(Foto: Lucas Merçon/FFC)

As notícias oficiais dão conta da desistência do Flamengo no interesse de contratar o Pedro. Não creio que exista um único tricolor que possa cravar que de fato os caras tiraram o time de campo. Há precedentes. A operação é conhecida: diante da negativa do clube que mantém contrato com o jogador, o time da Gávea passa a articular os contatos diretamente com atleta e seus agentes, tentando criar atmosfera que torne inviável a permanência no clube atual. Já conseguiram isso recentemente.

Há alguns pontos que, apesar de óbvios, merecem destaque.

 
 
 

O primeiro: tricolores somos nós. Sou eu, são vocês. Jogador de futebol gosta de dinheiro e troca de camisa como quem escova os dentes de manhã. Pedro é apenas mais um. Eu o compreendo. Sinceramente o entendo.

O camarada ganha duzentos mil no Fluminense. O Fluminense tem histórico constante de atraso de salários. O mês costuma ter oitenta, noventa dias. Sujeito tá lá, jogando Playstation em casa e recebe a ligação do empresário dizendo que o rival quer pagar quatro vezes mais. E em dia. Nós bateríamos o telefone. Ninguém aceitaria vestir aquele pano de chão. Mas nós… Nós somos tricolores. O cara balança.

Agora, se por um lado eu compreendo, por outro eu não posso concordar. Os sentimentos coabitam sem qualquer problema.

Pedro deve ao Fluminense milhões de vezes mais que o Fluminense deve ao Pedro.

Já ganhou o que pelo clube? Já fez gol do título? Já deu alegrias ao torcedor? O belo jogador ficou parado quase um ano e tenho certeza de que, em caso de inadimplência, não deixaria de cobrar cada centavo contratualmente devido. Direito dele.

E direito do clube querer manter o que foi contratado.

E aí vem o segundo ponto. Ora, quando o Fluminense formou o jogador – ironicamente expulso do Flamengo na base -, quando deu oportunidades, quando fez contrato na casa das centenas de milhares de reais, quem assumiu o maior risco? Obviamente que foi o clube. E se o jogador não vingasse? E se machucasse gravemente no curso do contrato (como acabou acontecendo)? Quem fica com o abacaxi? Ninguém o obrigou a assinar nada. E vamos combinar que o salário do atleta está longe de ser considerado uma ninharia.

Está na hora dos dirigentes do futebol brasileiro posicionarem os clubes acima dos interesses de jogadores e seus empresários, essas aves de rapina que veem cifrão onde vemos bola.

Mário fez isso. Começou com o pé direito. Sabe o jogador que tem em mãos e sabe que, evidentemente, o Flamengo não é a única oportunidade de negócio para que o clube lucre com o jogador que formou.

Por que o clube liberaria um de seus melhores atletas para um dos rivais regionais? Para fortalecê-lo? Para irritar seu torcedor na via de um apequenamento institucional com o qual convivemos nos anos de chumbo da porcaria da Flusócio?

Depois que inventaram o “Tá ruim” o “tá bom” ficou cada vez mais raro. Na dificuldade enorme que vive o Fluminense, uma crise sem precedentes, minha esperança é que o clube seja administrado de forma responsável, mas sem a muleta de que tudo é justificável para lidar com o “tá ruim”.

Cada dia chega uma nova execução no jurídico do clube. Execuções que daqui a pouco viram penhora. O caixa sangra. Mas vamos continuar fazendo as mesmas cagadas de sempre, vendendo o almoço para comprar o jantar?

O Fluminense tem que romper com esse ciclo. Tem que dizer: não estou à venda. Tem que levantar o nariz e deixar que todos saibam que, apesar das notórias dificuldades, a conversa será com clube grande.

Sobre o jogador, que de fato fez de tudo para sair, o torcedor tem que ficar atento. O moleque sabe jogar. Tem futuro enorme e se mantiver o padrão anterior à lesão, daqui a pouco estará fazendo dupla de ataque com um desses jogadoraços dos times de ponta da Europa. O torcedor tricolor não perdoará falta de dedicação e empenho.

O episódio deixou claro que era bravata aquela declaração do Pedro de que gostaria de virar ídolo no clube. Na primeira oportunidade refugou. Babaquice. Paciência. Bola pra frente. Jogue bola, respeite a camisa que te projetou pro mundo do futebol, seja responsável com a torcida que te acolheu e siga fazendo gols.

Para o Mário o meu recado é de satisfação com a conduta. Camarada deve estar sem dormir na busca por dinheiro para fechar os rombos de Abad e companhia. E mesmo assim optou pelo caminho mais difícil: dizer não ao dinheiro que diminuiria o clube e tentar alternativas que nem sabemos se irão se concretizar.

O Fluminense precisa de coragem. Precisa buscar o “tá bom”.

E nosso centroavante precisa entender que serão os gols que decidirão se ele será jogador do Vila Nova ou do Barcelona no futuro.

Faça-os e ficará tudo bem.

Quanto ao Flamengo, que provavelmente deve estar agindo nos bastidores – uma regra na centenária história do clube – para aliciar o atleta, pego a ótima dica do amigo Leonardo Bagno: pegue essa grana milionária que está disponível e acerte as indenizações com os familiares dos meninos mortos pela falta de estrutura dos conteiners que alojavam garotos em busca de um sonho. Muitas famílias ainda brigam na justiça e não viram um centavo de indenização.

Abraços tricolores.

CURTA

– Eu simplesmente não aguento essa Copa América. Que coisa mais insuportável.