Com discurso emocionado e agradecimento a técnicos rivais, Abel tenta explicar seu momento

Técnico do Fluminense luta para superar trágica perda do filho

Abel Braga deu grande prova de força ao seguir no comando do Fluminense mesmo após a trágica perda do filho, João Pedro Braga, há uma semana. O técnico, após a vitória por 3 a 1 sobre o Sport, neste sábado, no Maracanã, falou sobre o momento vivido e as demonstrações de carinho de todos os lados. O treinador tricolor agradeceu a todo mundo que o apoiou e fez questão de citar dois comandantes de clubes rivais.

– Meu filho está aqui (aponta para a foto na camisa), com os mesmos olhos azuis, irreverente como sempre foi. Até agora não consigo entender o motivo, mas ele fico me perguntando: “será que você teve de nos deixar? Nossa família, seus amigos, irmãos, para que um dos Bragas transcendesse o futebol?” É a única razão que eu vejo. A família Braga é correta, digna, real, verdadeira, que precisa passar um pouco dos limites do futebol. Só consigo imaginar isso. Agradeci de coração aos jogadores. Tudo que passou aqui hoje, teve a colaboração deles para eu poder oferecer a minha vitória ao meu filho. A transformação em uma semana, primeiro com uma força que não sei de onde estou tirando. Ele me fez ultrapassar o futebol. É complicado explicar o que sinto, o que estou passado. Na minha casa todo dia 20, 30 amigos. Eu fico com a mensagem, a última que ele mandou em vida a amigos, quando chegava em casa, às 3h daquele dia. “Presente em pensamento”. Depois veio a convulsão e a tragédia. Ele sabia que estava indo. Não tinha motivo para ele escrever tal coisa. E a gente fica aqui no sofrimento, na dor, na saudade, mas estamos sempre aprendendo. Principalmente a acreditar em si mesmo, saber que a filha é feita de troncos e ele me dando força pra que eu levantasse, porque tenho família, mulher, filhos. Estão aqui. Jamais poderia imaginar que aconteceria essa homenagem. Nunca fui ovacionado dessa maneira. Essa homenagem ela significa tanto que está vindo em vida. Essa é outra coisa que eu particularmente terei de procurar entender. Agradeço tudo que aconteceu, essa solidariedade foi fundamental. Ontem foi uma das coisas, alguns aqui estiveram presentes. Amigo Tinoco, Marcão. A missa de sétimo dia foi algo espetacular. Para não ser injusto e não ter de citar todos os nomes, dois em particular quero citar. Porque somos colegas e a presença desses caras me fez com que aumente meu rol de amigos. Agradeço todos que estiveram presentes, mas esses dois quero citar. Jair Ventura, do Botafogo, e Zé Ricardo, do Flamengo. Isso mostra que podemos ser diferentes no futebol, podemos conviver. No jogo contra o Botafogo quero ganhar do Jairzinho. Quero ganhar do Zé, ele quer ganhar de mim. As pessoas podem se entender – disse, prosseguindo:

 
 
 

– Tudo que aconteceu comigo, dá uma lição para todo mundo. E estou vendo em vida, em uma semana. Será que não somos capazes? O que vi em Recife. Solidariedade e também agradecimento. Muita gente dizendo que a minha atitude serve de inspiração. Isso toca no mais profundo. É acreditar na retidão, no caráter. Esse clube sempre foi especial e diferente para mim. Hoje os torcedores, atletas, fisioterapeutas, massagistas. Todos trabalharam muito para vencermos. Essa vitória era fundamental pro nosso lado esportivo. Conseguimos mostrar a todo mundo que o futebol pode ser feito com beleza e sentimento – explica.