(Foto: Reprodução)

O Fluminense apresentou, na quinta-feira, o balanço referente ao ano de 2019. O documento apresentou um déficit superior a R$ 9 milhões, mas também mostrou que a dívida total do clube foi diminuída em R$ 30 milhões. Junto ao balancete, Mário Bittencourt anexou uma carta na qual afirmou ter encontrado o Flu “dilacerado”.

Na carta, o presidente falou sobre o momento complicado pelo qual passa o clube e também a sociedade diante de uma pandemia mundial (coronavírus).

 
 
 

Confira a íntegra do documento redigido pelo mandatário do Fluminense:

“Meus caros tricolores.

Escrevo esta carta em um momento que a história guardará como uma das maiores crises humanitárias de todos os tempos. Um evento que, pela magnitude, imprimirá um novo padrão de comportamento – e do qual deverá emergir uma nova consciência global. Impossível não pensar nos milhões de vítimas e nas famílias, em todo o mundo, que perdem seus entes queridos no exato instante em que escrevo essas linhas. Com eles me solidarizo. Dirijo o melhor de meus pensamentos. E sei que estou falando em nome de todos os que amam o Fluminense e que carregam a mensagem de valores profundos, de amor e de amizade que cantamos em nosso hino.

Falar de números, de metas cumpridas e de futuro, num momento como este, exige desprendimento. E eu gostaria de estar aqui agora falando das inúmeras conquistas que vislumbrávamos pela frente, até sermos atingidos pelo que se passa em nossas vidas neste momento. Mas, como ouvi recentemente, nós estamos todos em meio a uma tempestade, mas cada um em seu próprio barco. Tratemos do nosso.

Encontramos o Fluminense dilacerado. Sem métodos consistentes em sua administração, sem objetividade e concretude nas ações. Havia rastros de decisões mal tomadas por todos os corredores. O resultado é que dívidas, pendências processuais e inadimplências saltam à nossa frente quase todos os dias, sem que saibamos, com a exatidão necessária, a origem e a quem se aplica a responsabilidade. Esta foi a situação encontrada nos arquivos, nas gavetas e armários.

Havia pelo ar também um ranço de politização. Era como se o ambiente de disputa entre torcedores, que discutem seus times no calor da paixão, fossem também a tônica da relação entre as pessoas que convivem no dia a dia do clube. Não me refiro somente àqueles que compunham a administração, mas a todos que de certa forma a influenciam. Todos os que orbitam a vida do clube. Mesmo esses, vimos usando da retórica inflamada, atropelando os fatos e, muitas vezes, o respeito.

Mudar esse cenário e esse ambiente será o primeiro tijolo a assentarmos no grande edifício da reconstrução do Fluminense e na retomada de sua honrosa história, que reluz em cada canto de nossa lindíssima sala de troféus. Nosso caminho será o das decisões técnicas, da valorização do mérito de nossos funcionários sem importar a cor de suas preferências políticas internas e, por fim, a atribuição de responsabilidades condizentes com a posição de cada um. Dando continuidade aos projetos de gestões anteriores sempre que meritórios, sem omitir o papel de cada um.

Este documento está sendo entregue há exatos nove meses de uma gestão que se iniciou antes da hora. Vencemos as primeiras dificuldades conjunturais. Regularizamos, o quanto foi possível até agora, nossa folha de pagamentos. Colocamos em marcha um portal dedicado à transparência da administração. Criamos um novo programa do sócio futebol, ainda não lançado em razão do gravíssimo momento. No futebol, também buscamos o incremento gerencial, estabelecendo uma hierarquia mais clara e dando aos profissionais melhores condições de trabalho e decisão, procurando blindar o departamento contra turbulências desnecessárias. Aumentamos a capacidade de nosso scout, agregando novas funções e trazendo profissionais qualificados.

Reorganizamos a administração da sede, promovendo cortes de custos em todas as áreas, para que possamos investir no que vislumbramos como fontes de receita e resultados positivos no futuro. E começamos a reorganizar nosso departamento de comunicação e marketing, aproximando suas ações do cotidiano de nossos torcedores. No Departamento Jurídico, obtivemos vitórias importantes, como a redução de nossas dívidas e a gestão eficiente do passivo, levantando penhoras e regatando nossa credibilidade junto aos credores. Além disso, fechamos o acordo em que reduzimos cinco anos de pagamento das parcelas do Profut. Foram conquistas estruturais importantes. Mas claro, muito ainda há a ser feito. E será.

Nossos esportes olímpicos tiveram mais um ano de conquistas. Retomamos as atividades do parque aquático, também essencial aos sócios que frequentam nossa sede. Em Xerém, reorganizamos a gestão, colocando profissionais qualificados nos postos chave e começando a implantar, de verdade, a filosofia de valorização da base. Tivemos, em 2019, o maior número de títulos entre todos os clubes do Rio de Janeiro.

O documento que agora chega às suas mãos traduz o esforço de nossa equipe de finanças no sentido de organizar a casa desde o início. De entender decisões do passado que, como já disse, saltam à nossa frente ameaçando o futuro. E de encaminhar decisões importantes. Estamos trilhando o caminho da responsabilidade e do resgate da credibilidade.

A todos os que estão conosco nesse esforço, eu agradeço. Aos que de longe torcem pelo sucesso, renovo meus agradecimentos. E convido a todos que queiram o melhor para nosso clube, que venham nos ajudar, se incorporando à nossa filosofia de trabalho. E, mais uma vez, agradeço de forma reiterada à nossa torcida, que tem nos apoiado em momentos difíceis, dando inúmeras demonstrações de seu amor pelo clube. Por vocês, guerreiras e guerreiros, faremos nosso melhor.

Concluo renovando meus votos de saúde a todas as famílias.

Mário Henrique Guimarães Bittencourt”