiu a posição e nunca mais saiu. Depois foi vendido, rodou o mundo e foi considerado o melhor zagueiro do planeta. Orgulho ter defendido o mesmo clube ao mesmo tempo que ele.

NF: E como era aquela disputa no setor de ataque, com Dodô e Washington?

S: Na verdade, a gente nem considerava que era uma disputa. Era até engraçado. Eu vim de uma equipe de menor expressão, enquanto os outros eram consagrados, incluindo com passagens pela seleção brasileira. No São Caetano eu joguei com dois atletas de área e, no Flu, às vezes jogava eu e Dodô, às vezes eu e o Coração Valente. Tinha jogo até que o Renato botava do Thiago Neves mais avançado. tinha espaço pra todo mundo. A gente levava tudo na brincadeira, não tinha nem discussão, era engraçado. Às vezes eu até botava pilha, dizendo: “Dodô, você está de sacanagem, né? Está no banco para o Somália? Como pode isso?” E ele rachava de dar risada. Era muita união, família mesmo. Não tinha ciúme, inveja de ninguém. O grupo era fantástico. Ainda tinha o Carlos Alberto, que era polêmico, briguento, mas muito de grupo. Era muito parceiro.

NF: E de onde surgiam a ideia das dancinhas nas comemorações? Você chegava a combinar antes com os atletas ou era tudo no improviso?

S: Eu me profissionalizei com 15 ou 16 anos e ficava pensando que as pessoas faziam gols e comemoravam imitando outras comemorações, como o soco do Pelé. E eu via muito o Viola na época, que às vezes ele imitava algum bicho do adversário, para zoar, ou uma dancinha. E eu passei a me inspirar nisso. Quando eu fui pra Holanda, eu joguei com o Kanu. E ele é o rei da dança, né? (risos). Então, quando cheguei no Flu, já tinha isso em mim. Eu ficava brincando e toda vez que eu fazia um gol, queria chamar a atenção dançando, porque a televisão ficava focando mais em mim. Então, para cada gol que eu fazia, parecia que eu tinha feito uns 10 de tanto que aparecia nos canais de tv comemorando(risos).

NF: Como foi a experiência de ser vice da Libertadores com a camisa tricolor?

S: Sensação de quase. Mas não é a mesma coisa de ser campeão. Mas por um lado a gente foi guerreiro, como prega muito a torcida do Flu. A gente tinha um resultado negativo, tendo que reverter no Maracanã lotado, um adversário que também tinha suas qualidades. Daí a gente teve de sair muito pra cima, para o tudo ou nada. Eles fizeram o gol que deu a oportunidade deles irem para os pênaltis, enquanto estávamos bem cansados. Fomos nos arrastando até chegar nos pênaltis, porque foi difícil jogar contra uma equipe que se defendeu o tempo todo, explorando os contra-ataques. Jogou água no chopp de quem bebe cerveja e, no meu caso, jogou água no meu vinho. Era um título que eu queria muito ter conquistado. Sigo torcendo para o Flu conseguir conquistar a Libertadores.

NF: O que achou da experiência de voltar a vestir a camisa do time, no ano passado, na Legends Cup?

S: Foi maravilhoso, eu cheguei a chorar nos vestiários. Passa um filme na sua cabeça. Foi um período muito bacana, muito agradável vestir as cores, disputar um clássico. Encontrei o Alex Dias e outros jogadores que estiveram comigo entre 2007 e 2008 no Fluminense. Com certeza foi uma sensação boa e agradável, porque acabei sendo o melhor do campeonato, artilheiro, vestindo as cores do Fluminense. E cada vez que se destacava, a gente ganhava um relógio por jogo. E eu saí com uns quatro relógios (risos). Estavam até planejando um Brasileiro de master, mas não sei como ficou isso, ainda mais agora com o coronavírus. Mas foi bom demais participar.

NF: Qual é a sua opinião sobre a possibilidade de Fred retornar ao Tricolor das Laranjeiras?

S: Fred é ídolo. É outro nível. Fred é Fred! É um dos melhores centroavantes dos últimos tempos. É um cara que fez por merecer e continua fazendo. Ele sonha em aposentar num clube que ele tem vínculo. E eu vou estar torcendo por isso, porque é um cara que eu admiro. Ele tem um amor pelo Flu. A gente sabe que a idade pesa, mas se ele tiver o entusiasmo de poder voltar com a torcida apoiando, vai com certeza fazer gols. E a gente fica aqui aplaudindo de longe e torcendo.

NF: Fale de seu projeto social

S: Tenho um instituto com 1500 crianças e tem 16 modalidades esportivas, além de inglês e informática. Elas não pagam nada e ainda recebem lanche. Quem puder acompanhar a página, vai ser ótimo. O nome é @InstitutoShow no Instagram e no Facebook. Tudo nosso, nada deles! Que Deus abençoe a todos!

NF: Recado para a torcida

S: Agradeço a Deus e a oportunidade dada pelo NETFLU. Sobre o torcedor, o que posso dizer é que senti um prazer enorme de vestir essa camisa, que é a mais linda do futebol. Espero que todos sejam tementes a Deus, sigam essas instruções de isolamento social e sejam carinhosos com os familiares. É um período que a gente tem que descobrir mais coisas. Que todos possam dar as mãos e orem para que essa peste acabe logo e os empregos possam voltar. Lembrem-se: Somália é igual a gol e igual a dancinha (risos).