(Foto: Marcelo Gonçalves - FFC)

O Fluminense não foi muito feliz no sorteio dos grupos. River Plate, que dispensa apresentações, The Strongest e a altitude assustadora e Sporting Cristal, do bom treinador Tiago Nunes, que trabalhou com Fernando Diniz no Athletico e conhecia bem o trabalho do Fluminense.

Mas antes de falar daquele cinco de abril, a gente vai precisar voltar um pouco no tempo para contextualizar o momento que o Fluminense vivia.

 
 
 

O time de Fernando Diniz fez um 2022 muito bom. O futebol apresentado agradava os críticos e a torcida comparecia aos jogos. Um Fluminense fluido, funcional, com seus jogadores orbitando a bola era competitivo e agradava.

O time perde jogadores importantes (Luiz Henrique, Nonato), mas mesmo assim consegue, via Campeonato Brasileiro, a classificação para a fase de grupos da Copa Libertadores de 2023. A parte final do principal torneio do país é marcada por excelentes resultados.

Em 2023, chegam alguns jogadores e Fernando Diniz, já no Campeonato Carioca, começa a testar adaptações. Uma delas, com a chegada do Keno, foi jogar também com dois pontas abertos, de forma mais posicional.

O time começava a ter uma cara um pouco diferente do jogo que o caracterizou em 2022, mas com o passar do tempo, a facilidade de modificar o modelo dentro dos jogos passou a ser marca registrada do trabalho.

Na semifinal do Estadual, precisando vencer no Maracanã a equipe do Volta Redonda, o time dá uma aula de como jogar com dois pontas.

Pontas abertos, laterais atacando espaço por dentro e um 7 a 0 de encher os olhos. Mas…

Veio o primeiro jogo da final contra o Flamengo e o sistema não funcionou tão bem. Havia ali um problema a resolver.

Com dois jogadores abertos, o time precisava muito de ocupação no setor central, nas imediações da área adversária. Ganso é jogador de construção e Martinelli é um meio campista que não tem como principal característica essa chegada ao ataque. Ali, Alexsander ainda era o lateral-esquerdo.

O Flamengo vence por 2 a 0 o primeiro jogo da final do Carioca. E assim o Fluminense chega, entre os dois jogos da final do Estadual, para sua estreia na Libertadores.

E era uma estreia com jeito de decisão. Os nove pontos de River e The Strongest em casa eram uma probabilidade grande. E isso fazia o jogo fora com o Sporting Cristal ser fundamental para a classificação. E o Fluminense fez uma grande estreia.

Com a entrada de Marcelo na lateral esquerda, Diniz opta por Alexsander, com uma característica maior de chegada na frente, pro lugar do Martinelli. E o Fluminense voa.

O Fluminense abandona também um pouco o jogo posicional e dá liberdade a Keno e Árias para trabalharem juntos. Isso faria o clube muito feliz lá na frente.

Cinquenta e sete por cento de posse de bola, 25 finalizações contra 6 do adversário. Um dos grandes jogos do ano, num time que se caracterizaria por jogar bem sempre que precisava.

O jogo

Aos 10 do primeiro tempo Ganso acha Alexsander por dentro, o menino encontra Keno na direita e este cruza pra Cano, que chega um pouco atrasado e perde sem goleiro.

Pouco antes, Felipe Mello alongava uma bola pro Arias na direita que rola pra trás pro chute do Keno. Era uma volta ao que funcionou bem em 2022. Era, e sempre foi, a bola de segurança dessa equipe, o sistema funcional.

Aos 16 Keno rouba a bola e perde cara a cara com o goleiro. Aos 17, o time perde a bola na saída (um lance duvidoso com possível falta no Felipe Mello) e o Sporting abre o placar.

Um golpe duro, num time que jogava melhor e já havia tido um resultado adverso no domingo anterior.

E o time perde um pouco o controle do jogo. E aí, entra outra característica que marca esse grupo. A capacidade de sair de situações difíceis.

Aos trinta e três, Ganso acha Samuel na direita e este cruza pra Arias que, na pequena área, opta pelo passe em vez do chute. Na sequência desse lance, escanteio que Nino cabeceia na trave e Cano empata o jogo.

Escanteio, Nino, Cano… isso também faria a torcida feliz meses depois. Veio o segundo tempo e o Fluminense volta a controlar o jogo.

Aos treze, Marcelo recebe na direita, outra adaptabilidade que funcionaria em muitos momentos. O passe de trivela, lindo, perfeito, rasgando a grama, encontra Arias sozinho, o craque colombiano rola pro meio e a bola cai no pé do artilheiro que faz seu segundo gol no jogo.

Pouco depois, Vitor Mendes de cabeça, em outro córner, dá números finais à partida.

Estreia muito boa, com muitos elementos e conexões que seriam fundamentais para a caminhada. E o próximo jogo seria o The Strongest no Maracanã.

Tabelinha

– Esse é o projeto Crônicas da Libertadores. Até o Mundial, todos os jogos contados, entremeados por outras colunas revisitadas.