Mauro Cézar Pereira, comentarista e blogueiro da ESPN Brasil, entrevistou Celso Barros. O candidato da chapa “Todos pelo Fluminense” respondeu a diversos assuntos como CT, estádio, Flu Samorin, projetos e muito mais. Veja abaixo, na íntegra:

 

 
 
 

Por que quer presidir o Fluminense?
Celso Barros — O motivo mais importante é o coração. Depois, a razão. Eu nasci Fluminense e não se é Fluminense impunemente. Toda oportunidade para colaborar com o clube eu abraço. Assim foi em 99, quando vi o time na lona. Eu estava na UNIMED-RIO e numa situação que poderia ajudar. Ajudei. Construímos um projeto de marketing esportivo e tornei o patrocínio possível. Ele durou 15 anos, com resultados excelentes para o Fluminense no campo e para a patrocinadora nos balanços.
O fluxo de caixa do Fluminense anuncia problemas para breve, sem somar ainda as despesas de manutenção do novo CT, que, absolutamente necessárias, terão um peso financeiro bem maior do que o local de treinos em Laranjeiras. E num clube de futebol esse tipo de problema pode produzir crises. Os 15 anos da minha experiência com o clube, em especial com o futebol, dia a dia, será útil, eu acredito. O Fluminense perdeu a capacidade de conquistar patrocínios duradouros, por falta de um projeto que integre resultados em campo, marketing esportivo e receitas. No último balancete, que é cumulativo, se vê isso com clareza. De 140 milhões de reais de receita, 100 milhões de reais são de TV e direitos federativos e econômicos. Marketing não há. O Fluminense forma jogadores, mas não tem tempo para formar ídolos.

Qual a(s) diferença(s) mais relevante(s) entre a maneira de administrar da atual gestão e o que pretende fazer se eleito?
Celso Barros — Estabilidade é primeiro requisito. A gestão do presidente Peter Siemsen é de alta rotatividade em todos os setores. Há instabilidade até no relacionamento com os agentes externos, governo, federação, etc. Capacidade técnica especializada na gestão do clube e das diversas unidades de negócios – clube social, esportes olímpicos, futebol profissional e futebol de formação – é outro requisito. Peter arranhou o tema. A falta de capacidade técnica inibe o aproveitamento do enorme potencial de receitas novas que tem cada unidade. Até no futebol há insuficiência de uma gestão profissional. E isso impede a avaliação correta do desempenho do time e tem levado o Fluminense para uma situação incômoda. Quando o time perde jogos, não se avalia as causas como fazíamos. Agora, tudo é erro do juiz e perseguição. Tem situações que sim, mas nem tudo é.  Transparência. A gestão atual é opaca. Vejam o que acontece agora na campanha. Afloram contratos, relações comerciais estranhas de ex-dirigentes. Ninguém sabe ao certo o valor das negociações.

Quais os maiores acertos da gestão Peter Siemsen?
Celso Barros — Ele aproveitou melhor que os demais presidentes o patrocínio da UNIMED-RIO. Enquanto a patrocinadora suportava os custos do futebol, o Fluminense saneava as finanças próprias. Reformou Xerém, reconstruiu o parque aquático, colocou em ordem as contas para aderir ao PROFUT e até aplicou dinheiro numa experiência internacional. Foi só.

Na presidência, quais serão suas prioridades?
Celso Barros — No primeiro momento, reavaliar o fluxo de caixa e conservar as conquistas, a melhor delas o Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro). Ter um elenco e uma equipe técnica no futebol, que devolva ao Fluminense a capacidade de disputar campeonatos com chances de ser campeão.
Consolidar o funcionamento do CT. Ele é um diferencial importante para o Fluminense, até para conquistar jogadores a custos mais baixos. Criar estrutura gerencial para as unidades de negócios, com o objetivo de gerar novas receitas. E elaborar um projeto de marketing esportivo que não subordine o Fluminense à regra nos clubes de futebol de andarem de pires na mão à busca de patrocinadores, que não entendem o sentido econômico dos patrocínios.

Em sua opinião o clube se saiu bem nos primeiros passos pós-parceria com a Unimed?
Celso Barros — Percebi que sim e não poderia ser diferente, porque, embora alguns insistam no contrário, o encerramento não foi no tranco. A UNIMED-RIO vinha reduzindo o valor do patrocínio aos poucos, de modo planejado e combinado com o presidente do Fluminense, que, por ser proprietário do escritório de advocacia que atendia a UNIMED-RIO, fez as orientações.

O que faltou fazer nessa transição?
Celso Barros — Faltou respeito por parte do vice-presidente de futebol, naquele momento o advogado Mário Bittencourt, e de gente da política ligada a ele e até mesmo ao presidente Peter. Trataram a saída como se fosse a libertação de um jugo a que o Fluminense estivesse obrigado por escravidão. A atitude não foi justa, não comigo, mas com a patrocinadora que durante 15 anos patrocinou o time.

Quais suas metas prioritárias nesse sentido, buscar um novo parceiro do gênero?
Celso Barros — Ter um projeto de marketing esportivo com as premissas do projeto que desenvolvemos no passado e que deu excelentes resultados para o Fluminense e para a patrocinadora. Patrocínio só é bom quando é uma relação de mão dupla.

O senhor deixou o comando da Unimed, como será sua administração sem o poderio econômico do ex-patrocinador que tantos jogadores contratou para o clube?
Celso Barros — Esse argumento para ser justo deveria servir para todos os candidatos à presidência do Fluminense, e até mesmo para o atual presidente. Não? Mas a pergunta carrega um ponto de real valor. Reconhece que o patrocínio deu bons resultados. Eu posso lhe garantir que, do mesmo modo que o desenho atendeu bem a UNIMED-RIO, atenderia outros patrocinadores potenciais. E o desenho eu conheço, porque fui o desenhista.

Futuro estádio na Barra ou Maracanã, qual sua meta?
Celso Barros — Maracanã. Eu gostaria de poder pensar num estádio, mas quem promete um na atual conjuntura está mal-intencionado ou movido pela ignorância. Promete, mas sabe que não fará e tenta iludir os sócios com a experiência do Fluminense com o CT, que teve como premissa um torcedor com dinheiro e disposição de trabalho. Mas, mesmo para uma situação semelhante, seria complicado, porque um estádio exige investimentos maiores e diferentes. A localização é fundamental, como as vias de acesso, segurança, estrutura para suportar 25 ou 30 mil torcedores em euforia. Construir um CT é algo bem diferente, mais barato e menos complicado do que construir um estádio.

Como vê a questão da construção do CT tricolor com o apoio pesado de um associado que parece pretender chegar à presidência no futuro?
Celso Barros — Pretensão legítima tem todo sócio que queira ser presidente. Os serviços prestados são credenciais importantes para convencer o eleitor.

Qual sua opinião sobre a internacionalização? O Flu comprou um clube na Eslováquia.
Celso Barros — É boa medida a exposição da marca do Fluminense em qualquer lugar do planeta, com custos que não pesem sobre o desempenho do time e da própria marca no Brasil. Para opinar com mais convicção preciso conhecer os custos e os benefícios.

Os sócios torcedores votarão nesta eleição. Será a primeira vez na história do Fluminense e no futebol do Rio de Janeiro. Acreditas que por isso o resultado das urnas fique muito vinculado ao momento do futebol?
Celso Barros — As eleições de 2010 e 2013, quando apoiei o presidente Peter Siemsen, já foram eleições com colégio eleitoral com um número quase decisivo de eleitores torcedores sem relação direta com Laranjeiras. Júlio Bueno e Peter aproveitaram uma vantagem do estatuto que associaram novos sócios, todos oriundos das arquibancadas. Alguns dos torcedores que ingressaram naquelas oportunidades migraram para o sócio futebol. Lembre-se que em 2013, se a eleição dependesse do momento do futebol, Siemsen teria sido massacrado. Ele venceu por margem maior do que em 2010.

Se eleito pretende rediscutir o acordo com o consórcio Maracanã ou fazer prevalecer o que foi acertado em 2013 e terá, a priori, mais 32 anos de duração?
Celso Barros — Primeiro, será necessário conhecer o acordo com profundidade. A diretoria do Fluminense é opaca. Eu soube pela imprensa que o acordo assinado inicialmente era bom, melhor inclusive do que o firmado entre o consórcio e o Flamengo. E soube também que, depois, o presidente Peter Siemsen, pressionado pelo consórcio, aceitou mudar o contrato impondo ao Fluminense custos e ônus que ele inicialmente não tinha.

Alguma possibilidade de o senhor se unir a uma das outras chapas antes da eleição?
Celso Barros — Sempre há. Ainda não escolhi o Vice Geral.