Ganso vem sendo criticado pela torcida (Foto: Mailson Santana - FFC

O Fluminense luta para não cair no Campeonato Brasileiro, vive crise fora de campo e Ganso, ultimamente, tem sido muito cobrado pela torcida. Em sua coluna no jornal O Globo, o jornalista Carlos Eduardo Mansur fez uma análise de tudo que envolve o atual momento tricolor. Em sua visão, o camisa 10 está muito longe de ser o maior problema do Flu.

Confira a íntegra da coluna escrita por Mansur intitulada: “Num Fluminense Frankenstein, Ganso é o menor dos problemas”

 
 
 

Já se tornou habitual que, em grandes clubes brasileiros, os maus resultados precipitem a busca por um responsável. É preciso vincular o problema a um CPF, afinal, o exercício de apontar um vilão cria a ilusão de simplicidade para a solução. O Fluminense, que vive seu calvário no Campeonato Brasileiro, cumpre fielmente o roteiro.

Num ano que já teve dois treinadores demitidos e uma gestão presidencial interrompida antes da hora, o olhar logo se voltou para o campo. E chega a ser inacreditável que João Pedro, tão jovem quanto promissor, tenha sido escolhido como um dos alvos da arquibancada. O outro, Ganso. Sobre ele, personagem bem mais complexo, vale a pena se deter um pouco mais.

É fato que Ganso realizou menos do que se esperava, que sua falta de competitividade foi e continua sendo um empecilho para treinadores. Por mais que se admire suas virtudes com a bola, é preciso ter em mente que não são poucos os técnicos que já se desapontaram com ele: a lista inclui brasileiros, o argentino Jorge Sampaoli e até o francês Christophe Pélissier no modesto Amiens.

Ganso, pelo talento que tem, atraiu para si expectativa alta e frustração. Mas ainda assim, quando falamos do Ganso do Fluminense, estamos lidando com o segundo jogador do elenco que mais dá passes para finalizações e o segundo com maior média de passes. No tricolor atual, é o menor dos problemas.

Desde a demissão de Fernando Diniz, cujo time tinha seus desacertos, o Fluminense perdeu o rumo. Recorreu a Oswaldo de Oliveira, que jamais praticou algo próximo do estilo do antecessor, e agora vê em Marcão alguém que aparenta disposição em reeditar apenas aspectos isolados do modelo Diniz. O Fluminense perdeu algumas das ideias originais e não consolidou novas, até se transformar numa espécie de Frankenstein futebolístico.

Marcão tenta fazer com que o time volte, após o intervalo no período de Oswaldo, a construir com toques desde a defesa. Mas como já não há apoios, opções de passe, erra demais. O Fluminense, em parte por uma herança de Diniz, ainda é melhor com a bola do que sem ela, ainda cria chances em bom número. Mas, em muitos momentos, repete a falta de contundência do início do ano. Em outros, tornou-se apressado, precipita passes verticais mesmo sem opções. Quando pressiona na frente, sua linha defensiva não avança junto, gerando latifúndios à frente da área. Pecado ainda mais grave quando o time acumula perdas de bola, expondo a forma como se espaça e o quanto sua recomposição defensiva é caótica — justiça seja feita, o problema já existia com Diniz.

Neste cenário, meias precisam cobrir porções extensas de campo. Ganso tem dificuldade para se enquadrar. Ele e Nenê, juntos, fragilizam ainda mais a equipe. Porque o contexto em que esta equipe nunca termina de ser montada é a questão de fundo. E o contexto não ajuda: crise econômica, salários atrasados, cobranças de torcedores no CT…

A clubes na situação do Fluminense, a realidade do futebol impõe o exercício da maximização de seus escassos recursos. Para tanto, é preciso ter projetos esportivos contínuos e não picotados. O ano tricolor permitiu o crescimento de individualidades como Caio Henrique, Allan e Daniel. Mas o time chega a dezembro como um rascunho. E pior, imerso numa luta pela sobrevivência.