Abel Braga exalta solidariedade recebida (Foto: Lucas Merçon - FFC)

Abel Braga comoveu o país no ano passado por conta da trágica perda do filho João Pedro, de apenas 19 anos, ao cair do banheiro do apartamento da família. Em entrevista ao SporTV, o técnico recordou um pouco como foi aquele momento e explicou como tira forças para seguir com a vida.

O treinador tricolor falou da religiosidade, além do apoio da família, amigos e também torcedores.

 
 
 

– Primeiro: sou extremamente religioso. Acredito muito em Deus, tenho uma família fantástica, um filho fantástico, esposa fantástica, amigos fantásticos. Não são aqueles amigos que você precisa ver ou ligar todo dia. Consegui separar bem o momento da lágrima, do choro. Tem horas que saio com a minha mulher, sabemos que a memória não se apaga, a dor, o vão que fica na frente não vamos conseguir reconstruir, você fica meio sem chão. Mas no meu trabalho, essa solidariedade que eu recebi do país, um amigo espírita, eu sou católico, ele me disse assim: ele foi cedo e a gente se pergunta por que? Ele tinha de ir por que aos 19 anos? Não me deu neto. Ele disse que era o tempo dele. Por que? Mãe e pai não entendem isso. Ele me disse que ele tinha uma missão curta aqui. Essa solidariedade que recebi aqui foi impressionante de todo o país, de todos os clubes, os torcedores, principalmente do meu, do Fluminense. Ele quis mostrar de repente pro país quem eu era? Como ser humano, como treinador? Não sei. Não sei se quis aumentar e muito essa relação marido, mulher e filho. Agora estamos sempre muito mais agarrados, apesar de tudo com muito mais preocupação um com o outro, pelo tipo de vida que temos nessa cidade. Não consigo entender bem. Foi um tempo muito curto. Eu me senti forte. Uma coisa que eu desconhecia – disse, prosseguindo:

– Quando eu recebi a notícia, não do falecimento, mas que ele tinha caído, eu estava no túnel Lagoa-Barra indo para casa. Isso é muito duro para mim. Às vezes, quando estou muito sensível, pego a Niemeyer (outra via de acesso) para ir para casa. Eu no túnel não consigo parar de escutar a voz do meu filho. O Fábio falando pra mim: “Pai, vem logo pra casa que o João está no play”. No play? Eu moro num andar alto. Quer dizer, ele caiu, perdi meu filho. Tem horas que entro ali, vem essa voz, essa coisa, é duro. Mas vim ter essa força interior, principalmente pela minha religiosidade, mas acima de tudo, está sendo um exemplo a ser seguido. Para quem tem a perda, para quem perde um jogo como perdemos, não abala. A gente tem de continuar. Continuar melhor, procurar nunca fazer amanhã igual ao que se fez hoje, procurar cada vez mais autenticidade, uma coisa que tenho muito, clareza, convicção nas minhas ideias, certas ou erradas. Como ontem (na troca do Sornoza pelo Marlon Freitas). Ontem tava claro que ele (Sornoza) não estava bem. Mas é uma força que eu desconhecia e ele me fez eu ver que tinha isso. Até hoje recebo solidariedade de começar a treinar, ir a Recife e dirigir a equipe contra o Sport. Serviu de exemplo para muita gente, muitos pais, filhos…