O Panorama Tricolor, site acoplador de opiniões de diversos torcedores do Fluminense, e o blog Laranjeiras, do jornalista Fagner Torres, da ESPN Brasil, também se posicionaram contra a atitude arbitrária da diretoria do Fluminense em vetar a cobertura jornalística do NETFLU nas dependências do clube. O Panorama, nas figuras de seu criador Paulo-Roberto Andel e de Felipe Fleury, questionaram a censura, enquanto Fagner, ao parabenizar o Tricolor pelo seu aniversário, se diz constrangido com a medida cerceadora imposta pela diretoria. Confira:

 


 
 
 

A surpresa negativa da censura (Por Felipe Fleury)

A notícia de que o Fluminense proibiu a cobertura jornalística do site NetFlu nas Laranjeiras me surpreendeu mais do que me surpreenderia qualquer desmando futebolístico dessa administração.

Uma surpresa negativa, evidentemente.

Não é de hoje que o Fluminense, num processo autofágico, sabota o próprio Fluminense. Costumeiramente tem sabotado a própria torcida, a história do clube, escritores que desinteressadamente se doam ao Tricolor e, agora, a sua própria imprensa.

Apesar de o texto que noticia a censura imposta nas Laranjeiras não explicitar, parece bem claro que as ordens “superiores” emanaram do Presidente Peter Siemsen, único com autoridade para uma determinação de tal magnitude.

Logo ele, um advogado, que deveria zelar pelas garantias da liberdade de imprensa e de expressão. Logo ele, o presidente do Fluminense, clube que sempre foi um dos bastiões da fidalguia, da honra e dos valores democráticos.

Em se confirmando a censura, não haverá razão plausível que a justifique. Vale lembrar que num passado nem tão distante assim, diversos veículos da imprensa desportiva massacraram jornalisticamente o Fluminense, com consequências severas tanto para o clube, como para seus torcedores, sem que medida semelhante houvesse sido adotada.

A vedação da cobertura jornalística não se justificaria nem mesmo ante a gravidade daquelas agressões, embora pudessem ter sido adotadas outras medidas, inclusive judiciais contra as inverdades propaladas, e também não se justificam agora, certamente por muito menos.

A violação de um direito fundamental não pode ser instrumento de represália a qualquer conduta, por mais perniciosa que seja. Além disso, a proibição da cobertura jornalística de um veículo de comunicação que tem por objeto apenas noticiar o Fluminense, não prejudica apenas o site, mas, e sobretudo, a imensa torcida tricolor que o acessa diariamente em busca de informações das Laranjeiras, preterindo outros tantos veículos da mídia tradicional que, como sabemos, nem sempre tratam o Fluminense com o respeito que merece.

Escrevo estas linhas profundamente decepcionado com essa conduta arbitrária e despropositada da Administração do Fluminense, e na esperança de que a repercussão – pelo menos a repercussão, senão a consciência – desta violência enseje a revisão da medida.

A história do Fluminense não pode ser manchada por essa vilania.

A democracia jamais pode ser uma mera formalidade estampada na Constituição e nas Leis. Para ser plena deve ser exercida diariamente por todos nós, respeitando e garantindo os direitos constitucionais de terceiros. E o Fluminense, clube democrático que é, deveria ser o primeiro a dar o exemplo.

Panorama Tricolor

 

Apesar de você, 114 anos (Fagner Torres)

Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia

 

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

 

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

 

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

 

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

 

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

 

Apesar de você

 

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lalaiá lalaiá lá… (*)

 

Em primeiro lugar, me sinto desconfortável em escrever este texto no aniversário de 114 anos do NOSSO clube. Desconfortável, sobretudo, porque ontem, 20, estive na arquibancada do Estádio das Laranjeiras, onde entrevistei o candidato da situação à presidência do Fluminense – por quem fui recebido com todo respeito e fidalguia durante as quase duas horas de conversa, diga-se de passagem.

 

No entanto, como blogueiro, jornalista, tricolor e também leitor, não posso deixar de pontuar minha insatisfação com a decisão institucional do NOSSO clube, que consistiu na censura ao trabalho dos profissionais do portal NETFLU, órgão que é referência de informação para milhares de tricolores em todo o Brasil.

 

A medida pegou não apenas este blog de surpresa, mas boa parte da internet em três cores, visto que o veículo, como dito acima, é uma referência, acostumado a trazer notícias relevantes sobre o cotidiano do Fluminense. Notícias essas que, na ampla maioria das vezes, não são abordadas com a devida profundidade nos meios de comunicação tradicionais.

 

Definitivamente, foi uma decisão autoritária da atual diretoria. Ao tomá-la, nossos dirigentes, embora com verniz de modernidade, dispuseram de um método euriquista, obsoleto e ultrapassado de lidar com o contraditório no trato com a imprensa, mesmo esta sendo claramente clubista e segmentada. Tal postura é incompatível com o histórico de defesa da liberdade do Fluminense Football Club.

 

Fica minha solidariedade aos jornalistas Leandro Dias e Paulo Brito, sempre incansáveis no papel jornalístico, e tricolores da mais alta estirpe. À direção, o registro deste apelo, na torcida para que esta estúpida decisão seja logo revogada, como forma de evitar outro episódio negativo à imagem do NOSSO clube.

 

 

Feliz Aniversário, Fluminense (Paulo-Roberto Andel)

FELIZ ANIVERSÁRIO, FLU

Tudo começou há muito tempo atrás, quando Félix era nosso goleiro e adorei seu nome diferente num álbum de figurinhas do meu pai, com os campeões mundiais de 1970. Mais precisamente, quarenta e três anos.

De lá para cá, o tempo passou veloz e caudalosamente. Das toneladas de pó de arroz aos jogos com cem mil pessoas a certa gourmetização, evangelização política e os públicos diminutos do football moderno. De supercraques e perebas a guerreiros e manchetáveis. De certa empáfia elitista trocada por outra. Céus e infernos, incertezas, dores, alegrias imensas, contestações. Jogos imortais e outros sofríveis, títulos memoráveis e campanhas pavorosas. Gente pobre, sofrida, mendiga. Ricaços, famosérrimos e “bem nascidos”. Tudo. O Fluminense não tem a vocação do mundo de Pollyanna, onde tudo é belo e perfeito. Que nada: é cheio de varizes e cicatrizes, mas também de um rosto da história lindo de morrer. O Fluminense não é água de bidet, fraquinha, mansa, mas rio de correnteza forte aconselhando os peixes novos a terem muito cuidado. História, meus amigos!

É claro que quero ver o Fluminense cada vez maior, fazendo jus a todas as previsões de eternidade do mestre Nelson Rodrigues. Mas é bom que se diga: enquanto isso não acontece, lá estou eu a torcer e vibrar. Foi assim em 1982, quando perdemos para o CSA de Marciano e a Portuguesa da Ilha de Rico, dentre outras pérolas – mas também vencemos o Flamengo no último minuto, com um gol de Amauri, depois de termos levado uma sova no primeiro turno. Das grandes finais e títulos, quase todo mundo se lembra e eu estava em quase todas elas: dos cariocas, só perdi ao vivo 1985 e 2012. Dos quatro Brasileiros, vi dois no campo, acompanhei tudo de três e, pela junção de sorte com destino e algum talento, pude escrever o primeiro livro no Brasil sobre 2009/2010, consagrado como o tempo do Time de Guerreiros.

Embora tenha lá minhas peculiaridades, pensando em quarenta e três anos, decorreram 15.695 dias. E eu não deixei de pensar no Fluminense em nenhum deles, navegando pelos passados e presentes, sonhando com o futuro, querendo o melhor, torcendo, torcendo, torcendo. Não para o sucesso pessoal de dirigentes e seus grupelhos, nem especificamente por um nome só, mas pelo Fluminense como um todo: sua história, sua gente, sua elite que pode desfilar em salões nobres e também em vielas das favelas. Aquele escudo que passa por todos os lugares e vai do peito de um general reacionário ao mais romântico dos comunistas –USURPADOR É O MEU CARALHO! Gatas lindas, rapazes sagazes, velhinhos que viram Valdo e Didi, gente que viu o Fla-Flu da Lagoa – Gávea porra nenhuma!; sobreviventes da final de 1950 que ficaram completamente vingados em 1952, campeões do mundo que foram. Era o Fluminense, meu senhor!

Gente que entendeu que a Máquina era poesia, jazz e muita doideira. Garotos que enlouqueceram com o timaço de 1980 comandado pela força jovem de Edinho, os golaços de Cláudio Adão – o melhor camisa 9 que vi no meu Fluminense –, a dedicação de ferro de Rubens Galaxe. Eu era uma dos meninos daquele tempo e passei a perseguir o Tricolor para sempre – ele foi meu Bob Dylan de uniforme, chuteiras e coração.

Pelas décadas, o meu Fluminense foi senhor dos tempos, invencível até na hora dos piores resultados e da morte anunciada – ressuscitou no terceiro dia, subiu aos céus, voltou à Terra e mostrou que ainda era fullgásdemais. Bem disse o gênio Marcos Caetano: “Não há divisão capaz de tragar o Flu”. Não mesmo. E tenho saudade até dos tempos do time proletário, mesmo com aqueles nove anos sem títulos, que muitos definem como uma época pavorosa, provavelmente desconhecendo que, no período em questão, disputamos várias decisões cariocas e chegamos imensamente perto das nacionais. Explico o meu sentimento: o time era humilde, mas tínhamos nosso Super Ézio e ele era um rigoroso Fluminense – elegante, humilde, simpático, o herói que todo jovem ou criança sonhava ser. Mais à frente, homens, mulheres e crianças se derreteram por Fred, seus gols imortais e sua lida.

Gente que chorou e sorriu, viveu e morreu com nossos gols nos últimos minutos, nossas conquistas que deixaram jornalistas com cara de torta de amendoim, manchetes rasgadas em cima da hora e os editores muito putos. Que chorou e sorriu com nossos quases, até que de 2007 a 2012, vivemos alguns dos mais espetaculares capítulos que um time de futebol poderia no mundo: matar ou morrer. Houve quem pensasse que o Fluminense estaria morto depois da final da Libertadores de 2008, sob santa ingenuidade. A derrota às vezes se aproveita da nossa imagem para curtir quinze minutos de fama, nada mais. Como pode ser mortal com aqueles golaços de Dodô contra o Arsenal e Washington contra o São Paulo? Nunca! Somos maiores do que a óbvia história nos momentos cruciais.

Meu pai, que me levou a trinta jogos e me soltou pelo mundo das três cores imortais. O Luizinho, meu amigo desaparecido que me acompanhava nos jogos mais estapafúrdios e vazios. O outro Luizinho, meu amigo de sempre, agora também meu parceiro literário. Minha mãe, que virou Fluminense para me ver feliz. Ver jogos do lado da Fôrça Flu, no alto da Young Flu, na Fiel e tantas outras mais.

O meu Fluminense mora nos meus queridos times de botão, nas saudades de um Maracanã assassinado, em grandes tardes na arquibancada íngreme das Laranjeiras – que espero um dia vê-la de volta, rediviva -, em páginas e páginas que escrevi, nos abraços que pude trocar com alguns dos meus maiores ídolos conhecidos: Pinheiro, Castilho, Gilberto Gil, Ítalo Rossi, Ivan Lins. E os próceres dos estádios, os líderes da massa e mesmo qualquer garotinho humilde e pobre como eu era, sonhando com um cachorro quente Geneal e um copo de espuma de Coca-Cola vendido pelos astronautas, todos de branco, caminhando por cima do invencível concreto do Mário Filho.

Debaixo daquela tempestade contra o Náutico na terceira divisão, eu me senti tricolor pacas. Éramos nós contra o mundo. Nisso, pioramos: agora somos nós contra nós mesmos. Este ser humano que destrói suas melhores coisas…

Por causa do Flu, tenho tido inúmeros momentos felizes. Conheci centenas de pessoas muito legais, vivi experiências sociais fantásticas e, embora noutro curso, consolidei minha carreira de escritor. Rodei o mundo e finalmente montei esse cafofo chamado PANORAMA, onde você, sendo fanático(a) pela leitura, pode se deliciar com quase dez mil páginas sobre o Tricolor das Laranjeiras. Assim sendo, sou imensamente grato a você que nos lê.

Para finalizar: eu procuro o Fluminense no jazz, no Concretismo, na poesia marginal, nos livros cult que quase ninguém leu, nas notas de jornais velhos, sem um arranhão da caridade de quem me detesta, sem recíproca, pois tenho apreço aos animais irracionais, até mesmo aos ladrões de oxigênio da Terra. Nestes palcos inesperados é onde o nosso escudo se agiganta e me remete ao velho Batsinal nos céus de Gotham City. Pode ser também numa tampinha de garrafa, numa folha de papel recortada por um garotinho feliz, num leito de hospital à beira da morte ou debaixo de um viaduto. Também na bela bandeira à janela de um apartamento da Avenida Atlântica, no Leme, coração do Brasil. Na porta da Vila Aliança. O Fluminense está em todos os lugares e não tem dono – é uma pátria livre, a ser entendida por alguns amadores da empáfia que se julgam profissionais.

Dois bebuns sentados também na Atlântica, à beira-mar, enquanto as garotas de programa procuram trabalho e o mercado da cocaína corre solto. Um, de camisa das três cores, se lembra dos tempos de Ézio; o outro diz que que 2010 foi demais; os dois querem ver mais negros nas fotos de campanha das redes sociais. Um dá um trago num baseado modesto, o outro ri, os dois se abraçam e riem muito quando um ciclista da madrugada, praticamente doidão, vem do sentido Leme-Posto Seis e passa gritando: “Que se foda tudo: eu quero ver é o Fluzão campeão nessa porra! Vai, Ceifador!”

Aquele gol do Barthô em 1912, o empate em 2 a 2 na Lagoa em 1941, o Mundial de 1952, o 3 a 2 de 1969, Assis, Assis, Renato, Fred, tudo. Partidas no subúrbio às três da tarde (os refletores não funcionavam com a inflação a 47% a.m.), partidas esvaziadíssimas no Maracanã quase tenebroso – em 1994, contra a Portuguesa, eu e meu amigo Flávio Souza, o “Assustado”, vimos a vitória por 2 a 1 com outros 600 torcedores depois de um dia de dilúvio – e ali nasceu o grande campeão de 1995, mas nenhum de nós sabia.

Por isso e tudo mais, sem cortes nem edições inglórias ou espúrias, feliz aniversário, Fluminense do meu amor. O Fluminense do meu coração, que não confundo com flubabacas de ocasião.

SEISCENTAS COLUNAS E AGRADECIMENTOS

Mil e duzentas páginas. Ou quase. Ou mais. Dá uma antologia. Uau! Mas, no fim, é apenas um número, que não serve de detestável autobustificação. Nada pode ser mais ridículo do que um autopromotor das qualidades – Chiquinho Zanzibar que o diga.

É apenas a celebração de um trabalho voluntário, feito com todo prazer numa casa de literatura com velhos amigos, outros novos e gente de talento.

A todos os amigos, cronistas, colaboradores, leitores e fãs deste PANORAMA, e também a Gustavo Albuquerque e Dedé Moreira (Globoesporte-Flupress); Fagner Torres (ESPN); Leandro Dias e Paulo Brito (NetFlu), Nelson Ferreira e Antonio Gonzalez (Observatório do Fluminense); Dhaniel Cohen e Heitor D’Alincourt (Flu Memória) Ricardo Mazella (TV Brasil); Gabriel Peres (TV Flu); Claudio Kote (Rádio Flu); Beto Meyer, Gustavo Valladares e Sergio Duarte (Torcida Tricolor/Rock Flu), mais Marcelo Savioli (O’Tricolor) e Hugo Ottati (Central Tricolor), um grande abraço e meu apreço.

Há muitos outros nomes. Que todos se sintam representados por Zeh Augusto Catalano, certamente o melhor vascaíno que poderia construir um grande blog sobre o Fluminense, tendo feito isso por ser meu amigo há 26 anos – e este final serve para exaltar o bem mais precioso dessa vida: a amizade.

Mágoas, arrogâncias, invejas, constrangimentos, autopromoção, tudo isso soa pequeno demais, insignificante demais quando o assunto é amizade. AMIZADE.

A vida é isso. As grandes histórias ficam, os homens de pequeno espírito fenecem e o Fluminense, essa ideia fantástica de 114 anos, aí está. E vai continuar. Amanhã há de ser outro dia, mas a paixão é permanente.

Se a saúde permitir, serão duas mil e quatrocentas.

CENSURA AO NETFLU

Uma covardia. E a história é implacável com os covardes. Aí estão 2013/2014 que não me deixam mentir.

Panorama Tricolor