Imagino que eu esteja como todos vocês: sem saber escolher uma palavra para descrever o sentimento que passou na noite de ontem.

 
 
 

As palavras disponíveis no dicionário eu acho que não se encaixam na realidade. Fantástico? Incrível? Fabuloso? Sensacional?

Nada disso e isso tudo.

O Fluminense começou o jogo atropelando o adversário de uma forma que eu nunca vi. E aqui o “nunca vi” não é uma expressão exagerada. Eu nunca vi, nunca vi, vocês entendem?

Ontem foi absurdo. Os caras simplesmente não sabiam para onde ventava.

O Fluminense está jogando tanto futebol que eu confesso que deixei o Maracanã frustrado por não ter visto mais gols. E muitos saíram assim também. Então você recebe um time de uma pesada camisa, numa competição importante, passa o carro nele, faz o que quer com a bola por 90 minutos e sai do Maracanã com a sensação de frustração. Isso é louco. Mas é real!

Porque o Fluminense mereceu fazer oito, dez gols. E se fizesse seria algo realmente normal, dada a superioridade desde o minuto um.

Amigos, eu não sei se vocês notaram uma saída de bola no nosso lado esquerdo, já no segundo tempo. Ela precisa ser pintada à óleo e exposta no Museu do Amanhã. E da tela, mil, dez mil cópias, devem endereçadas às escolinhas de futebol espalhadas pelo Brasil.

Esse momento do Fluminense é um troço tão maluco que às vezes não é só difícil achar as palavras para definir. Está sendo difícil colocar também as coisas numa perspectiva lógica. É um emaranhado que não se explica, nem com teorias acadêmicas, nem com reza braba.

Você pega um clube absolutamente quebrado, com a sede literalmente entregue às baratas, num momento no qual o segundo pior presidente do clube (que sucedeu o pior) antecipa as eleições tamanha sua desaprovação, com um elenco montado na base do jeitinho, com salários atrasando sistematicamente, com um treinador que vem de um péssimo trabalho num clube dez vezes menor, com uma torcida que apanha mais do que bife de pensão… E… Plum! O troço funciona de uma maneira que te faz encher o peito e mandar, a esmo, o Barcelona pra casa do cacete, gritando pra quem queira ouvir e sendo muito mais confiante que irônico.

Que venha esse Barcelona. E que venham esses técnicos de nomes esquisitos que o Dedé Moreira volta e meia coloca aqui. Klopf, sei lá mais quem… Que venham ficar na beirada do campo assistindo ao Julião tocar a bola como quem coça o pescoço na rede da varanda.

Eu não quero saber de mais nada. Esse Fluminense malemolente é um frevo de Capiba, uma canção do Chico, como bem me mandou em mensagem o amigo Fagner Torres. Esse Fluminense é a playboy da Luciana Vendramini da década de 80, o desfile de Joãosinho Trinta, o sol caindo no Arpoador, o primeiro chopp da noite, colarinho balançando, chegando na mesa.

Aí você abre a caceta da internet e estão lá os caras falando isso e aquilo, dizendo que faltou isso e aquilo, exaltando os meninos, pedindo paciência com fulano, perguntando platitudes sem o menor nexo com a realidade, perguntando se o Fluminense tem “condição de brigar em cima”. Ahhhhh… “Brigar em cima”? Em cima de quem? Esse Fluminense não briga, ele vence na ideia. Ele constrange pela proposta. E você vem com esse papo de aonde o Fluminense pode chegar?

O Fluminense já chegou, amigo. Chegamos primeiro. Os títulos é que ainda não chegaram. Estão a caminho, atrasados no pragmatismo dos dirigentes que são incapazes de antever o óbvio e nos empurram mata-matas até dezembro.

Enquanto a gente sente o que sentiu ontem, vem o camarada lá da redação e diz que temos que manter a calma. Diz que a realidade não é bem assim.

Às favas!

Amizades, a gente tem que admitir – A GENTE TEM QUE ADMITIR! – que eventualmente, graças ao bom Deus, eventualmente a realidade é surreal.

Não tem explicação. Nem nos livros do Dedé, nem nas etéreas construções de Nelson Rodrigues. Um goleiro gordinho, lateral improvisado, time sem volante e com três meias (não venham me dizer que aquele menino é volante, pelo amor de Deus. Se fosse volante, seria Alân, assim, fechando no “ãn”. Não é. É Állan. Sei lá eu com quantos “L” de Luís a juntar as vogais. Állllllan… o meia que joga atrás e que carrega a bola de uma maneira que deve deixar o Messi bolado).

Caramba… Retomando…

Três atacantes, sendo um deles um  colombiano que é um puta maluco, cheio de perna e no meio da área um menino que se bobear não tirou nem o CPF ainda.

Ah!!! Foi mal. Alertei lá em cima. Quem não tem palavras escolhidas não pode ter um texto adequado.

Mas o que quero mesmo é desadequar. Nunca mais o tal cincão porradeiro, nunca mais aquelas bicudas horrorosas pra cima de mim. Nunca mais! Eu quero a sensação de ontem, a confiança dos últimos dias, a esperança crescente martelando o peito. Eu quero o Barcelona. Quero muito mais que o som da marcha lenta, eu quero um novo balance, e o bloco do prazer que a multidão comenta

E se vocês ainda querem palavras, deixo não uma, mas duas: João Pedro.

Abraços tricolores!