Ricardo Berna teve passagem vitoriosa pelo Fluminense (Foto: Photocamera)

Ricardo Berna teve passagem longa e vitoriosa no Fluminense. O ex-goleiro concedeu entrevista ao NETFLU e falou sobre o período que defendeu o clube, o atual momento, o melhor elenco do qual fez parte, o desejo de ajudar o Tricolor no futuro e muito mais.

Confira aqui a íntegra da conversa de Berna com o portal número 1 da torcida tricolor

 
 
 

Coronavírus e o futebol

— Interfere bastante porque futebol é um esporte coletivo. Você pode até manter o condicionamento em casa, dentro do possível, mas o entrosamento não tem como ser mantido. O isolamento faz com que exista essa lacuna. É como se um atleta lesionasse e tivesse se afastado do grupo. É uma situação atípica que todos estão vivendo. Acho que o clube vai buscar soluções, mas os prejuízos aparecem em todas as áreas, desde a parte física até a emocional e econômica. É um momento em que todos devem cooperar.

Momento do Flu até a parada por conta da pandemia

— Eu vejo o Fluminense num processo de reconstrução. E o Mário viveu muita intensamente a história do clube. O Mário esteve muito presente no clube quando eu jogava, inclusive em 2010. Ele comemorou com a gente, compareceu. Marcou bastante a figura dele como tricolor, fazendo o dia-a-dia do clube como advogado. Agora eu tenho acompanhado o trabalho mais de longe, porque estou em São Paulo. E tenho visto o empenho dele para contornar essa situação financeira e trazer um jogador de nome e peso, até para poder inspirar os jogadores que estão começando. O próprio Marcão que tem história no clube ajuda na identidade do clube. O Fluminense está num processo de reconstrução, depois de uma década de títulos com o aporte de um grande patrocinador. Na medida do possível, é importante fazer essa análise para responder a sua pergunta. Estou confiante.

E o que dizer do time?

— Acho que vinha ganhando corpo e, mediante ao histórico na Sul-Americana, por exemplo, poderia ter beliscado. Vejo que o torcedor, mesmo nesse momento que sofre com a pandemia, não abandonou o Fluminense. E a comunicação do Mário é muito positiva, ele vem agradecendo o apoio do torcedor. Acho que o conjunto pode fazer a diferença para trazer resultados melhores. Assim que as questões financeiras forem equacionadas, as coisas tendem a decolar.

Dois títulos Estaduais, dois Brasileiros, vice da Libertadores e Sul-Americana. Você é um dos, senão o jogador mais vitorioso da história do Fluminense. Imaginava algo assim para a carreira e num único clube?

— Eu sou muito privilegiado. O fato de eu sempre ter buscado ser temente a Deus e ser grato por tudo que eu conquistei, consegui crescer nesse clube. Tive a oportunidade de trabalhar com grandes treinadores e jogadores. Desde o momento em que fui contratado junto ao América-MG, eu cheguei ao clube já trabalhando de forma intensa. Tive a chance de ver os treinos de Carlos Alberto, Petkovic, que pareciam estar em jogos de verdade. E isso fazia muita diferença. Claro que paguei um preço muito grande para isso, assim como todos os jogadores. Poder conquistar três títulos nacionais não tem preço. Ficou a lacuna da seleção, mas eu sei que também precisaria ter comunicado um pouco melhor a qualidade que eu sempre tive, para poder alcançar esse objetivo.

A melhor fase de sua carreira foi no Brasileiro de 2010, quando houve uma rotatividade de goleiros e você se firmou. Por que acha que não seguiu como titular depois? Comente também sobre a relação com Cavalieri e Fernando Henrique

— Eu sempre fui um cara muito amigo de todo mundo, mas não era simples conviver comigo. Eu não comunicava muito bem aquilo que eu sentia. Eu tinha que me tornar mais competitivo e isso se tornou uma obsessão pra mim. Meu objetivo era chegar à seleção e vencer no clube. Só não consegui a seleção. Meus resultados no clube poderia ter sido melhores se se tivesse maturidade profissional. Não vou dizer se houve injustiça ou não, mas muitas coisas não me deixaram satisfeitos. E eu sempre fui muito autêntico. Depois de tanto tempo, consegui despontar e assumir a titularidade. E foi justamente quando chegou o Cavalieri contratado. O Fernando tinha todo apoio dentro do clube e não tinha apreço da mídia. Chegaram a contratar o Diego, que não deu certo. Aconteceram alguns arranca rabos, mas tudo dentro de um cenário saudável. Quando o Cavalieri veio eu já estava ali no meu último ano de contrato, se eu não me engano. Certamente eu tinha a posição de que não renovariam comigo. Só eu sabia, mas eu pensava em continuar. Tudo o que eu passei no período anterior, sendo injustiçado em algumas situações, aguentei calado. Eu acreditava que poderia mostrar meu valor dentro de campo e foi o que aconteceu com o Muricy. Em 2007 eu comecei jogando a Copa do Brasil e depois fui deposto pelo Joel Santana e não entedia porque aquilo aconteceu. Mexeu muito comigo, mas tentei me manter firme. Toda treinador que chegava tinha uma preferência. Eu tinha sempre que recomeçar e era um processo constante pra mim. O grande segredo de continuar no clube foi não ter desistido. Por isso renovei por três anos em 2010. Pouca gente sabe, mas o Corinthians chegou a me fazer proposta e eu não aceitei.

Que tipo de sentimento você nutre pelo Fluminense hoje? Se tornou um daqueles torcedores apaixonados, ou consegue avaliar mais racionalmente as partidas do time?

— Pelo nível de maturidade eu consigo avaliar melhor, mas como não estou mais atuando, às vezes me vejo xingando um ou outro jogador (risos).

Nenê e Ganso juntos é possível?

— Sim. É sempre muito bom poder vê-los atuar. Mas tem que ponderar as situações, ver quando se encaixam. São atletas mais experientes, que cadenciam mais, têm muita qualidade que podem ser utilizadas para ajudar o time.

Você jogou por anos no Fluminense. Qual foi o melhor elenco neste tempo todo do qual fez parte?

— Eu acho que 2010 e o de 2012 eram dois elenco muito capacidades. Mas é briga boa. Eu cheguei em 2005, que tinha Tuta, Marcelo, Thiago Silva veio depois… foram grandes jogadores em elencos diferentes. A chegada do Belleti, Deco, Fred, Conca… aquela mescla com atletas de capacidade e consistência acabou trazendo o título pra gente. Ainda tivemos o Sheik em 2010, Washington e Sheik. Mas ficaria 2010. Mas ainda tinha o time da final da Libertadores. Talvez a conquista do Brasileiro tenha pesado. Confesso que não assisti nunca a reprise daquela derrota. Foi a maior derrota da minha carreira.

Em sua opinião, o que faltou para o Fluminense beliscar um título internacional neste período?

— Faltou um gol, faltou não tomar um gol. Tinha tudo. Ainda tivemos uma final de Sul-americana, além da Libertadores. Foram detalhes. Quando perde, muita coisa pode ser apontada. Seria injustiça falar uma coisa. Talvez aquele primeiro jogo na altitude, por exemplo, contra a LDU, um início.

O que tem achado de Muriel em 2020? Se fosse técnico, escalaria ele ou Marcos Felipe como titular?

— Aí você quer me fuzilar (risos). O Muriel vinha muito bem no ano passado, saiu por lesão. Depois teve de se recuperar. A posição de goleiro é muito específica. O Marquinhos entrou muito bem e ajudou demais a equipe. Só quem tem a ganhar com isso é o treinador. Essa disputa é ótima para o Flu. Se o Muriel der bobeira.

Muricy e Abel

— Gostei muito de trabalhar com os dois. O Abel era mais próximo, chegava pra conversar, estilo paizão. Mas ele cobrava pra caramba, não tinha conversa mole. O Muricy já era mais fechado, mais na dele. A comunicação era mais através da comissão técnica. Ele chegava junto quando era pra dar uma chacoalhada. Era profissional demais. O negócio do cara era trabalho mesmo, não que o Abel não trabalhasse. Mas o Abel era mais flexível. O Muricy não se metia muito em questões extracampo, como atraso salarial. O Abel tentava interferir nisso, conversar. Foram dois baitas treinadores.

Vários ex-atletas do Fluminense trabalham hoje no clube. Tem essa vontade? Se sim, de que maneira poderia contribuir?

— Encerrei minha carreira em 2018, o Fluminense fez um jogo de encerramento pra mim nas Laranjeiras e me emocionei. Me sinto privilegiado por isso. Eu me formei em educação física, em gestão. Vinha me preparando para esse pós-carreira. Depois me aproximei mais da minha família. Passei nesses dois anos me organizando próximo da minha família, tenho participado de reuniões junto ao sindicato e me capacitando. Venho desenvolvendo um trabalho para trabalhar o consciente emocional do atleta e pode ajudar muito bem na busca de melhores resultados. Agora, se vai ser nisso, numa gestão ou até à frente de uma comissão técnica, não decidi ainda. Quando eu deixei o clube, fiz uma gravação dando um ‘até breve’ para a torcida. E espero ter a possibilidade de voltar.