Você torce pra um time de racistas! Olhe, meu amigo, você deve se envergonhar de odiar pretos e pobres! Ah! Torce pro Florminense? Time de viado.

Você provavelmente ainda escuta isso hoje. E certamente escutou na infância. Eu te respeito demais. E tenho muita admiração por ter seguidor tricolor. Porque, olhe, não foi fácil.

 
 
 

Enquanto tantos escolheram o conforto de torcer para os clubes que sempre contaram com a conivência da imprensa, dos governos, da grande massa, você se manteve firme, na vitória ou na derrota, dando de ombros pra verdadeira máquina de moer sonhos que a maioria fazia questão de levar pra sua porta, pro seu cotidiano.

Lendo as notícias de agora, vejo que tudo segue na mesma. Se não é o prefeito fazendo vídeo sem graça, cheio de deboche com a torcida do Fluminense, é a polícia especializada em estádios de futebol te chamando de torcedor de um Clube de Regatas Fluminense, que inventaram numa mistura bizarra de despeito, ironia e despreparo.

No sábado, apesar dessa gente, todos entraremos no Maracanã. Alguns, fisicamente; o resto, em alma. Os mortos, como já previa Nelson Rodrigues, deixarão sua tumbas e nos acompanharão. Seremos todos. Milhões.

Pois é na arquibancada que fazemos nosso altar. É nela que nos encontramos e nos reconhecemos, benzidos com pó de arroz. Ali reverenciamos nossos deuses, deixamos nossas queixas e professamos nossa fé.

Será uma tarde de reencontro. Batemos durante todo o ano numa porta com uma enorme placa na qual estava escrito grandeza. Agora aberta, nela entraremos vestidos de grená, verde e branco. Ritual, festa, consagração.

Sairemos campeões e lembraremos de nossos pais, mães, avôs e avós que seguraram nossas mãos lá atrás para que não desistissemos e nem envergássemos aos tantos encantos midiaticos para que deixássemos o Fluminense de lado. Choraremos por eles. Em gratidão.

Lavaremos a alma de uma torcida por um clube que foi levado pro IML com o coração ainda batendo. Celebraremos nossa força de ressurgir não com vergonha, mas com orgulho. Série C, eles falam. E dela pra conquista do Brasil e das Américas, nós responderemos.

Do alto de nossa grandeza, é necessário admitir que andávamos devendo. Anos difíceis, jogados fora, ora por falta de ambição, ora por incapacidade. Mas a coragem que andava ausente voltou, materializada num treinador meio doido, meio genial, às vezes médico, às vezes monstro, mas sempre corajoso.

E assim, um a um, enfileiramos campeões até aqui. River Plate, campeão da América; Argentinos Juniors, campeão da América; Olimpia, campeão da América; Internacional, campeão da América.

Sábado teremos outro a enfrentar, nessa que seguramente é a maior Libertadores da história. E venceremos. Porque somos melhores, porque seremos mais corajosos e porque nossa torcida se conectou ao time e quando isso acontece com o Fluminense não há nada que consiga segurar esse clube.

Não é confiança, é segurança. Tampouco é fé, é história escrita na marra.

Você merece demais. Chegou sua hora, meu irmão e minha irmã. Chegou sua hora. E é só o recomeço.

Às ruas com nossas cores. Até sábado. Vamos colorir esta cidade e carregar esse timaço até o apito final, quando desceremos as rampas do estádio em cortejo gritando É CAMPEÃO!

Para nossa alegria e desespero dos tantos e tantos que não entendem nossa ousadia de seguirmos vivos, conquistando o que pensaram ser impossível pra um time de racistas de merda.

EU TE AMO, FLUMINENSE FOOTBALL CLUB!