Marco Manso revelou já haver propostas de clubes europeus por destaques do Samorin (Arte: Jonathan Christian - NETFLU)

Diretor esportivo do Fluminense Samorin, Marco Manso falou, em entrevista exclusiva ao NETFLU, sobre detalhes do projeto, os destaques do time como Peu e Luis Fernando, de volta ao Tricolor das Laranjeiras, propostas a jogadores do clube eslovaco e muito mais.

Veja aqui a íntegra do papo do dirigente com o portal número 1 da torcida tricolor:

Administração do STK Samorin


– Dentro das perspectivas, das circunstâncias, é um prazer estar podendo dar minha colaboração de um projeto tão grandioso e valioso na questão histórica. A base desse projeto é buscar uma oportunidade daqueles estudantes que estão saindo de Xerém a fazer uma graduação na Europa. Se levarmos para o lado educacional, já é um grande resultado. A transição está sendo natural. Vivo na Europa há 20 anos, não deixei de ser brasileiro, mas tudo que foi aprendido na experiência de vida tem nos ajudado na execução desse projeto do Fluminense, que não tem muito segredo. É ser profissional, dedicado e seguir a linha elaborada. Se você quiser uma vida bem tranquila, não venha trabalhar no futebol, seja no futebol brasileiro ou europeu. Esse projeto do Fluminense em Samorin não foge disso. Se alguém achar que é as mil maravilhas, não é assim, não. É adrenalina no dia a dia. Demos muito passos. A infraestrutura melhorou bastante, a mentalidade e o cuidado que temos é não deixar cruzar as linhas para não perder o foco. Temos um grande cuidado de o garoto que sai do Rio não perder a técnica e a improvisação do talento brasileiro, focando na disciplina tática do europeu. Não estamos esperando um eslovaco se transformar no próximo astro do Brasil. Somos muito pés no chão nisso.

Como iniciou o trabalho

– Esse trabalho internacional que o Fluminense faz através do Marcelo Teixeira já tem quatro ,cinco anos, muito antes do Samorin. O que aconteceu foram coincidências de vida que ocorrem uma vez a cada 100 anos. O Fluminense estava disputando um torneio sub-17 na República Tcheca. Eu, Marcelo e Peter Siemsen conversávamos sobre a oportunidade que poderíamos ter se o Fluminense tivesse um quartel general na Europa. Até chegar a Samorin, o clube emprestou jogadores para a Polônia, Suécia, Finlândia, Portugal. Os garotos começaram a crescer tanto e vinham cada vez mais e tínhamos mais de 15 jovens emprestados e pensamos então em ter um quartel general. Num desses torneios, onde eu e Marcelo estávamos fazendo observação técnica, pintou a oportunidade. Fomos lá, conheceu e hoje está aqui. Não programamos essa gravidez, mas o neném veio, o pré-natal foi tudo bem, mas tem muita coisa antes desse neném ir para a escola.
Por que o time teve uma queda de rendimento na segundona eslovaca?

– Na Eslováquia, como na maioria dos países europeus, o nível é muito perto entre o primeiro e o último, sem contar Espanha, Itália, França. O que aconteceu não foi salto alto não. Como a disciplina tática é muito rígida, pelos recursos que temos, não fizemos um plantel de muitas opções. Depois da quinta rodada todos os adversários sabiam os pontos fortes da gente. Começaram a cortar os pontos fortes e o jogo ficou mais equilibrado. Muitas partidas perdemos por uma bola na trave e vencemos da mesma forma. Mas em nenhum momento perdemos a tranquilidade. Esse entusiasmo todo de cinco vitórias seguidas não tirou nossos pés no chão, nem quando ficamos quatro, cinco jogos sem vencer. Estamos no caminho certo. Subimos uma divisão, reinicia a temporada e temos até 10 de junho para continuar na briga para promover. Está sendo um meteoro, mas tudo dentro do planejamento. Ganhar ou perder, às vezes, é um detalhe muito pequeno. Não nos entusiasmos muito quando vencemos, nem nos desesperamos quando estamos perdendo.

Chegaram propostas de clubes da primeira divisão eslovaca ou de outros clubes europeus por jogadores do Fluminense que atuam no Samorin?

– Chegou e chegou firme. Não somente ofertas. Em todos os jogos em casa, olheiros de times de outros países da Europa vem com os nomes para serem observados. Mas isso tudo é normal na Europa. Essas revelações que aparecem de repente numa Bélgica ou Inglaterra são monitoradas. Eles têm esquema de scout muito forte. Por ser uma região que está a 40 minutos, 1 hora de qualquer lugar, é muito mais fácil os grandes clubes europeus irem observar os garotos do Samorin, em termos de logística, do que um olheiro do Fluminense ir até Fortaleza ou Teresina. Tivemos propostas, mas não deixamos sair do planejamento. O projeto ainda está engatinhando, precisa de muito apoio. Ninguém é mágico, tem muita coisa a fazer. É continuar o trabalho de formiguinha que vai virar um vinho. Os olhos já estão virados para Samorin. O último exemplo que posso dar é o Alan Fialho, que estava aqui daqui, não tem nem dois meses, e já chamou a atenção. O campeonato nem reiniciou ainda. Mas somos muito pés no chão.

Quem é o dono do time, o Peu?

– Dono do time, não (risos). Ele é uma peça importante. Mas ele tem se destacado, foi artilheiro na primeira parte. Conseguiu uma bonificação, levar a esposa para lá. Brincamos com ele que se não fizer mais da metade dos gols, a esposa vai embora. São garotos do bem, que querem vencer. Chegou lá com mentalidade de se comprometer e ser dedicado, o futuro está a dois passos do paraíso.

Luiz Fernando

– Quando existe um destaque dá muito orgulho, mas, especificamente do Luiz, o comparativo que fazemos nos relatórios mensais, tanto técnicos quanto fora de campo, o Luiz teve uma evolução muito positiva no sentido de adaptação. Com quatro, cinco semanas de aula de inglês já comandava o time. É um líder natural. Fora de campo, um garoto simples que dentro se transforma. Essa adaptação muito rápida dele com o clima, cultura, o ajudou dentro do campo quando foi passada pela comissão técnica a função que iria fazer. Tem uma frase inglês que traduzindo podemos dizer que o Luiz pisou em cada centímetro da grama. A evolução tática fez com que ele abrisse essas portas aqui no Fluminense.

Convivência do Flu Samorin com a cidade

– Isso aí sempre comento que foi o jeito Fluminense de ser. Em nenhum momento chegou com a bandeira e fincou como se quisesse dizer “Agora vai ser assim.” Esses princípios básicos de respeito com eles é inegável que viram. O envolvimento foi aos poucos. É uam idade pequena, mas perto de tudo. Próximo a três, quatro aeroportos internacionais. A cada dia viram que o Fluminense não estava lá para tomar o clube de ninguém, roubar a cultura, mudar, nada. Mas para se juntar e formar uma coisa benéfica para todos. Os garotos têm programação de visitar escolas, creches. Isso, junto com a prefeitura, foi ajudando para ter uma consciência do esporte, do futebol. Se fosse há 30 anos até problemas de racismo a gente poderia ter. Mas em nenhum momento tivemos isso. O apoio é impressionante, tanto do prefeito como líderes de empresas eslovacas apoiam o projeto. E tem orgulho que o nome STK continua. Samorin será sempre a sede. Quando você trata as pessoas com respeito, o respeito volta naturalmente.

Jogador eslovaco vindo para o Fluminense, acredita nisso?

– Acredito sim, pois o futebol é muito simples. Tendo talento, sendo obediente taticamente, com todas as ferramentas para se adaptar… As dificuldades seriam até maiores no Rio. Pegar 40 °C no Rio de janeiro é muito pior do que – 5°C na Eslováquia. A linguagem do futebol é dentro do campo. Acompanho o futebol europeu e o zagueiro lá é zagueiro aqui. O atacante lá é atacante aqui. As dificuldades que existem são o idioma, clima, alimentação. Futebolisticamente falando, porque não? A tendência, quando tivermos mais recursos, garotos eslovacos, europeus, venham para um intercâmbio, aprendam, interajam. Quem sabe a gente tenha um estrangeiro aqui? Esse não é o objetivo, mas eu, particularmente, acho que isso vai acontecer naturalmente.

Existe uma ideia de pré-temporada que case para que Fluminense e STK Flu Samorin se enfrentem?

– Hoje podemos falar que não está no planejamento, pois as prioridades é pagar salário em dia, honrar os compromissos. Mas isso aí seria de uma grandeza histórica sensacional. No momento não está no planejamento. A parte financeira, hoje, é priorizada para o dia a dia. Não podemos pensar no jantar se nem tomamos café da manhã ainda. É por aí.