Em termos de preparação física, o ritmo é outro ou também é intenso?
– A distância entre uma cidade e outra aqui na China é muito grande e torna nosso deslocamento um pouco mais cansativo. O ruim das concentrações aqui é a alimentação, pois se torna um empecilho para nós a comida chinesa. Mas, depois da chegada do Marcello Lippi, nossa dificuldade nesse ponto diminuiu, porque ele começou a pedir que a comida italiana fosse mais usada nesses períodos. Com a chegada do Lippi nossa preparação física também evoluiu bastante. Os treinos são mais intensos e a preparação para as partidas é muito superior. Essa diferença é refletida claramente no Campeonato Chinês, já que estamos brigando pelo terceiro título seguido, com 14 pontos de vantagem para o segundo colocado. Fato que não se repete na Liga dos Campeões da Ásia, que possui equipes fortes da Coreia do Sul e do Japão, com jogadores e treinadores estrangeiros, tornando a competição mais equilibrada.
O que o fez querer sair da China há alguns meses? E por que continuou? Como resolveu tudo?
– Meus primeiros meses aqui na China foram complicados. O clube era comandado por um treinador coreano e ele não me colocava para jogar. Ele tinha na cabeça dele que eu era muito importante para entrar em campo e correr riscos de me lesionar, então ele achava mais seguro me poupar de jogos do Campeonato Chinês e da Liga dos Campeões. Aconteceram jogos de estarmos vencendo por 2 a 0, ele me tirava do jogo e o time sofria a virada nos minutos seguintes. Alguns jogos ele vinha e conversava comigo, dizendo que ia me poupar de um jogo porque não achava necessária minha participação, só que ao mesmo tempo todos os titulares iam para a partida. Sempre fui muito profissional e nunca deixei de treinar ou me recusei a entrar em campo por causa das decisões deste treinador, mas isso influenciou diretamente no meu desejo e de minha família em retornar antes do término do contrato. Além disso, tive problemas com a casa que o clube me deu para morar. Tinha uma obra em frente à minha casa que deixava meu apartamento sem luz e água por algumas horas. A sala e os quartos ficavam com muita poeira por causa da construção, e isso afetava diretamente meu filho Benjamin. Esse transtorno vinha causando um grande desconforto em mim e em minha esposa, que não estava se sentindo feliz aqui na China. Felizmente essas coisas foram superadas e consegui desenvolver meu futebol pelo Guangzhou.
Seu filho, Benjamin, está lidando diretamente com a cultura chinesa, e você também. O que aprenderam de novo?
– O Benjamin está se adaptando bem, nasceu aqui e já está acostumado ao clima da cidade. Contratamos uma menina chinesa para ajudar minha esposa com ele aqui em casa, e ele se dá superbem com ela e consegue entender quase tudo o que ela fala, como quando ela fala para ele ir para o banho, comer ou para de fazer alguma brincadeira. É engraçado porque em casa a empregada fala chinês, eu espanhol e minha esposa português. Todo dia ele fica aqui no play com as outras crianças do prédio brincando e se dá bem com todo mundo. Trouxemos alguns DVDs infantis do Brasil para deixar passando para ele aqui em casa e ele adora todos.
Passaram por alguma história curiosa?
– O que mais deixa eu e minha esposa desconfortáveis aqui na China com o Benjamin é quando ele tem algum probleminha de saúde, como febre ou dores de barriga e queremos levar ao médico. Os médicos começam a conversar entre eles sobre meu filho em chinês e nós não entendemos nada e ficamos ansiosos querendo saber o que está acontecendo. Temos que esperar chegar um tradutor para explicar o que está acontecendo com nosso filho. Isso não aconteceria se fosse no Brasil ou em outro país que conhecêssemos o idioma.
A Liga dos Campeões da Ásia pode ser uma chance de jogar o Mundial de Clubes. Em 2008, você também ficou perto de tal chance, indo à final da Libertadores. Acha que é possível tal objetivo com o Guangzhou?
– O título da Liga dos Campeões da Ásia é uma possibilidade real que temos nessa temporada. Temos que melhorar algumas coisas ainda na equipe para buscar esse título, mas acredito que estamos no caminho certo. A competição possui equipes fortes da Coréia e do Japão e jogadores experientes. Nossa boa participação no Campeonato Chinês não significa que somos favoritos na Liga. O nível é totalmente diferente e as equipes são mais fortes. Seria bonito terminar minha passagem aqui na China conquistando todos os campeonatos da temporada, principalmente a Liga por ser o único que ainda falta para o clube.
Sobre um possível retorno ao Fluminense em 2014: quem sente mais falta um do outro?
– Eu sinto muita falta do Fluminense. É um clube pelo qual aprendi a ter um carinho muito grande e onde vivi momentos especiais. Foi pelo Fluminense que passei pela minha melhor fase na carreira e sem dúvida jamais vou esquecer isso.
Chegou a ser especulado como opção do Flamengo para o meio de campo. Jogaria no clube ou consideraria traição com o Fluminense?
– Eu tenho um respeito grande pelo Flamengo e por seu torcedor. Sempre fui muito bem tratado por todos após os jogos e nas ruas da cidade. O jogador de futebol deve ser profissional em qualquer clube que atuar, dar sempre seu máximo em campo e honrar a camisa do time que estiver defendendo. Não tenho problema com quem joga por dois clubes rivais, acho um sinal de que o jogador é profissional e fez bem seu trabalho. Mas todos sabem que tenho uma identificação muito grande com o Fluminense e que minha preferência sempre foi retornar ao clube.