jack2Como está a situação financeira do clube?

Jackson Vasconcelos: Quando chegamos ao Flu, em dezembro de 2010, o balanço apresentava um déficit de R$ 43 milhões. No primeiro ano, ele veio para R$ 34 milhões. No segundo ano, jogamos o déficit para 3 milhões e 200 mil e pouco. E agora, no terceiro ano, não temos o balanço fechado, mas os sinais estão apontando, a redução para R$ 3,15 milhões. A meta do presidente era trazer o clube para déficit zero e, a partir daí, ter processo de recuperação das contas. A partir do momento do superávit, passa a ter capacidade de investimento. A primeira questão foi aproveitar as receitas que recebíamos a mais – todos os clubes tiveram aumento de receita, especialmente da TV. A diferença é que a maioria dos clubes investiu o aumento de receita em jogadores e outras estruturas. Nós não. Presidente aqui tomou a decisão de pagar os impostos regularmente em dia e acertar as contas de tal forma que a gente conseguisse reduzir as despesas e organizar as contas de tal forma a recuperar a capacidade de pagamento primeiro. Quando chegamos, ninguém dava crédito ao Fluminense. Exemplo: para comprar carne a Xerém tinha de pagar à frente, antecipado. Não à vista. Não tinha crédito nenhum. Hoje tem de novo o cartão de crédito corporativo, tem a sua estrutura, é financiado pelo mercado, limpamos o nome. Acertamos isso.

 
 
 

Qual o valor devido em impostos?

Ocorre que de 2007 a 2010 o Flu não recolheu nenhum imposto. Nesse período todo. Os clubes têm uma personalidade jurídica que todos os impostos são referentes aos funcionários. IR na frente e INSS na frente. Não são parcelados. Só pode parcelar com lei especial, no caso a Timemania. Quando entramos no clube, havia dívidas não parceláveis, de 2007 a 2010, no valor de R$ 34 milhões. Elas foram executáveis. Passaram a processo de penhora. A Receita Federal, antigamente, penhorava as contas bancárias. Os clubes, então, criaram mecanismos para fugir disso. A Receita passou a fazer a penhora na fonte, antes de receber o recurso. O Flu teve recursos penhorados, por parte da Receita, dos direitos de transmissão. A TV paga mensalmente referente à cota anual. A partir daí, passamos a procurar a Receita para fazer um acordo. E, com isso, conseguiremos resolver a questão. Houve briga enorme, discussões… A verdade é que o Fluminense vem até hoje penhorado nos recursos dos direitos de transmissão.

É só isso? Ou há mais débitos?

Na entrada desta gestão, fizemos ainda um acordo na Justiça do Trabalho. O clube também não pagava ninguém, e a Justiça não confiava mais na gente. Durante o nosso primeiro ano, pagamos R$ 1 milhão por mês de passivo trabalhista para chegar no Ato Trabalhista. Com os recursos dos direitos de transmissão penhorados, passamos a ter dificuldade de pagar mensalmente. A lei diz que a Justiça do Trabalho tem privilégio sobre os débitos fiscais. A Justiça do Trabalho penhorou, nos direitos de transmissão, o valor de R$ 1 milhão. Então, os recursos da TV vão para a Justiça do Trabalho, a mensalidade, e estão penhorados pela dívida na Receita. Não conseguimos fazer o mesmo acordo do Vasco e do Flamengo. Há ação criminal do MP, que não entendeu porque o Fluminense foi excluído do acordo com a Receita. Há uma questão de isonomia. Isso criou um baque enorme nas contas do Fluminense. A Receita bloqueou o prêmio do Brasileirão mesmo com a gente pagando os impostos correntes. Há uma diferença brutal: durante seis anos, o Flu recolheu R$ 2 milhões e pouco de imposto corrente. No período do Peter, recolhemos R$ 130 milhões em impostos. Nos nossos três anos. Era absurdo não ter acordo.

O clube foi excluído da Timemania?

Neste período, então, com o bloqueio, tivemos problema de fluxo de caixa, tivemos dificuldade de pagar as parcelas da Timemania. Deixamos de pagar. A briga ficou pessoal. A Receita conseguiu na Justiça bloquear os valores da venda do Wellington Nem. E nos excluíram da Timemania. Mas voltamos pois houve uma nova lei. O Senado regulamentou a lei da Timemania. Nisso, retornamos pois ficou provado que não poderíamos ter sido excluídos. Ao retornar, a gente entende que os recursos do Wellington Nem deveriam ser liberados. Então, hoje, não liberou. Há discussão judicial. Todos os recursos de venda de atletas ao Exterior continuam sujeitos a penhora. Só não foram pois os clubes não pagaram. Por que? Pois os clubes não pagaram. Não foi intencional do Fluminense. Pois há divisão dos direitos econômicos. Se pagam, o Fluminense fica devedor dos parceiros. Essas pessoas não vão receber. Os clubes resolveram aguardar a solução. Continuamos vivendo. Recebendo recursos de outras fontes. Tivemos avanço com o Maracanã. No Engenhão, a gente pagava R$ 30 mil a R$ 40 mil por jogo. No Maracanã, saímos com R$ 300 mil. Deu uma equilibrada. Vivemos com a negociação de outros atletas no mercado interno. E há a expectativa do acordo com a Receita ou a liberação dos recursos do Wellington Nem.

O que acontecerá mais rápido?

A liberação do Wellington Nem é bem possível que aconteça. No ano passado disseram que recebemos, mas isso não aconteceu. O bloqueio é no Banco Central. Não tem como acontecer. Tivemos reunião hoje com os advogados sobre isso. O valor é de 9 milhões de euros, e o Fluminense tem 50% desse valor.

O que precisa ser feito para ter o acordo com a Receita?

A nossa dúvida é porque houve o acordo com Vasco e Flamengo e não com a gente. Há uma discussão no MP (Ministério Público). Há boa vontade da AGU (Advocacia Geral da União. É ela quem chefia as procuradorias, e entende que há de ter a isonomia. A partir disso, se concede as certidões de débito. É uma peça fundamental para o clube olímpico, outro braço do Fluminense. O clube de futebol não precisa, não se levanta recursos com isso.

Projetos foram atrasados por causa dos bloqueios?

O CT era para ter começado no final do ano, mas não conseguimos. A gente imagina que com a negociação, voltemos ao normal. O grande problema do bloqueio é no Banco Central. Então, não posso fazer negócio internacional. Somos um clube formador. O Fluminense está bem financeiramente, mas precisa abrir o anel no Banco Central. Se fizer isso, volta ao fluxo normal. Vendo jogador, paga o que tem de pagar. Foi assim que chegamos a um déficit de R$ 3 milhões.

Como está o projeto do CT?

O terreno foi cedido pela prefeitura. Foi o Peter quem discutiu isso com a prefeitura. A ideia inicial era de que o município entrasse com o terreno e com dinheiro. Mas isso não foi possível. Estamos na fase de elaboração do projeto. O terreno tem problema de acesso. Estamos trabalhando com isso e com a documentação. O Pedro Antonio, um colaborador nosso, era dono do Banana Golf. O terreno lá era o ideal para o nosso CT, o nosso sonho. Não foi possível pelo preço, mas nos aproximamos. Ele é um sujeito que está com a vida resolvida. Ele é quem toca o projeto, foi nomeado como vice-presidente de projetos especiais. Nome está no conselho, que deve liberar. O projeto está praticamente pronto. Vamos buscar parcerias ou avaliar ir com as nossas próprias pernas. A ideia é que custe R$ 17 milhões. É melhor conseguir um parceiro. Temos de definir. O CT vende como imagem. Queremos parceiros fortes para fazer a obra.

A Unimed teria participação?

Não, pelo modelo de parceria.

Contrato da Unimed vai até quando?

É de três anos, foi assinado ao final do ano passado. Vai até 2016. Mas ele tem uma característica: pode ser denunciado a cada ano. Isso significa que, se uma das partes não se sentir confortável, pode rever ou rescindir. Em novembro é o limite para as partes se manifestarem.

Qual o valor injetado pela Unimed no clube?

Não há valor exato. O modelo é de parceria. Quero trazer o jogador fulano. Eu não consigo. Então, a Unimed ajuda. Depende do elenco. À pedido da Unimed, não divulgamos. No ano passado, nosso elenco ficou mais estável. Mesma coisa deste ano. Como o Celso é torcedor e convive há 13 anos com o Fluminense, ele opina. Não há disputa, mas ele opina.

A tendência é de que sejam reduzidos os investimentos?

Quem vai decidir isso é o treinador ao avaliar o elenco. Hoje gastamos menos, somos mais racionais. Investimos muito na base e, com isso, se vai menos ao mercado. Hoje nosso elenco tem 50% de garotos. Indo pouco ao mercado, se precisa pouco da Unimed.

Qual o valor da folha do futebol?

A parte do Fluminense é de R$ 1,4 milhão. A da Unimed, não sei. Não passa por mim.

Tem eleição da Unimed neste ano. Houve contato com a oposição? Isso preocupa? Afinal, o contato com o Celso é normal…

Não houve contato. Não há preocupação. Temos tranquilidade. Temos contrato. As pessoas falam que o clube treme as pernas. É bom para o Fluminense, mas é melhor para a Unimed. Olha o que ela era há 13 anos. E vê hoje. Falamos de publicidade, de imagem. A imagem do Unimed nas camisas é de forma isolada. Eles estão sozinhos. Vejam este exemplo: Fernanda Montenegro, Pedro Bial, estavam na Bienal. Nós entregamos camisas do Fluminense a elas com a marca da Unimed. Fizemos o mesmo com o Papa. A marca se internacionalizou graças ao clube. Celso reconhece isso. Se o cara assumir na Unimed e não quiser mais o Fluminense, vamos ter problemas, vamos ao mercado, mas acho que a dor de cabeça deles será maior. O patrocínio é um grande negócio para eles. É um grande time, campeão nacional duas vezes em três anos, de primeira linha… Eles falam que não querem se meter em negócio de técnico. Acho uma estupidez, sinceramente. O que o Celso faz é defender o investimento dele. Estamos tranquilos. É melhor ter um tricolor lá, mas acho que não haverá rompimento.

Candidato da oposição fala que o valor é elevado. Cita R$ 70 milhões…

Isso nunca foi. Quanto vale 30 segundos na televisão? E 90 minutos? Todo o ano. É bem maior do que esse valor citado. A oposição… é uma estupidez dizer se é muito ou pouco dinheiro. Quanto vale o gol do Fred? Estar presente no Maracanã? Temos três jogadores na Seleção: Fred, Jean e Cavalieri. Quanto vale isso? Não farei defesa do Celso, mas não se pode dizer que é muito dinheiro. Se a oposição quiser, a gente testa. Tiramos a Unimed do Fluminense e ele vai ao mercado. E ele vai ver. Essa tese é uma estupidez. Há valorização enorme da marca.

Se a oposição vencer… o Fluminense sobrevive sem a parceria?

O que a Unimed tem conosco? Hoje tem um nível de exposição. Imaginemos a oposição ganhando. Se quiser ter um jogador só aqui, não queremos. Cada um vai cuidar a sua vida. A nossa parceria tem 13 anos, o clube, 112. Vamos viver sem ele como já vivemos. A parceria existe pois os dois lados se sentem à vontade. Não nos amedronta. Com o Celso, é melhor. Pois é tricolor e entende.

Como está o programa de sócios?

Aqui é Sócio Futebol. Tivemos problemas antes pois não dava direito a voto. Sem direito a voto, não vai a lugar nenhum. Agora é um sucesso. Saímos de um quadro de 4 mil sócios que pagavam para 27 mil que pagam. Há potencial de receita enorme. Se fez pouco em termo de publicidade, o que queremos fazer agora. Tivemos alguns filmes nos intervalos dos jogos com Fred. A meta é fechar este ano com 50 mil. E o mandato, com 100 mil. Com isso, temos o cadastro e a possibilidade de venda direta. São sócios que pagam a sua mensalidade, mas posso tê-los fiéis aos nossos produtos. Aí, não preciso de campanha. O Maracanã é um aliado. Parte de 43 mil lugares. Se consigo fidelizar, tenho receita e diminuo os meus problemas de caixa. Temos de fazer muita campanha para melhorar o nosso número. Temos problemas de estrutura operacional, de atendimento, mas estamos resolvendo. O presidente foi veloz e estava certo. Passamos um ano e pouco discutindo isso politicamente. Havia resistência. Ao aprovar, o Peter lançou no dia seguinte. Não tinha telefone para atender. Se não fizesse isso, não teria saído do papel. Estamos organizando melhor. Há jogadores que podemos usar. Conca, Walter, Gum… Depende muito do resultado de campo. No ano passado, foi perrengue. Se formos melhor neste ano…


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