Foto: Photocamera
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Bem articulado e com posicionamento firme, Rafael Sobis criticou a imprensa esportiva do Brasil. Na visão dele, a busca é por notícias negativas para vender jornal, dar audiência na rádio, tv e internet. O atacante do Fluminense tenta não generalizar, mas lembra do poder que a mídia tem perante os torcedores.

– Não é toda imprensa. Da mesma forma que uns fazem sempre a mesma pergunta, já pensando numa resposta para fazer a matéria, tem gente que faz bem, trabalha bem, procura estudar, tem gente que não pergunta as mesmas coisas. Eu acho é que… no Fluminense chama muito a atenção. Eu sempre observo. Perdemos contra o Inter e no primeiro treino tem bastante gente lá. Claro, vai ter uma coletiva e alguém vai ter que se explicar pela derrota (Fred falou na terça-feira). No jogo que nós vencemos tinham dois ou três. Por quê? Porque não vai interessar. Ganhou, ganhou. A imprensa faz a parte dela, mas acho que não tinha que gostar tanto assim de sangue, de notícia ruim. Tem notícia boa. Hoje, programa de esporte eu não assisto mais. É muito raro, porque jogador virou deboche. Antes a parte fera do programa era quando jogador fazia golaço. Hoje, é quando vai passar que o jogador errou o gol ou quando tropeçou. Não pode ser assim. Por mais que a imprensa esteja agradando a milhões de pessoas, eu tenho que saber que o que estou fazendo posso estar acabando com uma família. O cara que está sendo debochado tem família. Ele tem filhos que vão à escola. O futebol levou para uma comédia – critica o atleta, que lembra da influência da mídia na vida das pessoas:

 
 
 

– Hoje as pessoas acreditam muito na imprensa. Vocês têm um poder muito grande. Meu pai, por exemplo. Teve uma época que falaram que eu ganhava tanto. E eu não ganhava aquele tanto. Falei: “Pai, eu não ganho aquele tanto, ganho tanto.” Ele falou para mim: “Você está mentindo, saiu na imprensa.” Para você ver o poder que tem. Se largarem uma notícia errada sobre o Rafael Sobis, um milhão de pessoas vão ler aquilo lá. E se você se retratar e disser que não foi isso, sabe quantas pessoas daquele um milhão vão ler? Só dez mil. O resto ainda vai acreditar que você é o errado. É uma cultura brasileira. Está cansando. Eu vi um clássico inglês, grandes jogadores, com grandes salários. Foi um jogo horrível no primeiro tempo, e o cara falava: “É um jogo bem marcado, taticamente muito bem.” No fim de semana teve um jogo do Brasileiro, a mesma história, o mesmo cara comentava: “Aí você vê, time sem criatividade, jogo ruim, está faltando um camisa 10”. Era o mesmo estilo. Muitas vezes os caras dão mais moral para os de fora do que para os jogos de cá. O cara erra lá, é porque pegou mal na bola. Aqui, erra e fala: “Não pode errar, é uma vergonha.” Mas o futebol é o mesmo, os caras vão para lá e arrebentam.


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