HenriqueEm novo post, a Flusócio fez uma análise do orçamento do Fluminense em 2016, aprovado por unanimidade pelo Conselho Fiscal, que irá para votação na próxima terça no Conselho Deliberativo. Um dos dados de relevância foi o aumento na folha de pagamento.

De acordo com o grupo político de apoio à gestão Peter Siemsen, só com salários e encargos CLT, o clube gastará cerca de R$ 86 milhões. Segundo a Flusócio, isso muito se deve pela contratação do zagueiro Henrique, ex-Napoli (ITA), que recebe um salário alto e 100% na CLT. O total dessa rubrica representa 37% das despesas do clube, ao passo que 10% são relativos a direitos de imagem, pagos geralmente aos jogadores por prestação de serviços.

 
 
 

Veja abaixo o post na íntegra:

 

No próximo dia 22, o Conselho Deliberativo do Fluminense votará a aprovação do orçamento do clube para o ano de 2016, que já foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Fiscal. A principal diferença entre o orçamento de 2016 e o de 2015 é que o atual possui um viés mais agressivo na estimativa das receitas. Enquanto nos orçamentos anteriores da atual gestão o clube preferia deixar zerado o valor de vendas de jogadores (ou considerando apenas as vendas já efetivadas), o atual considera uma estimativa de R$ 25 milhões nesta rubrica. A este valor foi adicionada a venda do Gerson, que foi contabilizada apenas em 2016, gerando uma receita total da rubrica de quase R$ 96 milhões.

Além disso, o orçamento prevê um valor total de patrocínio na ordem de R$ 40 milhões, considerando os atuais e incluindo um master que o clube ainda não tem. Esta mudança de metodologia pode ser analisada por dois prismas diferentes. Em primeiro lugar, é estranho que o clube dê uma guinada em seu viés conservador na confecção da peça orçamentária. Afinal, o comportamento da receita de clubes de futebol oscila muito e, por isso, é muito diferente de empresas do mercado. Por exemplo, o analista financeiro de uma indústria de brinquedos vai orçar suas vendas com picos no dia das crianças e no Natal, quando há, historicamente um incremento. Outras, como por exemplo as de chocolate, orçam picos de receita na Pascoa e agências de viagens com picos nas férias escolares. Nestes casos, existe uma tendência logica e histórica na evolução anual na receita. Porém, isso não ocorre em clubes de futebol, onde existem diversos fatores que tornam esta linha muito imprevisível. Evidentemente, pela média histórica, um valor de R$ 25 milhões de venda de jogadores pode ser perfeitamente alcançado, como ocorreu em 2015 no Fluminense (vendas contabilizadas de Kenedy, Bruno e Conca). Porém, não seria estranho se o valor não fosse atingido, como ocorreu em 2014 quando apenas o zagueiro Digão foi vendido, gerando uma receita final muito pequena para todo o ano (pouco mais de R$ 5 milhões). Evidentemente que esperamos que isso não aconteça, porém se o clube repetir o valor de vendas próximo ao de 2014, as consequências serão catastróficas.

Por outro lado, ao estimar valores menos conservadores (porém, perfeitamente alcançáveis), a gestão torna seu fluxo financeiro mais flexível e evita situações pouco logicas como a que ocorreu no final do último ano, quando as despesas reais ultrapassaram as orçadas, o que acarretou num pedido de suplementação no CDEL, mesmo num cenário onde a receita real também ultrapassou a orçada numa ordem de grandeza muito maior que a das despesas, gerando um superávit real no fim do ano, o que não ocorria há décadas no clube.

Analisando especificamente as receitas, infelizmente, o Fluminense ainda não conseguiu uma mudança drástica em sua matriz, que continua muito dependente da cota de televisão (40%) e venda de jogadores (36%). Rubricas como mensalidades de sócios e bilheteria têm um percentual muito pequeno nesta matriz (6% e 4% respectivamente) e precisam urgentemente subir para que o clube consiga planejar seu fluxo de caixa de forma mais viável, tornando assim a matriz mais parecida com a de clubes europeus, onde receitas com bilheteria e associados possuem papel fundamental.

Já com relação às despesas, houve aumento considerável em diversas rubricas. Por exemplo, a linha de cessão definitiva de atletas representa 16% do total das despesas do clube, devido às contratações do início do ano e ao repasse de parte do valor da venda do Gerson aos investidores que possuem suas fatias nos direitos econômicos do jogador.

Com relação à folha de pagamento, o aumento foi ainda mais dramático, por conta da montagem de um elenco mais caro, como é o Fluminense de 2016. Só com salários e encargos CLT, o clube gastará cerca de R$ 86 milhões, valor inflacionado pela contratação do zagueiro Henrique, que recebe um salário muito alto e 100% na CLT. O total dessa rubrica representa 37% das despesas do clube, ao passo que 10% são relativos a direitos de imagem, pagos geralmente aos jogadores por prestação de serviços.

No final das contas, o clube apresenta um superávit operacional de R$ 29 milhões. Porém, após as despesas de atualização de juros e tributos, o orçamento apresentará um déficit de R$ 12 milhões. Isto ocorre pois o clube ainda sofre pela herança maldita de gestões anteriores que não pagavam tributos e obrigações trabalhistas. Segundo o fluxo de caixa, o Flu pagará em 2016 cerca de R$ 26 milhões apenas relativos às dívidas antigas, sem poder atrasar as contas e impostos do fluxo corrente. Por fim, o clube contabilizou em seu fluxo de caixa um investimento total de R$ 17 milhões para o CT da Barra, o que resultará num aumento no ativo e ganho técnico considerável nas condições de trabalho dos profissionais.

Considerando vendas extras de R$ 25 milhões e novo patrocinador master, o clube ficará com uma necessidade de caixa no fim do ano de cerca de R$ 18 milhões, que pode ser coberta por uma venda adicional de jogadores aliada a uma redução nas despesas no futebol, pois a folha encontra-se muito inchada quando relacionada com a receita atual do Fluminense.

Para nós, a situação é clara. O clube optou por ser mais agressivo na montagem do elenco e por isso inchou a folha, o que faz com que o clube obrigatoriamente venda uma de suas jóias. Assim, esperamos que este investimento dê certo e que o clube tenha um excelente resultado esportivo em 2016, o que implicará num efeito cascata para aumento das receitas com sócios, bilheteria, publicidade e premiações.

Apesar do evidente incremento nas despesas, num cenário de incerteza de vendas de jogadores e obtenção de novos patrocínios (este último fortemente influenciado pela atual condição macroeconômica do país), não encontramos indícios de erros nem de exagero na extrapolação de receita e inibição de despesas. Pelo contrário, a despesa foi orçada de forma correta, por mais traumática que seja, considerando o aumento da folha do futebol enquanto o aumento da receita não foi tão agressivo. Cabe ao clube correr atrás de um patrocinador master para manter as contas em dia e tentar emplacar uma boa negociação de jogador, se possível minimizando o prejuízo técnico inerente a qualquer venda do clube, o que poderia acontecer caso a venda viesse de algum jogador atualmente emprestado.

Por fim, não podemos deixar de ressaltar a qualidade e a transparência das informações. A cada ano que passa, o clube apresenta seu orçamento e contas de forma cada vez mais detalhados, separando rubrica por rubrica e dando ao conselho uma noção clara sobre o planejamento das contas do clube. Fica a dica para as gestões anteriores, que apresentavam seus números de forma mais fechada, dificultando a análise dos conselheiros.

Na última terça, dia 15/03, a Flusócio se reuniu para discutir o encaminhamento do grupo sobre Orçamento de 2016. Após todas as dúvidas sanadas com consultas ao Conselho Fiscal e ao Departamento Financeiro do Fluminense FC, a nossa plenária decidiu que vai aprovar a peça orçamentária, sem nenhum voto contrário. Como consequência, votaremos em bloco desta forma na reunião do Conselho Deliberativo marcada para 22/03.


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