Amor ao Flu 1

 

  • Me apaixonei pelo Fluminense quando, apropriando-me de um troco do Jornal do Brasil que fui comprar para o meu pai na banca do Salvatore, enfim consegui a figurinha carimbada do Telê. Chorei centímetro a centímetro a revelação sofrida da figurinha, e por milagre apareceu a primeira linha negra que limitava por cima o topete ajeitado do “Fio de esperança”. Era a figurinha que restava para completar o meu álbum. A emoção de pela primeira vez na vida alcançar um objetivo muito desejado me trouxe em três cores uma alegria existencial única.
  • Quando adolescente, vivi como todos os adolescentes a perplexidade diante da crueza irrazoável da vida. Senti fundo cada armadilha da felicidade efêmera do caminho fácil. O Fluminense foi a luz que me confortou, um farol intangível, por farol que ilumina a alma. Absolutamente confortador. Tive ali a certeza de que valeu a pena sofrer cada minuto de percepção de abandono, cada sofrimento imposto pelo mesmo destino que de repente me põe à frente uma Disneyworld libertadora de toda e qualquer apreensão.
  • O Fluminense é uma mistura do que não se imagina com o que não se pode pode imaginar. É surpresa e êxtase em cada poro. Arrepio de retomada da Acrópole dos melhores sonhos. Lindo e verdadeiro, único como um papagaio albino.
  • Eu só ganhei com o Fluminense, e quando perdi, ganhei também. E se ganhei ganhando, ganhei muito perdendo, porque ganhei por não temer a perda.
  • Nada pagará o que o Fluminense me deu de graça. E se me custasse, pagaria minha última fortuna por isso. Sou só gratidão.
  • O Fluminense subverteu meu conceito de chorar de felicidade. Não é um susto bom, uma surpresa arrebatadora, um primeiro parolar de um filho no colo. É continuo como a linha do tempo. Estou agora no hotel chorando, chorando orgulhosamente. Eu e meu Malbec num encontro de epifania tricolor. Choro e choro de não querer acabar. Sou estranhamente feliz.
  • O Fluminense antes é sempre; durante, mais que antes; depois, mais que durante.
  • Tricolores, não de intimidem com a felicidade. Andem de mãos dadas com ela, levem-na ao cinema, comprem-lhe pipoca, façam-lhe confidências. A felicidade está decidida a andar do nosso lado como um cão de estimação.
  • O Fluminense é hipérbole, curva de 1/x. Quanto mais se aproxima do zero, mais se lança ao infinito.
  • As imagens históricas do primeiro Papa a renunciar após 600 anos vão ficar para mim sempre marcadas por interferirem na transmissão de um jogo do Fluminense.
  • Eu não desejaria a meu pior inimigo não torcer pelo Fluminense.
  • Se o Fluminense fosse um planeta, eu teria pena do sol.
  • Não é preciso um tratado científico para me provar que a Terra quica. Eu já fui a um Fla x Flu.
  • O Fluminense convive até com o canalha, só não convive com a impossibilidade.