Romário conta que livro sobre CPI do futebol vai “estarrecer” brasileiros

CBF tentou censurar a obra do Baixinho

Ex-jogador do Fluminense e considerado um dos melhores atacantes de todos os tempos, Romário lança neste sábado, na Bienal do Rio, livro no qual aborda os bastidores da CPI do Futebol e atuação da CBF para neutralizar as investigações. Em entrevista à coluna “De Prima”, ele fala sobre a atuação na Comissão e não quer que chamem os que apoiam a CBF de bancada da bola.

O Baixinho, que cogita ser governador do Rio, também pensa em assumir cargo no futebol no futuro, como a presidência da CBF.

 
 
 

Como surgiu a ideia do livro?

Quando colhemos as assinaturas para a CPI no Senado, já tinha certeza que ia fazer de tudo para realizar uma CPI diferente da que foi realizada. Já tinha noção da dificuldade que seria para tentar finalizar com um resultado positivo no que se refere a uma relatoria, mas me meti de cabeça no tema. Consegui trazer pessoas competentes, Polícia Federal, TCU, Ministério Público, Procuradoria-Geral. Conseguimos trazer um grupo competente e colocamos as ideias em prática. Depois de dois, três meses de CPI, entendi que poderia se tornar um livo. É para que todos os brasileiros possam entender como funciona o futebol brasileiro e também a CPI. É para que vejam como é o futebol, conduzido pelos corruptos que fazem parte da maior entidade esportiva do país e uma das mais corruptas do futebol mundial. Entendi que o livro seria de relevância.

Quanto tempo para a conclusão do livro?

O livro começou a ser escrito no terceiro, quarto mês de CPI. Acabou há uns dois meses. São muitos detalhes. O livro tem toda a investigação, o que ocorreu por trás, nos bastidores da CPI. Foi difícil de ser escrito. Tem detalhes importantes. Os leitores vão ficar estarrecidos com o que vão ler. Tive ajuda muito grande do José Cruz, o jornalista que assumiu essa ajuda direta. Foi um trabalho em conjunto do gabinete e das pessoas que fizeram parte da CPI.

Não teme que o que escreveu possa atrapalhar alianças políticas futuras? Você relata, por exemplo, tristeza com Zezé Perrella…

Cada um tem a forma de fazer política. Quando se trata de uma CPI, tudo o que está no livro, não pode ter pensamento diferente. A verdade é aquela ali. Zezé Perrella, por exemplo, era um dos que colheriam assinaturas. Eu pensei que daquele momento em que conseguimos as assinaturas que ele seria um aliado, mas infelizmente isso não aconteceu. Ele sabe da minha decepção com ele. Não tem nada demais ou de menos no que falei. Esperava que ele votasse, no mínimo, contrário ao relatório do Jucá. Mas é um direito dele.

Entende melhor como a CBF tem uma bancada tão forte no Congresso?

Hoje, eu tenho visão mais clara. Mas já sabia disso desde o primeiro ano que cheguei à Câmara. As pessoas chamam de bancada da bola. Mas a bola não merece isso. A bola é uma coisa tão gostosa, tão boa, não podemos chamar de bancada da bola. Podemos chamar de bancada da CBF, mas poderia ser bancada 7 a 1, qualquer outro tipo de nome. Eu percebi que a CBF faz direitinho o trabalho em relação a esses parlamentares. Infelizmente, essas pessoas não deixam que o futebol ande da melhor maneira possível.

Qual sua leitura desse movimento que a CBF fez na Justiça para tentar notificar a editora de que haveria dados sigilosos no livro?

A mesma que eu tenho há seis anos. A CBF tenta de todas as formas não deixar com que o mundo saiba o que ela faz de ilegal em relação ao futebol, a corrupção que envolve a CBF. Essa ação para atrapalhar o livro é uma prova que são os caras errados nos lugares errados do futebol.

O futebol algum dia vai sair dessa cadeia de comando, com um dirigente sempre fazendo sucessor?

Não acho. Mas, como brasileiro, tenho esperança e fé que um dia a instituição seja comandada por outras pessoas que tenham administração mais transparente e mais honesta. Enquanto estiver na mão desses, nada vai mudar no futebol.

Como está a troca de figurinhas com as autoridades, até mesmo dos EUA?

Temos relação positiva com vários órgãos, como FBI, Polícia Suíça, procuradoria da Espanha… Passamos o relatório paralelo da CPI, que na minha concepção é o verdadeiro, para todos. Temos visto que o resultado tem sido positivo. Nossa polícia e nosso Ministério Público resolveram entrar nessa história de corrupção da CBF e fazer investigação mais profunda.

Olhando para o momento do país, não é meio utópico pensar que o futebol vai ser “oásis” de moralidade?

Nesse momento que vivemos falta de credibilidade total no país, pode parecer utopia mesmo da minha parte querer que algo diferente aconteça. Mas as provas estão aí. O trabalho foi feito, foi suado, honesto. Investigamos a fundo tudo e todos que tinham que ser investigados. Foi um trabalho que poucas CPIs tiveram. Eu fiz a minha parte, estou consciente. Falei que a CPI não terminaria em pizza. O relatório que foi aceito não foi o meu, mas é o nosso que está fazendo efeito, dando barulho. Por mais que seja utopia, vou ter sempre esperança que as autoridades competentes possam ver o futebol diferente. Por mais que o país esteja em situação complexa, o futebol é o esporte mais querido. Por que não começarmos uma limpeza pelo futebol?

Entende que o fato de o futebol da Seleção estar indo bem pode “anestesiar” essa investigação contra o comando da CBF?

Eu tenho consciência. No clube, quando o presidente não faz boa administração e o clube vai mal, a probabilidade maior é não ser reeleito. Por outro lado, por mais que a administração seja uma merda e futebol vai bem, ele tem chance de ser reeleito. Na CBF e no país, não é diferente. Hoje, o futebol está em um rumo muito diferente daquele do começo da CPI. Só espero que o resultado dentro de campo não atrapalhe a busca por uma investigação positiva, que possa botar na cadeia aqueles que comprovadamente assaltam o futebol brasileiro e são corruptos. O Romário senador tem esperança que algo aconteça com as pessoas. Mas o Romário torcedor acredita mais na Seleção e vê possibilidade de ser campeã do mundo na próxima Copa.

Como planeja a carreira na vida política?

Tenho mais quatro anos e meio de mandato de senador. Nesse tempo, temos duas eleições importantes no Rio, ano que vem para o governo e depois para a Prefeitura. Eu me mudei para o Podemos, sou presidente do partido. Hoje, há uma vontade muito grande por parte da executiva nacional de que eu seja pré-candidato ao governo do Rio. Estou começando a amadurecer, vendo possibilidade. Se acontecer, vou cair dentro. Mas acredito que não me vejo mais 20, 15 anos dentro da política. Tenho vontade de voltar a fazer alguma coisa no futebol. Não que ser senador atrapalhe. Mas vamos ver. Já começamos a ver, estudar no Rio. Se você me perguntar: “O que você é hoje?”. Hoje, sou um pré-candidato ao governo do Rio. Hoje. Mas temos quase um ano aí para amadurecer essa ideia. Eu não posso dar data exata, porque a política é muito dinâmica. Já comecei a entender o estado, comecei a conversar com algumas pessoas que podem me ajudar a pensar nisso.

O que seria essa atividade no futebol?

Um presidente da CBF, presidente do América, um diretor de futebol da CBF ou de um grande clube. Passa pela minha cabeça. Quando eu falo CBF, todos os que estão ali sairão. Se for diretor, seria com outra administração.