No último encontro entre Fluminense e Flamengo, Diniz conseguiu vitória com o Tricolor (Foto: Marcelo Gonçalves - FFC)

“A mudança. A capacidade de surpreender”. Essa foi a resposta de Marti Perarnau, o homem que escreveu os 2 livros sobre Guardiola, quando perguntado sobre a característica mais marcante do treinador catalão e a que faz com que ele vença tanto.

A resposta é curiosa porque se trata de um modelo com clara identidade. Em tese, sugeriria algo rígido, mas não. Só no seu trabalho no Bayern, estão catalogadas mais de 20 formações táticas utilizadas. E quem viu de perto, sabe que é realidade.

 
 
 

Eu não pretendo, ao fim desse texto, e espero não ser interpretado dessa forma, chegar a nenhuma conclusão. O texto é uma reflexão.

Amigos, o futebol, de novo, mudou muito em pouco tempo. O que servia ontem, talvez seja insuficiente hoje.

Quando o jogo de posição atingiu seu ápice com a Espanha campeão do mundo, campeã europeia e o Barcelona de Pep triturando adversários, a posse de bola virou uma febre.

Desde Charles Reep (o primeiro estatístico da história do futebol), o mundo da bola busca a fórmula pra ganhar jogos. Charles acreditava que uma equipe é superior na medida em que passa menos tempo tentando trocar passes e mais tempo levando a bola de forma rápida e eficiente para a área adversária.

Ao longo da história, obviamente, diversas equipes experimentaram o sucesso jogando das mais variadas formas, mas ter a bola, trabalhar a bola, a habilidade com a bola sempre exerceu um fascínio maior.

Com o sucesso do jogo de posição isso virou certeza. O jogo de posição exerceu grande influência, com toda justiça, no meio.

A Espanha, campeã em 2010. A Alemanha que, repleta de jogadores do Bayern, que foi buscar Guardiola, ganhou em 2014. Só que…

Os espaços estão a cada dia sendo mais e melhor ocupados pelas equipes.

Se o jogo de posição coloca 3 jogadores de frente, os adversários passaram a se defender com linha de 5, a fim de manter sempre dois zagueiros na área e conseguir fazer cobertura do um contra um no lado do campo ao mesmo tempo.

O estudo do jogo alcançou seu ápice. Movimentos, padrões, comportamentos… nada escapa dos scouts.

O Barcelona recentemente deu uma goleada no Real com 3 gols que iniciaram com roubada de bola e transição. O Barcelona, o berço da posse e passe.

O próprio Real ontem (8), goleia um adversário mais fraco, mas reparem como sai o primeiro gol. Bola roubada no campo ofensivo.

Reparem na maioria dos gols da campeã mundial na Copa. Vejam como Espanha e Portugal saíram do Mundial mesmo jogando quase 90 minutos com a bola no campo da seleção de Marrocos.

Os exemplos são muitos e quase diários… Bolas roubadas perto da área, transições, bolas paradas, já há algum tempo, têm sido responsáveis por uma quantidade de gols maior do que a construção propriamente dita.

Jurgen Klopp, outro exemplo de sucesso num outro modelo, moldou seu inesquecível Liverpool liberando seu meia mais habilidoso (Coutinho) pra acertar sua pressão pós perda. Dizia Klopp que seu melhor meia era a pressão. E de fato, seu time ataca sem a bola.

A palavra da ordem hoje me parece ser a intencionalidade.

Estar com a bola pode significar se defender. Estar sem ela pode significar atacar. Tudo depende da intenção. E vice-versa.

E você pode também ter dois times que ao mesmo tempo estão se atacando, um com e outro sem a bola. E é por isso que esse jogo é espetacular. Porque ele te permite quase tudo.

No Fluminense, enfim cheguei nele, o trabalho do Fernando na construção com a bola, estando o adversário em bloco baixo, foi o melhor time do país em 2022. Construiu demais, foram muitos gols dessa forma.

No entanto, faltaram alguns elementos comuns a times muito competitivos, como o Palmeiras por exemplo.

A pressão pós perda é feita por muito pouco tempo e depois a um recuo em bloco do time todo pra defender sua área. Movimento que faz pouco sentido uma vez que o jogo é encadeado e quando a bola volta pra você, o gol adversário está há muitos metros.

Com uma pressão pós perda mais frágil, fica mais difícil defender as costas da zaga quando está em linha alta. Será que o Fluminense será eficiente nesse quesito com Keno, Ganso e Cano?

A saída apoiada também é muito bem coordenada pra buscar os espaços quando o adversário avança. Mas há dois problemas, um de comportamento e outro posicional:

  • quando a bola chega onde precisa, o time não avança, não parte com ela. O time segura, o adversário volta e o Flu volta a circular. Lembram da intencionalidade? A exceção é Árias. Em 2022, os laterais faziam também esse papel (inclusive os ruins). Jorge fará? Ou será mais um a circular a bola?
  • normalmente André ou Martinelli descem pra fazer a saída de 3. Os zagueiros abrem. Isso ocorre em qualquer parte do campo, seja construindo lá de trás, seja no meio. Quando o André ou Martinelli soltam a bola e saem pro jogo, o centro da defesa fica completamente desguarnecido. Isso já trouxe problemas em 2022 e continua trazendo em 2023. Ainda tá fresca a memória do Nino aberto na direita no primeiro gol do Volta Redonda. Ou do atacante do Madureira entrando sozinho com o goleiro no primeiro tempo do jogo.

A continuidade do bom trabalho do Fernando é o grande trunfo do Fluminense para 2023. Mas é necessário que a esse ótimo trabalho sejam incorporados novos elementos. Esses elementos citados, no futebol atual, são comuns a todos os campeões.