O ano do Fluminense foi conturbado dentro e fora de campo. Nas quatro linhas, apesar de ter alcançado a semifinal da Copa Sul-Americana, o Tricolor quase foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e escapou apenas na última rodada. Já fora dos gramados, as dificuldades financeira foi o ‘calcanhar de Aquiles’ da gestão de Pedro Abad, que encara um processo de impeachment movido pela oposição.

Após o término da temporada, a Flusócio, grupo político que apoia a gestão do presidente Pedro Abad, fez um balanço de 2018 em seu site oficial. Na publicação, explicou as dificuldades financeiras que afetaram o Fluminense e se defendeu das críticas, além de afirmar que a oposição levou o ódio para a arquibancada.

 
 
 

Confira a publicação: 

“Numa era em que espalhar leviandades e fake news se tornou algo comum, a irracionalidade e o ódio propagado por uma oposição interna apenas destrutiva infelizmente se alastrou para a arquibancada, tornando-se algo dominante em nossa torcida. Como a desinformação é rotina e os resultados no futebol não estão à altura do Fluminense por conta das circunstâncias financeiras que limitam o investimento, então a beligerância ganha corpo.

Mas o ano foi de dificuldades institucionais imensas – muitas criadas por fatores externos totalmente alheios a essa ou qualquer outra diretoria. Dentre as quais podemos citar:

1) O bloqueio de 15% de todas as receitas do clube em 2018, determinado pela Procuradoria da Fazenda Nacional (PGFN). Esta soma já superou R$ 30 milhões do orçamento previsto para este ano (lembrem-se que ficamos o ano todo brigando pra não chegar a 3 meses de atraso com esse elenco que hoje custa R$ 3,5 milhões, então esse valor representa quase um ano de pagamento em dia a todos os jogadores).

Tal bloqueio é referente à multa aplicada pela PGFN por conta do imbróglio de 2013, pois o Flu deu entrada no dinheiro da venda de Wellington Nem para o Shaktar Donetsk. A PGFN entende que o clube descumpriu uma ordem judicial que bloqueava todas as entradas de receita (cotas de TV, bilheteria, etc), mas o Fluminense alega que esta entrada específica não estava bloqueada, tanto foi assim que o dinheiro seguiu seu fluxo normal vindo do exterior até a conta do clube. É um assunto que ainda está sendo discutido judicialmente, mas pouca gente se dá conta que a quantia em 2013 foi essencial para que o clube não tivesse fechado as portas, por exemplo perdendo todos os jogadores na Justiça.

Além disso, o bloqueio de 2013 só aconteceu por conta do não pagamento de impostos e das parcelas do Timemania dentre os anos de 2007 e 2010, durante toda a gestão Horcades.

Ainda vale destacar que essa foi uma ação totalmente inesperada da PGFN, dado que nas vendas de Kennedy (2015), Gerson (2015) e Richarlisson (2017), não foi tomada qualquer atitude de penhorar receitas do clube por conta de problemas fiscais.

2) A infelicidade de jogador e clube na grave lesão no joelho do atacante Pedro, em agosto, logo após sua convocação para seleção brasileira e nas vésperas da última semana da janela de transferências. Na época, o atacante era pretendido por diversos clubes europeus, que disputavam sua contratação e faziam o valor da provável negociação subir. O Flu negociava a venda do seu principal atleta, mas com a manutenção dele no Brasil por mais algum período. Com a lesão, o Flu ao mesmo tempo ficou sem o jogador em campo e sem a alta receita extraordinária que faria a ano financeiro terminar de maneira tranquila. Vale lembrar que naquele momento o Pedro já tinha sido artilheiro do Carioca, era o artilheiro do Brasileirão com folga e ia jogar pela seleção com perspectiva de ser até o centroavante na Copa América em 2019. A título de exemplo, se o Fluminense ficasse com valor líquido de 10 milhões de euros nessa negociação (lembrando que o Fluminense tem 50% dos direitos econômicos), seriam mais de R$ 40 milhões para o clube em 2018. Importante perceber como teria sido diferente o 2o semestre com esse elenco que custa cerca de R$ 3,5 milhões por mês.

3) A partir da não venda de um atleta na janela de agosto/2018, obviamente as dificuldades financeiras se acentuaram. Soluções alternativas foram adotadas, como negociar o atleta João Pedro, do Sub17. Nenhuma diretoria toma este tipo de atitude sem angústia, pois o jogador é uma grande promessa das divisões de base e nem jogou ainda no time principal do Flu, ou seja, no futuro pode valer muito mais. A negociação de um acordo com o Palmeiras no caso Scarpa também ajudou a pagar duas folhas de pessoal, bem como a venda do atleta Douglas para o Corinthians, que bancou outra. Infelizmente a não venda do Pedro colocou o Fluminense numa situação de dificuldade para fazer essas negociações, mas o risco de não concluí-las significava chegar aos 3 meses de salários atrasados e perder jogadores na justiça no trabalho.

4) Lesões longas de jogadores importantes para o elenco, como o próprio Pedro, Gilberto, Ibañez e Airton também atrapalharam o Fluminense em diversos momentos da temporada. Convocações de Sornoza para a seleção equatoriana idem, pois deixaram o time várias rodadas sem o seu principal e único jogador de armação de jogadas. Aqui também cabe uma justa crítica à formação do elenco, que ficou carente de armadores.

5) As pessoas entendem o Fluminense como uma instituição de futebol, e que apenas tem custos com este departamento. Mas o passado de dívidas exponenciais contraídas a partir da década de 90 impõe ao clube parcelamentos importantes, como o Ato Trabalhista (cerca de R$ 1,5 milhão mensais, quase R$ 20 milhões anuais) e também outros parcelamentos relevantes como o PROFUT, além de inúmeras dívidas bancárias que precisam ser pagas sob pena de penhoras diárias de caixa, e punições esportivas na FIFA, no caso de dívidas com outros clubes (as punições com a FIFA podem chegar ao ponto de impedir o Fluminense de fazer negociações com o exterior, o que seria fatal para o clube). Logo, em paralelo a manter o salário dos jogadores em dia, há diversas obrigações de grande risco para o clube que devem ser pagas ao mesmo tempo.

6) O Ato Trabalhista compreende todos os processos trabalhistas que tinham o Fluminense como réu até novembro de 2011. Com esse instrumento, o Flu acordou com o TRT-RJ o depósito de um percentual de suas receitas num fundo de credores, então a Justiça do Trabalho consegue pagá-los em ordem de execução dos processos, sem que as penhoras de caixa aconteçam simultaneamente. Mas o problema são os processos que passaram a ser conhecidos após 2011: estes não estão dentro do AT e podem bloquear recebíveis diretamente das contas do clube, a qualquer momento. Neste ano, por exemplo, o Fluminense teve dinheiro bloqueado para pagar Humberto Palma, gerente executivo do clube na gestão Horcades, que ganhava perto de R$ 80 mil mensais na década passada. Houve também bloqueios para pagar o lateral-esquerdo Dieguinho, que jogou no clube em 2009 e o zagueiro Thiago Gosling, que atuou em 2006. Tais processos e outros colocam todos os recebíveis do Fluminense em risco, prejudicando a rotina de pagamento das despesas correntes (CLT, direitos de imagem, fornecedores, prestadores de serviços etc).

7) Muitos questionam a dispensa dos atletas Marquinhos, Diego Cavalieri, Henrique e outros, no início do ano, mas falta dizer qual seria a alternativa. Não discutimos a forma de dispensa, que foi mal conduzida, impessoal e objeto de pedido de desculpas do próprio Presidente Pedro Abad, mas a sua imperiosa necessidade. Com estes atletas, a folha do futebol era de aproximadamente R$ 7 milhões, impagável hoje para o Fluminense. Com a saída deles, a folha foi reduzida à metade, mas mesmo assim o Flu tem dificuldades para pagar. É pura matemática. Se com muito esforço conseguimos pagar até o mês de outubro com o custo futebol de R$ 3,5 milhões, então com uma folha de R$ 7 milhões teríamos perdido todo o elenco no 1o semestre (vale lembrar que as potenciais premiações do Carioca e fases iniciais da Copa do Brasil e Sulamericana são baixas para cobrir altas apostas). Alguns argumentam que poderiam ter sido realizados empréstimos, sem refletir se seria razoável pagar parte dos salários (de R$ 150 mil a R$ 200 mil reais mensais) para jogadores reforçarem clubes mais fortes financeiramente que o Fluminense. Na época, nenhum outro clube do Brasil admitia assumir sozinho os altos salários destes atletas, totalmente fora da realidade brasileira se considerarmos seus desempenhos recentes. As pessoas se esquecem que o erro sempre ocorre na hora de contratar, com negociações ruins, salários altos e contratos longos, transações realizadas por alguns que hoje se colocam como alternativa política para o Fluminense.

8) Com a mudança no padrão de custos do Maracanã, passamos a ter um match day economicamente negativo. Poucos jogos terminam com borderô no azul, infelizmente. Tal mudança foi determinada pelo TJ-RJvia liminar, acatando pedido da Odebrecht para que fossem mantidas as condições de um aditivo com prazo determinado, que valeu por apenas 2 jogos, celebrado em nov/2016 para reabrir o Maracanã, que estava fechado desde as Olimpíadas, sem previsão de reabertura. A concessionária alega desequilíbrio no contrato com o Fluminense após o Governo Sérgio Cabral ter removido do plano de negócios o edifício garagem que seria construído no lugar do Museu do Índio e o shopping que seria construído no lugar do estádio de atletismo Célio de Barros. Tais mudanças foram feitas após a concessão, impactaram a lógica do negócio e dão argumentos à Odebrecht contra o Flu, que segue lutando na Justiça. Resumindo, temos um verdadeiro absurdo em que o Fluminense “paga pelos erros do governo”. Se o Fluminense faz sua parte do contrato e o governo não faz a dele com a Odebrecht, o governo é que deveria pagar, e não o Fluminense. Dessa forma passamos de um contrato que sempre dava lucro para um que frequentemente dá prejuízo. Só para exemplificar, há meses em que o prejuízo do Fluminense se equipara ao salário de um jogador do nível do Fred. Mas infelizmente muitos optam, por oportunismo político ou desinformação, por culpar as diretorias do Fluminense (atual e anterior) numa situação em que o próprio clube é vítima das circunstâncias.

9) Alguns falam irresponsavelmente que nós da Flusócio temos “cultura de apequenamento institucional”. Talvez se esqueçam que as gestões eleitas por nós conquistaram o memorável título brasileiro de 2012, o carioca 2012, a Primeira Liga 2016, levantaram um CT, levaram o Flu à disputa de 3 Libertadores seguidas e colocaram Xerém como uma das potências nas divisões de base do Brasil. Possibilitaram ainda a abertura do clube pro torcedor, quando através de uma mudança estatutária liderada pela Flusócio foi criada a categoria Sócio Futebol, com direito a voto direto pra presidente, algo inédito no país.

Criticam o momento atual como se a opção por um time modesto fosse uma escolha da diretoria e não uma necessidade econômica institucional. Para que não reste dúvidas, a diretriz para 2018 foi contratar apenas atletas sem custos de aquisição, com teto salarial baixo e contratos curtos, pois se a maioria é aposta, então precisam antes provar seu valor para fazer contratos longos, que onerem o clube no longo prazo, algo que foi ignorado pelos gestores do futebol em contratações recentes que culminaram com as dispensas do início do ano. A Flusócio defende que seja feito o que normalmente fazemos tanto na gestão da nossas casas como no nosso próprio negócio – se o nível de receita caiu e/ou os gastos dívidas subiram, deve-se adequar a essa realidade até poder ter fôlego para retomar grandes investimentos.

10) Criticam os valores das negociações realizadas pela gestão como se fosse incapacidade negocial e não fragilidade institucional. Se esquecem que o poder de barganha não pertencerá ao Fluminense enquanto estiver precisando desesperadamente de dinheiro, endividado e frágil em suas receitas. O mercado logicamente explora isso na hora de fazer as propostas. Como comparativo vale a reflexão sobre o rival da Gávea, que só passou a auferir grandes cifras em transações de seus jogadores após atingir seu reequilíbrio econômico. Antes disso, a maior venda da história havia sido o lateral-esquerdo Jorge, por 8,5 milhões de euros, em janeiro de 2017.

11) As críticas à falta de patrocinador master nunca avaliam o contexto que estamos inseridos desde 2014, na maior crise econômica da história do Brasil, com inúmeras empresas quebrando ou no mínimo diminuindo drasticamente seus investimentos em publicidade. Até 2016, os clubes ainda tiveram a concorrência das Olimpíadas na busca por venda de espaço publicitário. A dificuldade de mercado também pode ser conferida quando se olha para camisas rivais como Vasco e Corinthians, que também passaram toda a temporada 2018 inteira sem estampar nenhuma marca no principal espaço de seus uniformes. A CEF é a patrocinadora master para a maioria dos clubes da Série A, mas para obter dinheiro público a instituição esportiva precisa estar com os impostos em dia. Só assim se consegue as Certidões Negativas de Débitos (CNDs). Recuperá-las tem sido um objetivo da gestão Abad, que nos últimos meses pagou R$ 28 milhões em impostos atrasados.

Protestos para tentar destruir produtos institucionais como a Flu Fest e o DNA Tricolor, pregação de abandono em estádios e saída de sócios, quebra-quebra do patrimônio do clube, vazamentos de números de telefone, agressão no Conselho Deliberativoinvasão de treinamentosfalta constante de postura e isenção por parte do Presidente do Conselho Deliberativo, Fernando César Leite, intimidações e ameaçascontra a vida dos nossos integrantes e nossas famílias. Infelizmente a política do clube hoje se tornou um conjunto disso tudo. Nós repudiamos este modelo nefasto de fazer oposição, que acaba afastando as pessoas da política interna e também das arquibancadas.

Alguns críticos chegam ao cúmulo de atacar patrocinadores que chegam ao Flu para ocupar espaços menores no uniforme. Estes parceiros deveriam ser abraçados, para avaliarem aumentar seu investimento, tal qual aconteceu com a Unimed, que começou timidamente em 1999 até chegar num grande patamar anos depois. Mas parte da oposição tem atacado tudo que é feito nessa gestão, preferindo passar para o mercado o recado de que “ou já começa com investimentos no patamar da Unimed, ou vai ser atacado pela torcida”. É esse o tipo de comportamento que o torcedor espera de quem se propõe a assumir o clube?

No jogo contra o Ceará, uma mobilização que deveria ser aplaudida foi vazada para a imprensa, de maneira pejorativa: o esforço de premiação bancado por empresários tricolores, mesmo expediente já usado em vários clubes em momentos de dificuldades financeiras, como no próprio Fluminense, em 2017, no jogo contra a Ponte Preta (vitória por 2×0). O vazamento de esforços internos na tentativa de mitigar o problema financeiro expõe os atletas publicamente e trabalha contra o sucesso do Fluminense. Cabe ao torcedor avaliar se isso é atitude de quem deseja o bem da instituição.

Temos erros sim. As gestões que elegemos erraram ao trocar Adidas pela Dry World, mas o mesmo ocorreu com o Atlético-MG, Goiás e até com clubes da Premier League. Errou-se também na aquisição do Robinho, um investimento alto para aquele momento. Errou-se em realizar muitos investimentos simultâneos no departamento de futebol em 2015 e 2016, algo que condenou o fluxo de caixa para a gestão seguinte. Podemos citar outros erros, mas só erra quem está lá. Nós corroboramos com essas críticas.

Mas as acusações de roubo infelizmente são repetidas como mantra por pessoas sem quaisquer escrúpulos, leviandades que só encontram eco porque alguns se aproveitam da insatisfação do torcedor com o time para propagá-las.

Passado um 2018 de dificuldades imensas, o Flu ao menos conseguiu conquistar a Taça Rio, chegar à semifinal da Copa Sulamericana (3a melhor campanha da nossa história em competições CONMEBOL) e terminou em 12o lugar no brasileiro, algo que não está à altura do Fluminense, mas que ao menos foi a melhor colocação dos últimos 4 anos, mesmo trabalhando com a folha de pagamento bem inferior às demais temporadas. Também devemos lembrar que esta posição é melhor do que a alcançada pelo Flu no campeonato brasileiro em vários dos anos em que contou com o forte investimento da Unimed, tais como 2013, 2009, 2008, 2006 e 2003. Em todas estas temporadas nosso clube infelizmente também brigou contra o rebaixamento.

Em resumo, não se trata de pedir apoio à gestão, mas é fundamental o apoio do torcedor à instituição para reverter essa rotina de coadjuvante. O futebol profissional demanda investimento e quem financia qualquer clube é a força da sua própria torcida. Para reagir precisamos da união e engajamento de todos tricolores tanto dentro como fora do clube. Associação em massa, presença nos estádios e consumo constante de produtos institucionais, se for desta forma o reequilíbrio econômico virá a reboque, bem como os investimentos no time que nos proporcionarão o retorno às grandes jornadas e títulos.

#SejaSocio
#VemProJogo
#SomosFluminense”