Os torcedores cada vez mais serão chamados a atuar na gestão dos clubes nestes tempos de cliente-patrão e tendência inevitável para a profissionalização dos processos. O futebol brasileiro foi vilipendiado pela incompetência e má-fé. Hoje se encontra diante de um terrível impasse, e dele só sairá se mudarem os atores e os roteiros. Clubes de tradição centenária tiveram seus recursos exauridos muitas vezes pelo conluio fétido entre dirigentes e empresários inescrupulosos. Adotou-se uma política salarial irresponsável como forma de provocar mais sobras. Aves de rapina em banquetes. A ânsia do dinheiro fácil levou a camarilha a cometer erros primários, despreocupados que estavam com as condições de sustentabilidade institucional de suas fontes de negócios sujos. Esses predadores, por incompetência ou visão macro do processo de gestão de clubes, quebraram instituições centenárias e levaram-nas a depender demasiadamente de uma única fonte de recurso, a televisão. O resultado era óbvio: os clubes sucumbiram à crise a reboque da retração por realinhamento dos investimentos da mídia. As projeções de número de assinantes das tvs pagas foram se frustrando de forma ameaçadora, e quando se recompuseram, o processo se deu pela concentração de investimentos nos “clubes de massa”.


 
 
 

A revelação do lixo sob o tapete das entidades federativas do futebol brasileiro fez minguar a audiência média da tv aberta. Receita retraindo, compromissos vencendo e nenhuma, nenhuma mesmo, criatividade em encontrar a saída para o caos que eles mesmos criaram. Talvez estejamos entrando na era do torcedor. Não mais como pagantes passivos do festival de irresponsabilidades, mas como acionistas minoritários organizados sob a forma de clubes de investimentos, ou por meio da ampliação de direitos nos projetos corporativos dos clubes. Apaixonados sempre, embora agora observadores atentos. O Fluminense só tem a ganhar com isso, é seu compromisso histórico liderar a mudança. Temos nas mãos um precioso patrimônio. Mas somos, antes de tudo, críticos. Estamos prontos para dividir a responsabilidade de repor o Fluminense em seu lugar histórico. Dependentes químicos da esperança, exigiremos, entretanto, cada vez mais por competência e resultados. Antes, no entanto, é impositivo romper com a reprodução de um modelo que permite a chegada ao poder pela repartição de interesses provincianos de minorias patéticas.

Dionisíacos incuráveis, somos súditos de um reinado da paixão, motor de tudo o que aqui nos move. Nossa sorte é que nada se fará sem nós, e sem nós só reinará o vazio.