Antes que as pedras cheguem, quero avisar que não se trata de uma defesa de Marcelo Oliveira. Nenhum trabalho, em clubes da grandeza do Fluminense, pode ser considerado aceitável quando o número de derrotas supera o de vitórias. Ainda acho que a falta de qualidade do elenco, a inépcia da diretoria são problemas muito mais graves e contribuem muito mais para a situação atual do que a capacidade (ou a falta dela) de qualquer treinador. Mas essa é outra discussão. O que me assusta verdadeiramente é que a decisão de substituir o técnico aconteça a três dias do último jogo da temporada. Chega a ser uma covardia jogar esta bomba no colo do assistente técnico permanente, que nada fará de diferente para a partida decisiva contra o América-MG.

 
 
 

A demissão de Marcelo, a esta altura da temporada, apenas comprova mais uma vez o despreparo de quem dirige o clube. Não poderia haver atestado maior. Permanecer na Série A, convenhamos, nem deveria ser um desafio tão complicado. Precisar de um ponto num jogo contra o América, em pleno Maracanã, não deveria tirar o sono de ninguém. E existe até a possibilidade da permanência com derrota.

Mas este é o Fluminense de Pedro Abad, o Fluminense do avesso. Enquanto outras equipes igualmente limitadas esperam tranquilamente a chegada das férias, o ex-time de guerreiros parece determinado a desafiar novamente os matemáticos, tal qual em 2009. Desta vez, no entanto, para o mal. Há algumas rodadas, o risco de rebaixamento era de apenas 1%. Mas nenhum matemático sensato poderia incluir em seus cálculos a possibilidade de o time passar oito jogos sem marcar um gol, um reles golzinho. E aquele 1% começa a crescer em progressão geométrica.

Sei de alguns torcedores que preferem secar os adversários a ver o jogo do Maracanã. Acham mais confiável torcer pelo Ceará ou pelo São Paulo. Seja como for, o capítulo deste domingo está longe de ser o último deste dramalhão. O ano vai mudar, mas, ao que tudo indica, as dificuldades serão as mesmas. O Fluminense atual só é opção para jogadores que saem da base ou para aqueles que não tem mercado na primeira divisão. São cada vez mais raros os profissionais dispostos a encarar a anarquia administrativa em que vem corroendo o clube há quase uma década.

A base, de tão dilapidada, já não produz talento na mesma escala que em outras temporadas. Há uma geração sub-17 muito promissora. Mas é pouco provável que seus melhores jogadores cheguem ao elenco profissional. Devem ser negociados antes, a preço de banana, como aconteceu com Richarlisson. Resta a opção dos sem-mercado. E a carência acaba fazendo a alegria dos empresários, que empurram qualquer coisa.

É triste, mas o Fluminense atual não escolhe seus jogadores. É escolhido por aqueles que não tem escolha.