Três cores e, por que não, três hinos? O Fluminense faz aniversário nesta terça-feira, dia para a torcida prestar suas homenagens ao som do hino do clube. Mas você sabia que antes do famoso verso “sou tricolor de coração”, de Lamartine Babo, existiram outros dois cânticos oficiais durante os 118 anos do time das Laranjeiras? O GloboEsporte.com resgata essa história e suas curiosidades abaixo:

Hino 1: escrito pelo pai de futuro ídolo

Ainda antes de ter sua atual sede de Laranjeiras, o Fluminense tinha como endereço um terreno próximo na extinta Rua do Roso. Foi lá que entoou pela primeira vez o hino – na época escrito como “hymno” – do clube no dia 29 de julho de 1915, em um baile que marcou a inauguração após reforma do local. O autor foi o escritor e jornalista Henrique Coelho Netto, tricolor ilustre e pai de jogador que virou um dos maiores ídolos do clube: o ponta-esquerda Preguinho, que anos depois se tornaria dono do primeiro gol do Brasil em Copas do Mundo.

 
 
 

O Fluminense é um crisol
Onde apuramos a energia
Ao pleno ar, ao claro sol
Lutando em justas de alegria

O nosso esforço se congraça
Em torno do ideal viril
De avigorar a nova raça
Do nosso Brasil!

Corrige o corpo como artista
Vida imprime à estátua augusta
Faz da argila uma robusta
Peça de aço onde a alma assista

Na arena como na vida
Do forte é sempre a vitória
Do estádio foi que a Grécia acometida
Irrompeu para a glória

Ninguém no clube se pertence
A glória aqui não é pessoal
Quem vence em campo é o Fluminense
Que é, como a Pátria, um ser ideal

Assim nas justas se congraça
Em torno dum ideal viril
A gente moça, a nova raça
Do nosso Brasil!

Adestra a força e doma o impulso
Triunfa, mas sem alardo
O herói é bravo mas galhardo
Tão forte d’alma que de pulso

A força esplende em saúde
E abre o peito à bondade
A força é a expressão viva da virtude
E garbo da mocidade

Apesar da letra original, o hino foi uma adaptação da música “It’s a Long Way to Tipperary”, gravada nas vozes do cantor inglês Jack Judge e do irlandês John MaCormack. Na canção, o clube é comparado à pátria como um exemplo a ser seguido na sociedade, com ideais coletivos e exaltação do aspecto físico e moral. Porém, sem o sucesso do time em campo, a composição virou paródia para deboche de torcedores rivais e acabou tendo prazo curto de validade. Oficialmente, o primeiro hino durou menos de um ano.

Hino 2: influência da 1ª Guerra Mundial

Na festa do 14ª aniversário do clube, no dia 21 de julho de 1916, uma outra composição, de autoria do maestro Antônio Cardoso de Menezes Filho, assumiu o posto de canção tricolor – que continua sendo a oficial até hoje. Além de acabar com as brincadeiras da versão anterior, a música teve forte influência da 1ª Guerra Mundial, que acontecia na época, e usa vários termos bélicos, como por exemplo “combate”, “metralha”, “tiro de morte”…

Companheiros de luta e de glória
Na peleja incruenta e de paz
Disputamos no campo a vitória
Do mais forte, mais destro e sagaz!

Nossas liças de atletas são mansas
Como as querem os tempos de agora
Ressuscitam heroicas lembranças
Dos olímpicos jogos de outrora

Não nos cega o furor da batalha
Nem nos fere o rival, se é mais forte!
Nossas bolas são nossa metralha
Um bom goal, nosso tiro de morte

Fluminense, avante, ao combate
Nosso nome cerquemos de glória
Já se ouve tocar a rebate
Disputemos no campo a vitória.

Hino 3: coautor de Lamartine Babo

Assim como aconteceu com os demais clubes do Rio de Janeiro, o hino extraoficial foi o que pegou entre a torcida do Fluminense e, na prática, assumiu o posto de “oficial” desde o fim dos anos 40. A história é bastante conhecida: o compositor Lamartine Babo fez, a pedido de um antigo programa de rádio chamado “Trem da Alegria”, os hinos populares dos então 11 participantes do Campeonato Carioca. A letra manteve os princípios associados ao Flu de disciplina e amor à pátria.

Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao tricolor

Salve o querido pavilhão
Das três cores que traduzem tradição
A paz, a esperança e o vigor
Unido e forte pelo esporte
Eu sou é tricolor

Vence o Fluminense
Com o verde da esperança pois
Quem espera sempre alcança
Clube que orgulha o Brasil
Retumbante de glórias
E vitórias mil

Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao tricolor

Salve o querido pavilhão
Das três cores que traduzem tradição
A paz, a esperança e o vigor
Unido e forte pelo esporte
Eu sou é tricolor

Vence o Fluminense
Com sangue de encarnado
Com amor e com vigor
Faz a torcida querida
Vibrar com a emoção
Do tricampeão

Vence o Fluminense
Usando a fidalguia
Branco é paz e harmonia
Brilha no sol da manhã
Ou na luz do refletor
Salve o Tricolor

Ao contrário do que muitos pensam, os hinos de Lamartine Babo não foram escritos todos de uma só vez. O do Flamengo foi em 1945; o do America, em 1947; e do Fluminense, em 1949, no mesmo ano da dupla Vasco e Botafogo. E o que você provavelmente não sabia é que o tricolor é o único que não foi uma composição exclusiva de Babo. Para a canção, o compositor teve como coautor Lírio Panicalli, responsável pela melodia.