Nobres tricolores,

 
 
 

minha canela ainda dói. Foi uma porrada daquelas! Culpa de um tal equatoriano, que estava sumidinho, meio acomodado. Resolveu aparecer num jogo de desenho previsível antes de a bola rolar. Um gol olímpico com uma perfeição jamais vista in loco por este que vos escreve.

Pulei, tentei gritar, porque com o frio que fazia no Maracanã e a atuação do Léo me deixaram sem voz, e pimba: pancada forte um pouco abaixo do joelho no momento exato em que a bola morreu no ângulo esquerdo daquele goleiro mala. Galo na hora, com um pouco de sangue, que só senti de verdade quando cheguei em minha humilde residência. Mas valeu. E como valeu!

O gol de Sornoza foi daqueles de tirar o fôlego. Uma emoção que só quem esteve no estádio pode descrever. Ou tentar. É o que faz do futebol ser diferente de tudo. Havia nervosismo por um placar mais dilatado. Antes, pela possibilidade real de ir para o Uruguai apenas com a vantagem do empate com gols. Mas quando se presencia uma pintura daquelas, tudo fica em segundo plano. Até a canela dolorida.

O Fluminense jogou como Fluminense. Colocou o Defensor no lugar dele. Uma posse de bola inédita (85%), poucas finalizações, mas muita vontade de vencer. O ferrolho violeta complicou, o Léo, lateral-mochila, e o posicionamento do Marcos Júnior, colado no Pedro, ao invés de abrir pelas pontas para dar opção, idem. No fim, o futebol presenteou quem quis jogar, em detrimento àquele que tinha asco da bola.

Defender bem é mérito. Antijogo é desonesto. Se torcedor do Defensor (sem trocadilhos) fosse, estaria envergonhado da postura. A cena do malandro caído do lado de fora do campo se arrastando para dentro simbolizou o anti-futebol praticado pelo time de Montevidéu.

O que funcionou no Flu? O esquema. Marcelo Oliveira, que abusou contra o Ceará, mandou uma equipe ofensiva, mas sem inventar a roda. Pôs o Tricolor no 4-3-3, sistema utilizado pela maior parte dos times do planeta, aproveitando as características de seus atletas. Faltou mais chutes de fora da área, infiltrações, mas houve domínio territorial e algumas chances. Matheus Alessandro não deixou de tentar, os meio-campistas, com paciência, giraram a bola até encontrar brecha, Pedro, vigiado por 467 adversários, não sucumbiu à marcação. Era jogo difícil mesmo. O qualificado Grêmio sofreu para fazer 1 a 0 na Arena pela Libertadores contra esse Defensor.

No segundo tempo, o treinador tricolor, mais uma vez, foi feliz ao sacar o inoperante Léo. Colocou o afobado Everaldo por ali, numa dobradinha interessante com Jádson, deslocado para a lateral direita (desde já minha opção para domingo, contra o Bahia). Tivemos Matheus Alessandro – depois Pablo Dyego –  e Ayrton Lucas de um lado, um pouco embolados, é verdade, Everaldo e Jadson do outro e por dentro, Marcos Júnior e Pedro. A bola não entrava. Claro que faltou o que falta desde a saída da Unimed: mais qualidade. Mas jogamos para buscar a vitória a todo custo, e isso já é uma evolução em relação aos jogos anteriores com o Marcelo Oliveira. O destino quis que os gols saíssem em cobranças de escanteio, o que não tira o mérito.

Mas apesar da constatação de que aquele Fluminense ofensivo que vimos é o melhor possível, li do nosso treinador que o 4-3-3 pode ser usado “em algum momento”, pois ele é “muito ofensivo”. Não quebra a firma, Marcelo!

O Fluminense tem oito, eu escrevi OITO atacantes de lado de campo. Não fazer uso de, ao menos, dois deles, além de cravar na testa desses dirigentes que o planejamento foi pessimamente executado, mostra toda a contradição do treinador, que deu aval para a chegada de quatro deles só neste segundo semestre: Everaldo, Luciano, Júnior Dutra e Cabezas.

Claro que nem Bahia, nem Internacional e nenhum outro time brasileiro vão adotar uma tática tão conservadora – para ser camarada – como o Defensor Sporting, nem fazer uso da catimba. Mas em casa, no Maracanã, tem de ir para dentro de qualquer um. E fora, usar daquilo que o elenco hoje tem em profusão: velocidade para os contra-ataques.

Falta meio-campo ao Flu. Temos jogadores razoáveis no setor e outros bem fracos. Na frente, correria com Matheus Alessandro, Pablo Dyego, Marcos Júnior, Everaldo, e, em breve, Júnior Dutra, Cabezas, Luciano e Marquinhos Calazans. Portanto, não fazer bom uso dessa galera é incoerência pura.

O torcedor não aguentou ter de ver Richard e Norton armando jogadas no sábado passado. Sornoza, que é bom jogador, mas não craque, rendeu quando teve alternativas de passe, com atacantes abertos pelas laterais do campo. Chutou mais, inverteu o jogo, até cabeceou! Não faz sentido Marcelo Oliveira voltar a utilizar aquilo que, comprovadamente, não deu certo. Vamos perder tempo, paciência e pontos.

Contra Vasco, Sport e Palmeiras, o Flu não achou a bola no primeiro tempo. Melhorou quando o técnico entendeu que precisava de poderio ofensivo. Mexeu bem. Contra o Ceará errou na escalação e substituições. Na última quinta, acerto duplo.

Não faço coro à tese de que “time que está ganhando não se mexe”. Sou favorável à escalação do melhor possível para o momento, usufruindo ao máximo da capacidade física e técnica dos jogadores para tornar o time competitivo. Richard, Norton, Jádson e Sornoza juntos, irrevogavelmente, não farão isso.

Airton ainda carece de ritmo de jogo. Teve cãibras ontem, mas a diferença na saída de bola para o Richard o faz parecer o Pirlo. Norton não possui senso de direção ou tem visões sobrenaturais, pois, habitualmente, descola passes para o nada. Esses dois não reúnem condições básicas para fazerem parte do elenco, quiçá serem titulares.

Então, não inventa, Marcelo. Como bom mineiro de Pedro Leopoldo, faz aquele feijão tropeiro esperto, na miúda: bacon, linguiça, alho, cebola, couve, ovos, um pouquinho de cheiro verde e uma pitada de sal.

Enquanto separa os ingredientes, mantenha o Airton para pegar ritmo. Descascou a cebola? Então, chega para o Marcos Júnior e explique que ele, nesse esquema, precisa dar opção ao time e, para isso, não dá para ficar lado a lado com o Pedro: tem que abrir pelos lados, cacete! Depois de fritar o bacon junto com a linguiça, peça para o Sornoza arriscar mais chutes de fora da área e antes de servir o prato, efetive o Matheus Alessandro para que o time tenha um desafogo quando precisar do drible em velocidade.

 

– Que partidaça do Digão! Calando a bola de muitos. Minha inclusive.

– Ayrton Lucas precisa parar de tratar a bola como uma qualquer.

– Mandaram bem em resgatar o Daniel (ex-zinho). Jogar sabe, necessita de chances.

– Gilberto suspenso? Jádson na direita, Richard (É, né…), Airton e Sornoza.

 

Saudações Tricolores!

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