Perda do pai fez garoto cogitar largar a bola (Foto: Leonardo Brasil - FFC)

Jogador de 18 anos, Isaac vive ascensão meteórica em Xerém a ponto de chamar a atenção do técnico Fernando Diniz. Promessa de gols do Fluminense para a Copinha, o atleta encarou dificuldades e por duas vezes pensou em desistir do futebol. Recentemente, viu o pai e maior incentivador da carreira morrer de câncer. A primeira vez que cogitou largar a bola foi antes de chegar ao Tricolor.

De família humilde, o menino é de Teresina. Começou a jogar aos sete anos numa escolinha do bairro onde morava na capital do Piauí. Aos nove, seguiu para o futsal e, aos 15, chegou ao River-PI. Por lá, viu companheiros saírem após receberem convites de clubes maiores. Seu irmão mais velho, Jean Carlos, foi um deles. Para Isaac, porém, nada surgia e o desânimo tomou conta. Em 2020, antes da Copa do Brasil sub-17, decidiu que seria a última chance. Fez três jogos e fez um gol na goleada de 5 a 0 sobre o Grêmio Santo Antônio-MS. A equipe, no entanto, caiu na terceira fase diante do São Paulo.

 
 
 

– Eu estou aqui agora, mas sempre foi difícil para mim. Com 16 anos eu ia parar de jogar, porque lá onde eu morava meus amigos estavam conseguindo entrar para um clube grande, e eu não conseguia. Eu falei para mim mesmo que ia ser meu último campeonato e joguei a Copa do Brasil. Aí não saiu nada também, e pensei: “Não vou mais querer isso para mim”. Até que recebi uma ligação do meu treinador do River falando: “Olha, você vai fazer uma avaliação no Fluminense” – disse ao ge, seguindo:

– Tipo, eu nem fiquei muito feliz porque nada dava certo para mim (risos). Mas meu irmão, que na época estava no Fluminense, me mandou mensagem falando para vir, que era a oportunidade de mudar a vida dos nossos pais, me dando coragem. Minha mãe também olhou para mim e perguntou se era isso que eu queria. Eu vi o brilho que estava no olho dela, lembrei de todas as dificuldade que passamos, de não ter dinheiro da passagem, e ela pegava emprestado com alguém, e disse que iria.

Isaac chegou a Xerém em fevereiro do ano passado, com 16 anos. Fez teste, passou e ficou no Rio de Janeiro. Seu irmão, no fim da temporada, terminou o contrato e foi embora (atualmente defende o sub-20 do Sport). No sub-17, teve início promissor. Tanto que oito meses depois assinou o primeiro contrato profissional. Mas em 2022, no primeiro ano de sub-20, caiu drasticamrnte de produção por conta do drama familiar com a perda do pai, Genivaldo, em virtude de um câncer. Novamente cogitou largar a carreira.

– Outra vez também que eu ia desistindo foi quando perdi meu pai. O Fluminense me deu férias, eu fui para casa e não queria voltar mais. Foi uma perda grande para mim, falei que eu não conseguia mais, e minha mãe falou assim: “Deus jamais colocaria um sonho que você não pudesse realizar”. Depois de uns dias decidi voltar. Tipo, não voltei assim tão bem, estava tentando assimilar tudo que tinha acontecido, não estava indo tão bem nos treinos… Mas tudo que meus pais me deram para eu estar aqui, tenho que recompensar de alguma maneira. E foi assim que eu dei a volta por cima – relatou.

Após um primeiro semestre apagado, Isaac reencontrou o futebol e terminou o ano como titular na equipe.

– Hoje jogo pelo meu pai, tudo que eu faço hoje dentro de campo é pelo meu pai. Até já quis fazer uma tatuagem e colocar “sangue nos olhos e cheio de vontade de vencer”. Era a frase que meu pai costumava falar – afirmou, com os olhos marejados, lembrando o seu maior incentivador no futebol:

– Tipo assim, era o sonho dele também. Quando eu vim para cá, ele falava para todo mundo dos filhos jogadores. Ele significava muito para mim, era um guerreiro. No futebol não deu certo e trabalhava como estivador, mas nunca deixou faltar nada para mim e meus irmãos. Quando passei no teste do Fluminense e liguei para avisar, fiz chamada de vídeo, e ele falou: “Agora realize esse sonho por mim”. Fico arrepiado só de falar disso.