Já é sabido por você, leitor contumaz do blog, que sou absolutamente contra a utilização do esquema com três zagueiros no Fluminense. Não se trata de concepção. Há times europeus que o utilizam e são bem sucedidos. Mas para fazê-lo funcionar é necessário muito treinamento e, sobretudo, peças que façam a máquina girar.

 
 
 

O básico para o bom uso do 3-5-2 é a saída de bola. É inadmissível qualquer treinador de qualquer parte do mundo resolver implementar o esquema sem contar com um trio defensivo capaz tecnicamente de acertar passes, clarear jogadas e, quando necessário, lançamentos. O Flu do Marcelo com Gum, Digão e Ibañez e antes o do Abel, com Renato Chaves/Ibañez, Gum e Luan Peres/Nathan Ribeiro não conseguia o elementar. Esse item, por si só, já seria suficiente para constatar a inaptidão dessa maneira de jogo.

Mas os atuais três zagueiros pecam em outros fundamentos. Ibañez, que até tem potencial, possui um tempo de bola incabível para um atleta profissional e sofre de um mal que assola boa parte dos jogadores de futebol do Brasil: acha que joga mais do que, realmente, sabe.

O gaúcho é o mais rápido dos zagueiros do Fluminense, o que não confere a ele o título de mais qualificado. Essa “confusão” que o próprio Ibañez faz é recorrente entre analistas e não seria diferente com torcedores. Zagueiro rápido, não necessariamente, é técnico. O potencial referido no parágrafo anterior é que, por ser jovem e possuir algumas valências, como a própria velocidade na recuperação das jogadas, virilidade, também é possível trabalhar os erros. Com muito treino e, principalmente, orientação.

Digão, pasme, é aquele que, com a bola no pé, me parece o mais lúcido. Mesmo jogando do lado esquerdo, o destro zagueiro simplifica os lances. Mas o recurso do chutão, por vezes, é recorrido porque lhe falta o atributo. O problema é no mano a mano e a desatenção na bola aérea.

Já Gum, como líbero, funciona nas bolas altas. É o desafogo do time quando pressionado nessa jogada. Agora, por baixo…Fraco no passe e limitadíssimo no poder de recuperação. Qualquer atacante com um pingo de cérebro e muita agilidade nas pernas ganha fácil do guerreiro.

Posteriormente a análise individual do trio, é fácil perceber que o Fluminense não tem simbiose no esquema. Os campos atualmente estão mais curtos do que no início dos anos 2000, propiciando um jogo mais aproximado, coletivo. Percebam como o time do Marcelo joga espaçado. O time é completamente desequilibrado e mal posicionado. O recurso do chute pra frente, portanto, é muito empregado, propiciando a recuperação de bola do adversário.

Apesar de notar essa distância entre os setores, contraditoriamente, Ayrton Lucas e Everaldo jogam colados, o que também não é o indicado. Quando o ala recebe, o atacante está apenas um pouco a frente dele. Quando o Beijoca não aperta o play e sai correndo feito um louco ou o Everaldo puxa para o meio e faz algum lance diferente, as jogadas morrem com os dois ali. E o Flu do Marcelo Oliveira, ofensivamente, é isso.

Richard, que com a bola no pé nos faz sofrer, quando está num bom dia, consegue fazer a proteção à zaga com correção. Mas nas tardes e noites ruins…A intermediária parece a camada de ozônio e os limitados zagueiros, expostos, são facilmente vencidos pelos rivais.

E há uma gravidade que não pode ser suprimida na análise. O Fluminense, a rigor, não joga no clássico 3-5-2. É muito mais um 3-4-3 porque Sornoza, que deveria ser o elo entre o meio e o ataque, atua aberto pelo lado direito. O Marcelo Oliveira justifica que o equatoriano deve marcar por ali, mas com a bola, se posicionar centralizado. De qualquer maneira, não vejo o camisa 10 jogando como um autêntico armador. Em suma, temos dois volantes no meio e três homens abertos. Quem cria?

Com os atuais três zagueiros e dois volantes, o Fluminense ataca com 4 e defende (mal) com 10. A conta não bate. E, mesmo assim, a tendência é que, nesta quarta, contra o Palmeiras, o time volte a atuar desta forma. Marcelo Oliveira, assim, só quer o empate. Vai tentar defender como nunca e atacar como sempre: poucos jogadores e rara eficiência.

Em qualquer circunstância o Palmeiras seria favorito. Mais time, mais elenco, mais organização. O Fluminense, com qualquer esquema, é inferior ao líder do Brasileiro. Mas com uma formação mais ofensiva, vislumbrando a decisão com o Atlético-PR, pelo menos incomodaria mais os caras.

O argumento do uso do 3-5-2 é que ele protege a defesa e dá liberdade para os alas. Se não confia na avaliação subjetiva do jornalista aqui, pesquise os números. Esses são absolutos. Nas piores derrotas jogamos com três zagueiros e dois volantes.

Diante do Paraná, quando fomos um dos quatro times do campeonato que conseguiu a façanha de perder para a pior equipe, lanterna e rebaixada, 2 a 1 para eles com gol nosso no finalzinho.

Fluminense 0 x 2 Flamengo, quando cedemos o mando de campo para eles no primeiro turno. E foi pouco. Atlético-MG 5 x 2 Fluminense. O placar resume. Fla 3 x 0 Flu. Também saímos no lucro. A última, pela Sul-Americana, doída, mas ciente de que o 2 a 0 ficou barato.

Claro que tivemos boas vitórias no 3-5-2. Mas em momentos esporádicos fomos, realmente, ofensivos, e superiores aos rivais. Na maior vitória do ano, talvez, recebemos um gol de graça do arqueiro do Nacional (URU).

Possivelmente você rebateria minha premissa tomando como base a última partida, quando não saímos do zero com o Sport tendo três atacantes e não três zagueiros. Mas o que julgo primordial ocorreu: ofensividade. O Fluminense finalizou 15 vezes, mas o goleiro do time de Pernambuco saiu para o vestiário com o uniforme limpo. Esse, porém, é outro problema: qualidade.

O principal aconteceu. O time atacou, pressionou o Sport, criou chances. Não fez porque falta material humano no elenco e quanto a isso, não há esquema milagreiro. O trivial, entretanto, precisa acontecer.

O Fluminense, que nos últimos cinco jogos fez um gol, precisa de, pelo menos, dois para não dar adeus ao sonho continental. Com três zagueiros, dois volantes e sem meia de armação, acho pouco provável que consigamos eliminar o Atlético-PR.

É necessário postura, iniciativa, atitude. Mas entrar no gramado com cinco homens que só  podem contribuir destruindo e, eventualmente, jogar por uma bola, não fará os milhares que se despencarão ao Maracanã saírem felizes de volta para seus lares. Coragem, Marcelo. Coragem!

– Só um milagre faria o Flu cair, mesmo perdendo todas. Ou seja, precisa ganhar.

– O receio maior é o de nem conseguir o básico: disputar a Sul-Americana em 2019

– Ceará, empate com o Bahia e América. Sete pontos e Sula garantida.

– Júnior Dutra até quando? O que esse rapaz faz nos treinos para ter tantas chances?

– Everaldo não é o Garrincha, mas o Garrincha possível desse Flu. Não pode sair.

– Se não existe jogador no elenco melhor do que o queixudinho, deixe-o em campo!

 

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Um grande abraço e saudações!