Foto: Lucas Merçon

A final da Taça Rio, envolvendo Fluminense e Flamengo, não foi disputada apenas no futebol. O emocional dentro e fora fizeram parte também, como revela reportagem do Uol Esportes. Confira na íntegra:

“O título da Taça Rio pode parecer pequeno para um clube com tantas conquistas como o Fluminense. Mas a edição de 2020, sem dúvidas, deve um sabor especial para jogadores, comissão técnica, diretoria e torcida. A vitória sobre o arquirrival Flamengo, favorito para o jogo, começou a ser construída nos bastidores, com motivação e provocações bem antes do apito inicial.

 
 
 

Como se não bastasse a rivalidade que sempre permeia o Fla-Flu, rubro-negros e tricolores estiveram em lados opostos fora de campo durante os últimos dias.

Desde a discordância pelo retorno do Campeonato Carioca, passando pela disputa em tribunais pela transmissão do jogo, os rivais não falaram a mesma língua. Na verdade, não se falaram. Apesar da boa relação e da parceria na gestão do Maracanã, os presidentes Mário Bittencourt e Rodolfo Landim nem se cumprimentaram na quarta (8), seja antes, durante ou após o jogo.

Além das questões fora das quatro linhas, o Tricolor tirou do passado motivação para derrubar o maior rival, que vive uma das melhores fases de sua história.

Preleção recorda Fla-Flus históricos

Ainda no hotel, o presidente Mario Bittencourt comandou uma preleção que recordava momentos históricos do clássico, conhecido por nem sempre dar louros aos favoritos.

A começar pelo primeiro confronto entre os rivais, quando o Flu, mesmo após perder nove titulares que criaram o departamento de futebol do Fla, venceu o clássico por 3 a 2 no campo da Rua Guanabara, hoje o Estádio Manoel Schwartz, nas Laranjeiras. Outras históricas decisões como as de 1969, 1983 e 1995 também foram relembradas. Em todas, o Tricolor não era favorito, mas saiu com a taça.

O discurso acalorado do mandatário, acompanhado do diretor Paulo Angioni, do auxiliar Marcão e do preparador físico Marcos Seixas, inebriaram os atletas, que motivavam uns aos outros no caminho do estádio.

Ao chegar no Maracanã, uma nova notícia colocou mais fogo no elenco tricolor: o Flamengo já previa, após planejamento e acordo com os jogadores, folgas após o título do Carioca, que viria na noite de quarta-feira em caso de vitória dos comandados de Jorge Jesus. O triunfo era uma certeza no vestiário rubro-negro.

Clima quente dentro de campo

Fora das quatro linhas, jogadores de Flamengo e Fluminense nutrem grande amizade. O atacante Pedro, cria do Tricolor, por exemplo, é amigo inseparável do zagueiro Digão, que estava quarta-feira no banco de reservas. Como Everton Ribeiro e Egídio desde os tempos de Cruzeiro.

Outros se conhecem há quase 20 anos, como os meias Nenê e Diego, que jogaram juntos no Santos, em 2003. Ainda assim, a dupla de experientes meias trocou farpas em campo na decisão.

Pelo Fla, o lateral direito Rafinha foi um dos que mais provocou os tricolores. No primeiro tempo, ao passar no banco, reclamou de dribles de Marcos Paulo e trocou xingamentos com Orinho, o que se repetiria em alguns outros momentos.

“Jogou onde?”, provocou Rafinha, na descida para o intervalo. O lateral, que passou anos na Europa, repetiu isso inúmeras vezes, tanto para a revelação do Flu como para o lateral esquerdo reserva tricolor. Coube a Nenê tomar as dores, também em tom de provocação:

“Ficar no banco e viajar pela Europa não é jogar”, disse o experiente camisa 77, já que no alemão Bayern de Munique, onde construiu carreira, o lateral direito rubro-negro costumava ser reserva do craque Philip Lahm.

Em outro momento, o técnico Odair Hellmann brincou com o atacante Gabigol. A discussão, então, passou a ser do camisa 9 com o treinador. Curiosamente, o ídolo rubro-negro e o comandante tricolor já trabalharam juntos na seleção brasileira e se adoram. Mas já haviam trocado provocações no confronto pela semifinal da Taça Guanabara. Nada que abale a amizade. Após o jogo, eles se falaram. Coisas do jogo.

Discussão na disputa de pênaltis

As farpas seguiram durante toda a partida, tanto entre reservas como titulares. Na disputa de pênaltis, se intensificaram.

A começar por Gabigol, que, após abrir as cobranças balançando as redes, desdenhou de Muriel: “Esse não pega nada”. Assim que o goleiro do Flu parou o volante Willian Arão, na marca de cal, os jogadores tricolores se viraram aos rubro-negros. Diego pediu para que “baixassem a bola”, e Nenê o desafiou.

Antes que convertesse sua penalidade, o peruano Fernando Pacheco ouviu de Pedro que “era fraco e perderia o pênalti”. Provocação repetida por Diego Alves, que perguntou, com ironia, ao árbitro Bruno Arleu de Araújo: “Acaba agora, né?”.

Em linda cobrança, ele balançou as redes pela última vez na noite, correu em direção ao goleiro, fez o sinal de “cheirinho”, em provocação ao Fla, e lhe disse: “Estica mais o braço. Pega lá”, em bom espanhol, antes de colocar a mão atrás da orelha, pedindo para ouvir mais. Na jogada do gol de Gilberto, no tempo normal, a bola parecia defensável, mas Diego não alcançou.

Êxtase que continuou com a defesa de Muriel, justamente em cobrança de Rafinha, que irritou os tricolores no Maracanã. Alguns tricolores chegaram a gritar em provocação aos rubro-negros no meio-campo, mas correram para abraçar o goleiro e comemoraram perto do gol, sem discussões após o fim das penalidades.