Nesta terça-feira, o portal número 1 da torcida tricolor segue com a entrevista dos candidatos à presidência do Fluminense. A bola da vez é o representante da Flusócio, mandatário do Conselho Fiscal do clube, Pedro Abad. Respeitando a ordem alfabética, o NETFLU começou com Carlos Eduardo Cardoso (Cacá), do grupo 2050. Na quarta-feira, Pedro Trengrouse, da chapa “Verdade Tricolor”, seguirá responderá as mesmas perguntas que os outros que pleiteiam o cargo máximo do Flu. Todos os candidatos não tiveram limite de tempo para responderem a cada questão.

É importante ressaltar que, na outra semana, o NETFLU publicará a segunda parte das entrevistas, onde foram feitas perguntas específicas para cada candidato, incluindo perguntas em cima de respostas. Fique ligado!

 
 
 

NETFLU entrevista Pedro Abad:

1 – Quem é Pedro Abad?

– Pedro Abad é um tricolor alucinado, que pensa o Fluminense o tempo todo, o dia inteiro, chega a atrapalhar minha vida. Um cara extremamente sério, correto, honesto. Tudo o que é o certo está ligado a mim. Tenho três filhos, 45 anos, sou engenheiro de formação e fiscal da Receita Federal, hoje em dia. Acima de tudo, sou uma pessoa que quer ver o Fluminense ganhar de novo, ser campeão, fazer futebol como tem que ser feito. Quero cuidar do clube inteiro. Quero ver o Fluminense no lugar pra onde ele está caminhando, mas ainda tem muita aresta para aparar nessa história.

2 – Quando e como começou a sua ligação com o Fluminense de maneira mais ampla, ultrapassando a questão das arquibancadas?

– Começou no início de 2008, quando através de um outro site, uma pessoa da Flusócio perguntou se eu queria participar mais ativamente. Eu tinha acabado de entrar de sócio, indicado por um colega de trabalho. E aí me levaram para a Flusócio, eu gostei do grupo, passei a me inteirar sobre questões administrativas do clube. Daí, botei na cabeça de que tinha que trazer o torcedor para dentro, que só assim a gente iria resolver as coisas. Comecei a distribuir panfleto falando sobre o assunto, no Maracanã. A Flusócio começou a crescer muito, muito, muito. Depois nós fizemos o SATT, serviço que levou mais de duas mil pessoas para o clube. Me chamaram para fazer parte da chapa do Peter, como conselheiro, depois me convidaram para fazer parte do Conselho Fiscal, que é uma matéria afeita à minha profissão e colaborando com o presidente toda vez que ele me pedia. Fui cada vez mais me envolvendo, até que apareceu essa hipótese de me candidatar à presidência. Me preparei para isso.

3 – Quando surgiu a ideia de ser candidato à presidência do Fluminense?

– Venho me preparando há bastante tempo. Até então eu não estava pensando nisso, não tinha isso na cabeça. Vi minha participação cada vez mais frequente, me vi conhecedor dos problemas do clube, vi o que podia melhorar naquilo ali, o futebol poderia ter sido feito de forma bem diferente. Vi que em algum momento as coisas se desviaram da maneira que eu achava que ia acontecer e as pessoas começaram a me dar força: “bem que a gente podia ter você lá, será que você pode?”. Levou um tempo para eu me consciencializar que isso podia ser, porque envolve questão familiar, profissional e até financeira minha. De repente, ajustei todos os ponteiros, vi que dava pra fazer e resolvi tocar essa ideia pra frente.

4 – Como avalia a gestão no futebol nos últimos seis anos?

– Acho que tem duas etapas: antes da Unimed sair e depois que a Unimed saiu. No período Unimed, acho que existia, de certa forma, uma dificuldade de comando, pela influência, ao meu ver, que era um pouco exagerada da patrocinadora, que nem era patrocinadora, mas uma parceira de verdade. Tinha uma atuação muito forte dentro da condução do futebol. Foram resultados bons, teve Brasileiro, Carioca. No pós-Unimed eu acho que poderia ter sido bem melhor. A gente tinha condição de montar elencos mais competitivos, com perfil tanto técnico como financeiro mais adequados à  realidade do Fluminense. A gente poderia ter feito bem melhor.

5 – O Fluminense já revelou diversos atletas olímpicos de capacidade reconhecida. Entretanto, de uns anos pra cá, algumas modalidades olímpicas foram tiradas do clube, como o futebol feminino e o basquete. É tão complexo assim manter um clube grande, assim como o Tricolor, na vanguarda dos esportes olímpicos também?

– Depende muito da forma com a qual você quer manter esse esportes. Se você quer manter esse esporte apenas para existência, escolhinha, para uso dos sócios, é uma forma de fazer que tem custos e receitas inerentes. Acaba sendo algo de vulto muito menor e aí é mais fácil manter. Agora, se quiser fazer um esporte para disputar, botar a camisa do Fluminense, para ir realmente representar a grandeza do clube, tem que investir muito mais dinheiro, e aí precisa de um formato próprio pra fazer isso. Hoje em dia, esporte olímpico se faz com patrocínio pontual ou recurso incentivado. Não tem jeito de você fazer, pelo menos com um clube com as condições financeiras do Fluminense, esporte de alto rendimento com auto sustento. Hoje a gente já tem as certidões negativas e conseguimos buscar dinheiro com a Confederação Brasileira de Clubes ou por lei de incentivo. Então, qualquer esporte tem que tomar sua decisão: como vai funcionar? Para utilização meramente interna ou alto rendimento? Para cada um, tem um projeto. A priori, todos eles deveriam ser relativamente sustentáveis. Ou você mantém ali sem perder dinheiro ou perdendo muito pouquinho, se for de muito interesse ter aquele esporte pela tradição. E esporte de alto rendimento, só com patrocínio próprio mesmo, porque é muito dinheiro envolvido.

6 – Com a construção do CT, teme-se um abandono da sede social do clube que, para muitos sócios, precisa de reformas urgentes. O que pode ser feito para que o espaço seja mantido dentro daquilo que se espera para um clube da magnitude do Fluminense?

– Tem três pontos que a gente pode falar sobre isso. Primeiro, como o futebol vai sair dali, vão abrir vários espaços que antes eram utilizados pelo futebol e que não serão mais. Tem que repensar o clube, a utilização de todo o espaço. Muita gente vai sair, muito equipamento vai sair, então vão sobrar uma série de espaços que você tem que repensar. Segundo, como o futebol vai sair, muitas pessoas que iam para ver o futebol vão deixar de ir, porque não tem o futebol. O que não quer dizer que, eventualmente, você não possa fazer momentos pontuais em que o futebol vá ali, para movimentar a sede também. O terceiro ponto, e essa é minha proposta mais concreta para o social, é fazer um estudo do perfil do sócio que a gente tem no Fluminense. Tem momentos do dia, no clube, que o Fluminense está completamente vazio. Então tem que fazer uma análise do perfil do sócio, para ver quais são as atividades que ele gostaria de fazer no clube e, a partir daí, direcionar as ações para essas necessidades, porque aí você conquista o sócio. Se ele tem o que gostaria de fazer, ele vem. A sede deveria ter vida além da presença do futebol. O Fluminense sempre foi um centro social importantíssimo na época da República. Não tem porque deixar de ser. Acho que são esses três pontos que você pode manter a sede viva, com movimento.

7 – Pedro Antônio disse que nunca cobrou nenhuma taxa Selic ao Fluminense. Também ressaltou que o clube nunca pagou os juros acordados no contrato. Como essa relação entre o dirigente e o clube pode ser ainda mais otimizada na sua gestão?

– Pedro Antônio é um cara espetacular. Quando as pessoas dizem que o CT não sairia dessa forma, eu vou além. Acho que esse CT demoraria décadas para ser feito. Ele tem um lugar marcado pra sempre dentro do Flu. Acho que tudo o que é conversado e estipulado, tem que ser cumprido. Ele realmente abriu mão da remuneração do capital dele, isso é um fato, eu vi o contrato. A expressão “usar” o Pedro Antônio não seria a ideal. Acho que, sempre que o Pedro Antônio estiver disposto a ajudar o Flu, seja com disposição e empreendedorismo, o Flu tem que ajustar essa ajuda nos parâmetros que são oferecidas. Já conversei muito com o Pedro Antônio sobre o CT. Já coloquei pra ele que tenho as ideias de como concluir e evitar toda essa questão de pagou ou não pagou juros. Essas questões não precisam ser nebulosas. Elas podem ser transparentes, é um contrato do clube, tem que estar ali, a vista das pessoas. De qualquer maneira, a ajuda, não só do Pedro, quando voluntária, tem que ser vista com bons olhos. A palavra principal é aproveitar a disposição dele e cumprir tudo aquilo que foi combinado. Fazendo assim, ninguém se sente enganado, usado e não respeitado. O Pedro Antônio tem que ser valorizado para sempre. Quando acabar o CT, tem que continuar falando dele. É um cara que entrou para história, aquilo vai entrar na vida do clube, do futebol, de todo mundo. Todo mundo tem orgulho do Centro de Treinamento.

8 – É possível pensar em estádio próprio ou utilização das Laranjeiras para jogos de pequeno porte no Rio de Janeiro?

– Estádio próprio já estamos trabalhando nisso. Eu vou pôr todos os meus esforços para fazer esse estádio. Só penso nisso. Todo dia acordo pensando em estádio próprio, o Fluminense precisa da casa dele, a gente vai fazer. É duro, um trabalho difícil, mas é o grande legado que eu quero deixar patrimonial. É um compromisso que eu tenho com o tricolor. Sobre as Laranjeiras, eu não vejo para uso continuado do futebol profissional. Não é minha ideia, não pretendo fazer. O que não significa que você não possa ter, pontualmente, dentro dos limites que ela tem, para se usar num jogo específico. Não é impeditivo. De uso continuado, eu não vejo com essa utilização. Vejo com outras utilizações, com futebol de base ou integrado ao museu, enfim, tem várias coisas que podem ser pensadas, mas futebol profissional não é a ideia que eu tenho.

9 – Fala-se muito de Xerém como fundamental para o futuro do clube. Entretanto, entende-se que a última revelação top fora o lateral-esquerdo Marcelo, vendido ainda na década passada. A base do Fluminense é mesmo tão boa quanto o torcedor acredita que seja?

A análise do resultado de Xerém não pode ser feita só pelo aparecimento de um jogador fora série. Toda geração de jogadores possui: os que não deram muito certo, tem os medianos, bons, excelentes e existe o profissional que acontece uma vez ou outra. A base não tem só essa função de gerar o excepcional. Ela pode gerar muitos jogadores para o elenco principal, que você não precisaria gastar com eles, trazendo do mercado. Ele pode não ser o titular do time, mas pode ser o reserva. A base é um todo, não é só o excepcional. O Gerson é um expoente. A gente teve o Kenedy, Michael, Alan, Wellington, que retornou. Xerém está sempre fazendo bons jogadores. O que eu vou ampliar é a gestão integrada de Xerém com o profissional. Não adianta simplesmente subir com o jogador e colocar ele lá. Tem que saber fazer a integração, porque é um choque de futebol muito grande. Estão acostumados com garotos de 18, 19 anos e, de repente, pega um jogador de 28 anos, que já está há cinco no auge da forma física. Tem que introduzir no futebol profissional de maneira científica, de forma que ele não sinta. Acho que Xerém pode render muito mais para o elenco profissional e também para o mercado de venda, não pela qualidade do jogador, mas pela forma de aproveitá-lo.

10 – O marketing talvez seja a área mais criticada dentro do Fluminense. Qual é a sua opinião sobre aquilo que foi feito nos últimos seis anos na pasta e o que pretende fazer para mudar ou complementar o trabalho desempenhado?

– Eu acho que sempre faltou ao marketing, primeiro, braço. No Fluminense, a equipe é muito pequena se comparada com outros clubes. Marketing hoje não é tão diferente do futebol, tem que investir. Pode separar em duas áreas de atuação, que é comercial (que te consegue dinheiro na mesma área) e outra de ativação (você faz várias ações que não te dão dinheiro naquele momento, mas fideliza um público que pode te trazer recursos de outras formas). Ter uma equipe tão pequena para fazer tanta coisa, naturalmente deprecia o resultado, passa a ser ruim. A gente nunca teve um resultado que seja satisfatório. Acho que é impossível que seja culpa do gerente. É problema da forma de encarar o marketing. Precisa fazer um investimento, que gere uma equipe grande. Precisa encorpar a equipe, trazer mais profissionais para dentro, com uma previsão de retorno desse investimento. Tem que equipar o departamento comercial, de ativação, dar metas para eles e cobrar resultado. Acho que é isso que vai fazer o departamento de marketing andar. Não acredito realmente que são as pessoas que estão lá, senão as mudanças teriam dado efeito. Acho que a filosofia de encarar o marketing não estava correta. Marketing é investimento. Tem que separar as atuações, dar meios para cumprir as tarefas que você determina e depois cobrar o resultado. Dessa forma, acho que consegue mais eficiência.

11 – Qual é a sua opinião sobre contratos assinados, de atletas, funcionários ou acordos em geral (TV, patrocínio e etc), que extrapolem a gestão vigente?

Acho que depende do tipo de contrato. Atleta, por exemplo, é uma coisa separada, porque hoje em dia, como não existe mais passe, para trazer qualquer jogador você precisa amarrar um contrato que leva tempo. O caso do Sornoza e do Orejuela é exatamente isso, por exemplo. Alguns tipos de contratos é difícil você não fazer. Por exemplo, televisão. Os períodos são longos. Fica difícil para o presidente conseguir fazer diferente. Um ou outro, acho que você pergunta, como contratos de empréstimos, de adiantamento de receita. Isso tem que passar pelo Conselho Fiscal. Sempre que o presidente foi fazer um contrato desses, ele veio me consultar. Aí ele coloca para o Conselho Fiscal e dizemos sim ou não. Hoje não temos nenhum empréstimo que ultrapasse a gestão do presidente, cota de TV adiantada. Então, tem casos e casos.

12 – Os grandes críticos da atual gestão têm o futebol como o calcanhar de Aquiles do Peter Siemsen. Você acha que os resultados condizem com o planejamento? O que foi feito de certo e errado desde a ruptura com a Unimed nesse sentido?

– Acho que o futebol pode melhorar muito. Isso é o principal motivo que mais faz querer ser o presidente. Deveria ter sido feito de forma mais equilibrada, tanto financeiramente ou em termos de atleta. Poderíamos ter feito melhor. O momento de ruptura (com a Unimed) foi complicado, realmente. Houve uma lógica de como equacionar aquele momento ali, que foi levada. Por um período de tempo ela funcionou, mas a continuidade da lógica não deu certo. Ano passado chegamos relativamente bem na Copa do Brasil, mas o clube chegou a sofrer para sair dali da zona de rebaixamento. Esse ano, eu acho que a gente investiu mais dinheiro ainda e também não tivemos um retorno condizente. Deveria ter sido feito melhor e dá pra fazer melhor com outra filosofia de contratação. Nisso eu acho que essa gestão pecou muito, principalmente depois da saída da Unimed.

13 – Quais mecanismos podem ser usados para evitar uma espanholização do futebol? No próximo ano, Corinthians e Fla, por exemplo, receberão três vezes mais do que o Flu. Como pretende gerar mais receitas para o clube?

– Tem três formas de atacar esse problema. Primeiro, é a própria distribuição de cotas que tem que ser atacada, tem que brigar junto a empresa que vai ter o direito de transmitir os jogos, por cotas melhores para você. Se possível, em conjunto com outros clubes. É muito difícil brigar sozinho por uma mudança de modelo como um todo. Fora dos dois primeiros, isso vai  acontecer com outros clubes, como acontece na Espanha: você tem Real Madrid e Barcelona muito destacados e o Atlético de Madrid você vê conseguindo fazer frente em alguns momentos. A segunda frente de atuação é justamente essa. Como o Atlético de Madrid consegue fazer isso? Ele faz pensando o futebol de uma forma diferente dos outros. Você tem que ter a sua base gerando muito atleta e tem que buscar os atletas antes deles serem alvos dos clubes que têm mais dinheiro do que você. Brigar com eles apenas com o dinheiro, você perde. Não é assim que você briga. Você tem que descobrir o grande jogador antes, quando ainda não depende de tanto dinheiro para você tê-lo. Trazer um jogador que já está consagrado é muito mais difícil do que trazer um jogador que está pra nascer. Então, na segunda frente, tem que atacar o momento certo para descobrir o jogador. Depois, quando ele der bastante resultado, quando for o momento adequado, vai fazer mais dinheiro com ele, para ter mais condições de competir contra. Tem que arranjar um modelo de futebol diferente deles. O terceiro que eu vejo, é gerar novas receitas utilizando seu torcedor e é aí que entra o estádio. Ter um estádio próprio é tanta obsessão minha justamente por isso. Um estádio novo traz uma sensação de que aquilo é a casa dele e ele vai querer ir sempre, independente se o time está bem, mal, se é longe, perto. A ideia é transformar aquilo ali em algo que o torcedor queira ir, independente de qualquer outra condição que não seja o Fluminense em campo. Isso traz dinheiro. O torcedor está ali, consumindo, os patrocinadores vão ter interesse de expor a marca deles no Fluminense e isso gera muito dinheiro. É assim que você vai fazer um futebol capaz de competir com esses dois que já recebem muito dinheiro.